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Qual é a diferença entre fissão e fusão nuclear?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 28 de Março de 2022 às 08h30

Hal Gatewood/Unsplash
Hal Gatewood/Unsplash
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Tanto a fusão quanto a fissão nuclear são processos naturais que ocorrem no núcleo de um átomo e geram energia. Mas qual a diferença entre fissão e fusão nuclear? Em poucas linhas, é que na fusão temos a combinação de dois ou mais átomos leves, enquanto a fissão envolve a divisão de um único núcleo atômico, geralmente pesado e instável. Mas de onde vem a energia desses eventos? É o que você descobre nesta matéria.

A fusão nuclear é um dos fenômenos mais comuns do universo — afinal, cada estrela que existe produz energia por meio desse processo. Por outro lado, a fissão acontece quando um elemento possui uma quantidade maior de prótons e nêutrons em seus átomos, e também ocorre naturalmente, embora esse elementos sejam raros.

Aqui na Terra, só descobrimos o poder da fusão atômica no século XX. Tudo começou em 1905, com Albert Einstein, mas foram necessárias algumas décadas de estudo dos átomos e das forças fundamentais da natureza para descobrir de onde vem a energia liberada nesses processos.

Equivalência massa-energia: E=mc²

Albert Einstein um dos maiores nomes a contribuir com a descoberta da relação massa-energia (Imagem: Reprodução/Domínio Público/Wikimedia Commons
Albert Einstein um dos maiores nomes a contribuir com a descoberta da relação massa-energia (Imagem: Reprodução/Domínio Público/Wikimedia Commons

Quando Einstein publicou um artigo sobre a equivalência massa-energia, o mundo começou a ser transformado, ainda que as primeiras provas disso só tenham sido obtidas anos depois. Ele não foi o primeiro a propor essa ideia, mas veio dele a teoria (correta) de que essa equivalência é uma consequência das simetrias do espaço e tempo.

Essas conclusões culminaram na famosa fórmula E=mc², que tem consequências simples, mas fantásticas. Ela significa que toda matéria possui uma energia inerente equivalente à sua massa. Teoricamente, ela pode ser convertida em pura energia, assim como a energia pode ser convertida em massa.

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Tais conceitos foram melhor desenvolvidos na Teoria da Relatividade Geral, publicada por Einstein em 1915 e comprovada desde então, até os dias de hoje, por inúmeros experimentos. Com ela, massa e energia são duas formas da mesma coisa, e uma não existe sem a outra.

Diagrama de uma reação em cadeia de fissão nuclear (Imagem: Reprodução/Stefan-Xp/Wikimedia Commons)
Diagrama de uma reação em cadeia de fissão nuclear (Imagem: Reprodução/Stefan-Xp/Wikimedia Commons)

Além disso, é bem estabelecido que a quantidade total de massa e energia no universo permanece constante, ou seja, não é algo que pode ser criado ou destruído, muito menos desaparecer. Por fim, energia acumulada exibe massa. Esses princípios são importantes para a física das partículas, que rege a fusão e fissão nuclear.

Portanto, um corpo em repouso tem uma energia potencial proporcional, ao contrário do que diz a lei da gravitação de Newton. A fórmula também pode revelar quanta massa foi perdida por um corpo em repouso quando alguma energia é removida dele — como em uma reação química onde calor e luz são removidos.

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A energia removida nesses casos será igual à massa perdida, multiplicado pelo quadrado da velocidade da luz. Essa é apenas uma das implicações da relação massa-energia. Mas que energia é essa e como podemos obtê-la?

Força nuclear forte

A fissão nuclear no urânio-235 ocorre mais facilmente em parte devido à grande quantidade de partículas em seu núcleo (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)
A fissão nuclear no urânio-235 ocorre mais facilmente em parte devido à grande quantidade de partículas em seu núcleo (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

Os núcleos dos átomos são compostos por prótons (de carga positiva) e nêutrons (sem carga elétrica), mas isso parece contraintuitivo — dois prótons não deveriam se manter unidos porque suas cargas positivas resultariam em repulsão. Portanto, deve haver algo que os mantém unidos: esse algo é conhecido como força forte.

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A teoria quântica da força forte é conhecida como cromodinâmica quântica e descreve as interações entre partículas que não possuem carga elétrica, mas sim "carga de cor” (daí o nome da cromodinâmica quântica; cromo vem da palavra grega para cor).

Contudo, essa força é mais poderosa quando o núcleo é pequeno e suas partículas estão próximas. Nesse caso, ela é superior à força eletromagnética, que está tentando repelir e “desmanchar” (ou decair, na termologia técnica) o núcleo do átomo. Mas se um núcleo for grande, com muitos prótons e nêutrons, há boas chances da força eletromagnética vencer a “disputa”.

Qual é a diferença entre fissão e fusão nuclear?

