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Crítica Pantera Negra: Wakanda para Sempre | O peso do luto

Por| Editado por Jones Oliveira | 10 de Novembro de 2022 às 19h00

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Como encaixar o luto em um universo tão marcado pelo hype, ação e bom humor como o da Marvel? A perda já foi tema em WandaVision, mas Pantera Negra: Wakanda para Sempre é a primeira vez que a gente sente e vivencia isso. Não se trata apenas de uma temática, mas de um sentimento que permeia toda a produção.

Por isso mesmo, traz uma mudança de tom necessária, deixando de lado seus típicos gracejos para fazer uma reverência devida à majestade que se foi. Assim, o novo filme do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, na sigla em inglês) não empolga — e isso não é um problema. Na verdade, essa é a proposta.

Wakanda para Sempre é um longa muito sério, em que a ausência de seu herói e símbolo está sempre presente, mas sem usar isso como muleta para emocionar o público a todo instante. É uma abordagem muito respeitosa que transcende a homenagem, sendo muito mais um lembrete de que é preciso seguir em frente mantendo vivo seu legado.

Mais drama, menos ação

Embora seja impossível falar de Pantera Negra: Wakanda para Sempre sem citar a morte de Chadwick Boseman, é interessante ver como o filme não gira em torno da perda. A história começa com a morte do rei T’Challa, a dor dos personagens por causa da tragédia é óbvia e presente, mas em momento algum o roteiro tenta capitalizar em cima de sua própria dor — e segue a partir e apesar dela.

Esse é um ponto importante, pois é o motor que torna o filme uma das produções mais diferentes de todo o MCU. Ele é muito mais um drama sobre aqueles personagens do que a ação desenfreada típica do estúdio, preocupada apenas com o avanço da grande narrativa Marvel.

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O grande acerto do diretor Ryan Coogler é dar um tempo do frenesi de multiverso, das conexões com outras histórias e da grande narrativa Marvel. É aquele pause necessário diante da perda em que é preciso parar, respirar e sentir seu próprio luto. Assim, ele se volta a esse mundo tão rico de Wakanda e, principalmente, para seus personagens.

Já em seu início, Wakanda para Sempre trata a morte de T'Challa e Chadwick Boseman como uma coisa só (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)
Já em seu início, Wakanda para Sempre trata a morte de T'Challa e Chadwick Boseman como uma coisa só (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)

Por isso mesmo, todo o restante é complementar. As conexões com o futuro do MCU são meramente protocolares e até mesmo as referências aos quadrinhos, como os Anjos da Meia-Noite, são sobressalentes e até mesmo desnecessárias. E por mais que Riri Williams (Dominique Thorne) seja fundamental para a fazer o roteiro andar, a sua Coração de Ferro está sobrando na trama.

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Isso porque Pantera Negra: Wakanda para Sempre não é um filme de herói como tantos que já vimos. Essa é uma história mais introspectiva, em que a ação e o desenvolvimento do macrouniverso são menos importantes do que aquilo que seus personagens sentem. Tanto que aquilo que ele tem de mais interessante é o modo como Shuri (Letitia Wright), Ramonda (Angela Bassett) e a própria Wakanda lidam com a perda de seu líder, protetor e símbolo — uma relação semelhante àquela que nós mesmos temos com o filme em si.

Assim, mais do que a chegada de Namor (Tenoch Huerta) como esse novo perigo e as ameaças externas que passam a rondar o país africano, a tônica está na dificuldade e necessidade de seguir em frente.

A Rainha Ramonda é a personificação desse luto e entrega uma das melhores atuações do filme (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)
A Rainha Ramonda é a personificação desse luto e entrega uma das melhores atuações do filme (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)

E há vários momentos que traduzem isso muito bem. Das tradições de Wakanda de queimar as roupas fúnebres ao paralelo que é feito entre Shuri, Namor e o próprio Killmonger (Michael B. Jordan) sobre o modo como cada um deles encara o mundo diante dessa perda, o novo Pantera Negra faz com que a gente sinta o peso desse luto.

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A negativa, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação são muito bem representadas em torno dessa história que se move em uma única direção: aceitar a dor e entender que seguir em frente é a melhor maneira de manter o legado vivo.

Seguindo em frente

Como dito, Pantera Negra: Wakanda para Sempre não transforma sua tragédia em muleta, o que significa também que a trama não gira em torno dessa busca por um novo protetor. O filme trata já em seus primeiros momentos a morte de T’Challa e de Boseman como uma coisa única e mostra que essa é uma lacuna grande demais para ser preenchida por um novo herói. Assim, essa ideia de “quem vai ser o novo Pantera” é o que há de menos importante e relevante por aqui.

A negativa de Shuri de lidar com o próprio luto é algo que ecoa muito bem com a história de Namor e isso é fundamental para sua jornada (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)
A negativa de Shuri de lidar com o próprio luto é algo que ecoa muito bem com a história de Namor e isso é fundamental para sua jornada (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)
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É claro que as coisas chegam a um momento em que o herói precisa retornar, mas em nenhum momento isso é trabalhado com a ideia de substituir o que veio antes. Pelo contrário, é justamente essa noção de dar continuidade a esse legado.

