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Cientistas discordam que mamífero gaúcho possa ser o mais antigo do mundo

Por| Editado por Luciana Zaramela | 13 de Setembro de 2022 às 20h50

Anatomical Society Wiley
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Embora a descoberta do Brasilodon quadrangularis no Rio Grande do Sul seja muito importante para a ciência, como noticiamos por aqui, não é consenso que o animal, com seus 225 milhões de anos, seja o mais antigo mamífero do mundo — na verdade, longe disso. Alguns cientistas contestam o artigo que classifica o animal, considerando-o controverso por uma série de motivos.

A principal característica que colocou o pequeno animal, com seus meros 20 centímetros de comprimento, na classificação mamífera, foi a sua troca de dentição (difiodontia), coisa que nós também fazemos. Isso desbancaria o Morganucodon, anteriormente considerado o mamífero mais antigo, 20 milhões e anos após o B. quadrangularis. Mas até mesmo ele passa por contestações.

O Brasilodon quadrangularis foi considerado mamífero por um estudo recente, mas há controvérsias (Imagem: Rochele Zandavalli/UFRGS)
O Brasilodon quadrangularis foi considerado mamífero por um estudo recente, mas há controvérsias (Imagem: Rochele Zandavalli/UFRGS)

Controvérsias mamíferas

Atualmente, o elemento que indica a subclasse mammalia com maior precisão é, como o nome já indica, a presença de glândulas mamárias. Isso não está preservado nos fósseis do animal, o que mudou o foco da pesquisa para os dentes e ossos. Embora peixes e répteis possam crescer seus dentes novamente e ter várias dentições ao longo da vida, a presença de apenas duas (a de leite e a permanente) chamou a atenção no quadrangularis.

Não há nenhum réptil que apresente um par de dentições ao longo da vida, o que aproximou o fóssil gaúcho dos mamíferos e o afastou da classe Reptilia. Os dentes difiodontes participam de uma série de mudanças genéticas que também são associadas à endotermia (sangue quente), lactação e pelos, todas características de mamíferos. Assim, o animal seria parte de uma linha evolucionária que sobreviveu à extinção em massa do final do Cretáceo, há 66 milhões de anos.

Uma especialista em história evolucionária dos primeiros mamíferos, no entanto — Simone Hoffmann —, contesta a classificação. Segundo ela, o quadrangularis não seria sequer um mammaliaforme, um grupo que inclui ancestrais dos mamíferos. Ela nota que o estudo, publicado na revista científica Journal of Anatomy no último dia 5,usa os termos "mamífero" e "mammaliaforme" como sinônimos, o que não seria correto para a cladística filogenética: atualmente, o último ficaria mais atrás na linha evolucionária.

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Ancestrais dos mamíferos, como os cinodontes, foram desenvolvendo características como sangue quente, lactação e placenta (Imagem: Smokeybjb/CC-BY-3.0)
Ancestrais dos mamíferos, como os cinodontes, foram desenvolvendo características como sangue quente, lactação e placenta (Imagem: Smokeybjb/CC-BY-3.0)

Já o morganucodon seria, sim, um mammaliaforme, o que deixaria o quadrangularis em um grupo irmão na árvore evolucionária, ou em um grupo também irmão no grande clado mais próximo, o dos mammaliamorfos (quase mamíferos), segundo a cientista. Embora a difiodontia seja interessante, não significa que o animal seja um mammaliaforme, diz Hoffmann; a vida está em constante evolução, mudando e formando novos ramos na árvore evolucionária.

Ao site Live Science, a cientista lembra das penas, que já foram uma característica definidora dos pássaros. Atualmente, sabemos que as penas surgiram muito antes, nos dinossauros, e eram bem comuns. Isso não significa, no entanto, que criaturas como o T. rex eram pássaros. Com cada nova descoberta, a ciência entende melhor o mundo, e o descreve de acordo com suas observações.

Martha Richter, uma das co-autoras do estudo, também falou com o Live Science e disse saber que o estudo e suas conclusões são discutidos. A classificação do quadrangularis pode ser controversa, mas ela considera que a conversa acerca dos primeiros mamíferos ainda está seguindo — e que o artigo traz mais luz à discussão, mesmo que pese para o lado dos mammaliaformes.

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No estudo, vale lembrar, foram analisados três fósseis encontrados no sítio arqueológico Linha São Luiz, no Rio Grande do Sul: uma mandíbula de um espécime juvenil e duas de exemplares adultos. No local, estavam também presentes alguns dos dinossauros mais antigos do mundo. Os B. quadrangularis tinham uma aparência parecida com a de musaranhos, com caudas compridas e pelos.

Fonte: Journal of Anatomy