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O que acontece com o coração de um astronauta após passar quase 1 ano no espaço?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 12 de Abril de 2021 às 16h40

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Alexandru Acea/Unsplash
Alexandru Acea/Unsplash
Tudo sobre NASA

Cientistas já sabem que viver longos períodos em um ambiente de microgravidade pode afetar o corpo humano de forma negativa, e em diversos aspectos. Por exemplo, a cabeça tende a inchar, os glóbulos oculares a achatar e até os ossos a enfraquecer. Agora, um estudo feito com o astronauta da NASA, Scott Kelly, verificou que as dimensões de seu coração foram reduzidas — e os cientistas agora buscam entender de que forma essa redução pode impactar a sua saúde.

Publicado na revista científica Circulation, o estudo relatou os efeitos da microgravidade após 340 dias no espaço dentro da Estação Internacional Espacial (ISS), entre os anos de 2015 e 2016. De forma geral, o órgão teve a sua massa cardíaca reduzida em pouco mais de quarto (27%) quando comparada aos dados pré-viagem. No entanto, preliminarmente, nenhum efeito nocivo foi identificado.

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O que um coração menor pode significar?

De acordo com o principal autor do artigo e professor de medicina da Universidade do Texas, Benjamin D. Levine, o astronauta Scott Kelly "se saiu muito bem ao longo de um ano” após o retorno da viagem espacial. “Seu coração se adaptou à gravidade reduzida”, explicou o médico sobre a capacidade de adaptação feita pelo próprio organismo. Por outro lado, quando voltou para à Terra, o órgão “não se tornou disfuncional".

Uma das ideias por trás da redução de tamanho do coração é de que, sem a força da gravidade, o órgão não precisaria bombear com tanta força e, como qualquer outro músculo, perde parte do seu preparo devido ao uso menos intenso. Vale ressaltar que a diminuição ocorreu mesmo com uma rotina diária de exercícios de condicionamento físico ao qual Kelly foi submetido durante sua estadia na ISS.

Durante seis dias por semana, o astronauta corria em uma esteira por cerca de 30 a 40 minutos ou pedalava em uma bicicleta ergométrica. Além disso, malhava em uma máquina que simulava o levantamento de pesos. Só que essas atividades foram eficazes em limitar que os ossos enfraquecessem, a perda muscular significativa e outras questões cardiológicas graves.

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Comparando o coração com o de um nadador profissional

No mesmo artigo, os pesquisadores compararam a resposta do coração do astronauta com a de um nadador profissional, sendo que ambos foram expostos às circunstâncias de exposição extrema. No caso do nadador de longas distâncias, Benoît Lecomte tentou cruzar o Oceano Pacífico, em 2018, passando 8h diárias nadando por 159 dias.

De acordo com o estudo, a flutuabilidade da água pode ser comparada com a microgravidade em alguns aspectos. O curioso é que o coração de Lecomte encolheu tanto quanto o de Kelly, proporcionalmente ao tempo de exposição extrema. "Realmente, pensei que o coração dele [o nadador] iria ficar maior. Ele estava fazendo muito exercício”, explicou o pesquisador Levine.

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O resultado comparativo ainda precisa ser melhor estudo para se obter conclusões definitivas, mas o que se verificou é que a natação, mesmo diária e contínua, foi considerada um exercício de baixa intensidade (sem picos), o que não é desejável para os astronautas. Lógico, a tripulação não cogita nadar no espaço, mas poderia realizar alguma atividade de baixa intensidade, o que se sabe, agora, ser indesejável.

Além de ser comparado com o nadador, Kelly foi, ao longo de sua jornada como astronauta, analisado em alguns estudos com o seu irmão gêmeo. Enquanto um ia para a ISS, o outro ficava na Terra e, assim, pesquisadores aproveitaram para verificar as mudanças de estrutura entre os organismos. No entanto, nenhuma mudança, como as alterações nos glóbulos oculares, se mostraram duradouras.

Seria isso uma barreira para a viagem a Marte?

Se a redução do coração em pouco menos de um ano de exposição à microgravidade parece não ser nociva para a vida do astronauta, poderia se pensar o mesmo sobre o que, potencialmente, aconteceria em viagens mais longas, como futuras missões até Marte? Com base na experiência de Kelly e outros astronautas na ISS, o cientista Levine pensa que "eles, provavelmente, ficarão bem”.

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No entanto, foram traçados alguns cenários, potencialmente problemáticos, como o caso em que um astronauta se machuque ou adoeça, ficando impedido de se exercitar. Outra possibilidade levantada é de que o equipamento possa quebrar em algum momento e a tripulação não consiga consertá-lo. Nessas condições, o coração pode enfraquecer e a pessoa pode, em alguns casos, desmaiar.

Com base nesses dados e cenários, a NASA deve remodelar programas de exercícios para astronautas. “Há uma grande dúvida quanto à intensidade e duração apropriadas dos exercícios”, explica James MacNamara, cardiologista da Universidade do Texas e outro autor do artigo.

Mais estudos cardiológicos no espaço

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Em outro estudo ainda não publicado, também sobre o coração dos astronautas, o médico Levine analisou a condição cardíaca e as estruturas do órgão em 13 astronautas antes e depois de estadias de seis meses na ISS. Conforme o pesquisador adiantou para o NYT, foi possível analisar uma variedade maior de dados, o que o tranquilizou.

Por enquanto, a chave para um coração saudável no espaço está no histórico de cada astronauta. De acordo com o levantamento, as pessoas mais atléticas apresentaram uma perda menor de massa do coração na ISS, diferente dos indivíduos mais sedentários. “O coração é como qualquer outro músculo e responde à carga que é colocada sobre ele”, explica Levine. Agora, a NASA deve financiar um novo estudo sobre a saúde cardíaca dos próximos 10 astronautas que passarão um ano no espaço.

Para acessar o artigo científico que descreve como o coração do astronauta Scott Kelly diminuiu durante sua temporada no espaço, publicado na Circulation, clique aqui.

Fonte: NYT