O curioso é que a jornada para isso é até bem sombria. Não há ninguém realmente heróico ou inspirador e todos os personagens mergulham em espirais pesadas sobre vingança, revolta e reclusão — o que espelha tanto o retrocesso da política externa de Wakanda quanto as próprias motivações de Namor.

Para Ramonda, Shuri e até Okoye (Danai Gurira), é preciso ir até o fundo do poço para emergir e dar continuidade ao trabalho que o Pantera fez até aqui — e que dá à cena pós-crédito um peso muito maior.

A criança sem amor

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É nesse contexto todo que Namor se revela a grande adição de Wakanda para Sempre. Tudo em torno do personagem é muito bem trabalhado tanto para enriquecer o universo de Pantera Negra quanto para valorizar o sentimento de seus protagonistas.

Isso porque o Príncipe Submarino também é filho da perda. A nação de Talocan surge a partir da morte e sua reclusão por séculos no fundo dos oceanos e o ódio com os conquistadores da superfície mostra o que acontece quando esse ciclo do luto não se fecha. Por serem incapazes de seguir em frente, vivem de remoer essa dor em busca de uma vingança aparentemente sem propósito.

Namor é um personagem incrível tanto para a história que está sendo contada como para o futuro do MCU (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)
Namor é um personagem incrível tanto para a história que está sendo contada como para o futuro do MCU (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)

É nisso que a dinâmica entre Namor, Shuri e Ramonda funciona tão bem, da mesma forma que também não é possível chamar o personagem de Huerta de vilão. Assim como Killmonger em Pantera Negra, Ryan Coogler cria mais uma figura complexa e que não está completamente errada, mas que se atropela nos meios radicais adotados.

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Por isso mesmo, eu me vi muito mais torcendo por ele e Talocan do que por Wakanda em boa parte da trama. Isso é reflexo da falta de presença de Letitia Wright como Shuri? Talvez, mas com certeza quero ver muito mais de Namor no MCU nos próximos anos.

Aliás, a escolha de dar ao personagem uma origem mesoamericana foi um acerto e tanto. É incrível ver toda a construção dessa cultura que é tão diferente e, ao mesmo tempo, familiar. Ainda que a fotografia embaixo d’água deixe a desejar alguns momentos, a concepção desse outro reino não deixa nada a desejar à grandeza estética que foi ver Wakanda pela primeira vez.

Apesar da fotografia embaixo d'água não ajudar muito, Talocan é incrível (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)
Apesar da fotografia embaixo d'água não ajudar muito, Talocan é incrível (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)

Tanto que essa origem étnico-cultural se sobressai à própria origem de quadrinhos do personagem. Temos pela primeira vez a palavra mutante sendo dita dentro do MCU, mas isso não é nada impactante perto de toda a majestade e do simbolismo que Namor carrega com seu povo. Mais uma vez, o microdesenvolvimento de personagens em Wakanda para Sempre é mais interessante do que as conexões com a macronarrativa Marvel.

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Vale a pena assistir a Pantera Negra: Wakanda para Sempre?

É impossível desassociar Pantera Negra: Wakanda para Sempre do contexto ao qual ele está inserido. Esse é um filme fora da curva da Marvel em todos os sentidos e bastidores e roteiros se misturam em uma coisa só. Assim, é natural que a perda de seu herói e símbolo seja algo que vai direcionar a trama como um todo de modo que não há como esperar que ele seja apenas mais um capítulo do MCU.

Isso faz com que a sequência seja bem diferente até do primeiro Pantera Negra, mesmo contando com a mesma equipe. Ele não é empolgante e tampouco inspirador porque estamos falando de uma produção que se propõe a ser mais introspectiva e que fala muito sobre a própria dor. Da mesma forma que seus personagens lutam para entender e aceitar os próprios sentimentos, assim é com diretor, atores, roteiristas e com boa parte do público também.

Wakanda para Sempre é um lamento, uma celebração e uma belíssima homenagem ao legado de Chadwick Boseman e que sabe amarrar muito bem as dores da realidade com as da ficção (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)
Wakanda para Sempre é um lamento, uma celebração e uma belíssima homenagem ao legado de Chadwick Boseman e que sabe amarrar muito bem as dores da realidade com as da ficção (Imagem: Divulgação/Marvel Studios)
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É um ponto fora da curva, uma história marcada por exceções que sabe aproveitar muito bem tudo isso para criar algo genuíno e que transmite tanto a consternação causada pela tragédia quanto a vontade de seguir em frente e fazer uma bela homenagem.

Wakanda para Sempre sabe de sua importância para o MCU e também para além dele. Mas também entende a necessidade de parar e chorar as próprias dores. No fim, mostra que é da poder do próprio luta é que floresce a flor de seu legado.

Pante Negra: Wakanda para Sempre está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil; garanta seu ingresso na Ingresso.com.