A fissão nuclear também pode gerar mais de dois novos átomos menores, assim como a fusão pode ocorrer com mais de dois átomos leves (Imagem: Reprodução/Sarah Harman/U.S. Department of Energy)
A fissão nuclear também pode gerar mais de dois novos átomos menores, assim como a fusão pode ocorrer com mais de dois átomos leves (Imagem: Reprodução/Sarah Harman/U.S. Department of Energy)
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Os dois processos são naturais, mas também podem ser feitos em um laboratório. Enquanto a fusão ocorre quando dois átomos são "esmagados" para formar um único átomo de um novo elemento, a fissão consiste na divisão de um núcleo atômico. Em ambos, parte da massa desses átomos será convertida em energia, conforme vimos na fórmula E=mc².

Fissão nuclear

Quando a força forte é “derrotada”, a energia das forças repelente das partículas que estavam “grudadas” é liberada e o átomo é “dividido ao meio”, por assim dizer. Cada uma das “metades” resultantes da divisão tem um pouco menos da metade da massa do núcleo atômico original.

Mas, se é assim, onde está a massa desaparecida? Bem, lembra que massa pode ser convertida em energia? É assim que parte desse núcleo atômico se transforma na energia produzida pelo processo de fissão nuclear.

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Consideremos agora o urânio-235 — ele tem 92 prótons e 143 nêutrons (235 no total). Esse núcleo é tão instável que pode decair facilmente. Por isso é tão usado em reatores e bombas nucleares. Quando um átomo dessa matéria decai naturalmente, ele libera um nêutron.

Na fissão nuclear, uma partícula pode separar o núcleo de um átomo instável (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)
Na fissão nuclear, uma partícula pode separar o núcleo de um átomo instável (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

Se esse nêutron atingir outros átomos de urânio próximos, eles também se dividirão, criando uma reação em cadeia. Essa foi a descoberta que nos levou à produção de explosivos atômicos e usinas nucleares.

Nas usinas de fissão nuclear, esse processo é cuidadosamente controlado. Mas, em uma bomba atômica, a reação em cadeia é iniciada com elétrons atingindo núcleos atômicos e tudo fica fora de controle, com um efeito cascata aumentando cada vez mais. Isso libera uma tremenda quantidade de energia em um curto espaço de tempo.

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Fusão nuclear

Na fusão nuclear, temos algo parecido, porém inverso. Em vez de dividir átomos, a fusão os junta em um só núcleo atômico, o que também libera energia. O elemento mais comum para esse processo é o hidrogênio, ou alguns de seus isótopos, mas para iniciar o processo de fusão nuclear é preciso muita pressão e temperatura — coisa que as estrelas têm de sobra.

A força entre os núcleos carregados positivamente é repulsiva, mas quando a separação é pequena o suficiente, o efeito quântico atravessa a parede e eles se fundem (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)
A força entre os núcleos carregados positivamente é repulsiva, mas quando a separação é pequena o suficiente, o efeito quântico atravessa a parede e eles se fundem (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

Após a fusão de dois núcleos atômicos de elementos leves, o resultado é um átomo um pouco menos massivo que a soma dos dois núcleos originais. Como na fissão, essa massa foi perdida porque se converteu em energia.

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Mas gerar energia suficiente para esmagar os átomos até que eles “grudem” não é nada fácil (as estrelas são realmente incríveis por fundir átomos, não e mesmo?), mas estamos no caminho certo para fazer isso em um futuro breve. O desenvolvimento de algumas tecnologias de reator de fusão já está em andamento.

Já que não podemos reproduzir a pressão de uma estrela, os cientistas apostam na produção de calor e campos magnéticos para controlar os átomos. Na prática, raios lasers atingem uma pequena nuvem de hidrogênio para aquecê-la até alguns milhões de graus. Isso transforma o hidrogênio em plasma, que deve ser controlado pelos campos magnéticos.

Por enquanto, a energia para esse processo funcionar de modo eficaz é ainda é maior que a energia obtida pela fusão. Além disso, os campos magnéticos exigem ímãs gigantes e poderosos. Por isso, os experimentos nos reatores duram apenas alguns segundos, mas as temperaturas já atinge níveis recordistas, superando o calor no interior de uma estrela como o Sol.

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A fusão nuclear pode produzir três a quatro vezes mais energia que a fissão. Além disso, o hidrogênio (ou seus isótopos) é o elemento mais abundante do universo, então o “combustível” para esses reatores não será um problema. Por fim, a fusão nuclear é muito mais segura que a fissão porque não deixa lixo radioativo para trás.

Por esses motivos, os cientistas estão certos que a fusão nuclear é a melhor opção para produzirmos energia limpa, segura e praticamente inesgotável. A previsão é que os reatores comecem a produzir mais energia do que consomem na década de 1930.

Fonte: Duke EnergyLive Science