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Review Paper Mario | Jogo envelhece como um bom vinho — só que vinho me faz mal

Por| 17 de Junho de 2024 às 18h13

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Nintendo
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Paper Mario: The Thousand-Year Door me despertou uma estranha contradição. Embora eu tenha amado seu estilo hiper carismático e seus diálogos bem humorados, eu não não me empolguei tanto com o jogo a custei a encarar as cerca de 30 horas para recuperar todas as Crystal Stars e salvar a princesa Peach.

Por isso mesmo, este review demorou tanto para sair. Eu precisava entender por que, apesar de gostar tanto do jogo, eu me via preferindo fazer palavras cruzadas a dar marretadas em goombas por aí. E foi quando eu me dei conta de que, por mais incrível que seja essa revitalização do clássico, falta um pouco de substância para o RPG para além dos pulos e marretas.

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A Nintendo anunciou o jogo como um remake do título lançado para GameCube em 2004, mas tratá-lo dessa forma é um tanto exagerado. Porque, apesar do evidente tapa no visual e de algumas melhorias aqui e ali, ainda se trata do mesmo Paper Mario de 20 anos atrás. E, embora tenha envelhecido como um bom vinho em praticamente todos os aspectos, ele não é feito para todos os paladares e pode incomodar os fígados mais sensíveis.

Uma arte de papel

Não há como falar de Paper Mario: The Thousand-Year Door sem citar como ele é um jogo bonito. Isso já era verdade na época do GameCube e o relançamento para Switch mostra como o estilo visual desenhado e mais cartunesco do original segue funcionando muito bem e sem sinal de idade. 

É claro que há melhorias gráficas, já que o jogo original não era em HD, mas a essência segue basicamente a mesma e isso ajuda a deixar tudo muito mais atraente. O design de cada personagem, a construção dos cenários e até a apresentação dos monstros e vilões são tão charmosos que é difícil ficar indiferente a cada um desses detalhes. Assim, se ele já era um game muito bonito em 2004, fica ainda mais impressionante agora.

E isso é importante porque ajuda a construir a maior arma de Paper Mario: o carisma. Do seu roteiro caótico às situações enfrentadas pelo herói bigodudo, The Thousand-Year Door é um daqueles raros títulos que te fazem sorrir por coisas bobas, mas que dão muito mais personalidade à trama simples. 

Eu já tinha elogiado algo nessa linha com Super Mario RPG, mas Paper Mario consegue ampliar essa ideia de não se levar a sério a um novo nível. São personagens que estão a todo momento paquerando o herói ou que têm dificuldade de acertar seu nome, ora chamando-o de Luigi, ora de Grande González. E é no meio dessas bobices que você vai se apegando à jornada do bigodudo.

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Novas formas de explorar

Embora já tenha me aventurado em outros RPGs da Nintendo, nunca tive muito contato com a série Paper Mario. Fiquei apaixonado por Super Mario RPG e tenho grande carinho pela linha Mario & Luigi, mas The Thousand-Year Door trouxe uma nova camada de diversão que eu não conhecia ainda.

A ideia de trazer o Mario de papel é muito bem usada para construir desafios e pequenos puzzles muito criativos que usam a perspectiva ou a maleabilidade do herói para encontrar soluções improváveis. É algo que faz com que o RPG ganhe um verniz de metroidvania que eu não esperava, mas que funciona bem.

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À medida que avança na sua jornada coletando as Crystal Stars que abrem a dita porta milenar do título, o herói adquire novos poderes e encontra aliados com habilidades especiais. É a partir daí que você desbloqueia novas áreas, desvenda alguns segredos e passa a mergulhar mais e mais nos mistérios escondidos na cidade de Roguetown, onde a maior parte da trama se passa. E é nesse vai e vem de descobertas que você é cativado por Paper Mario.

Um retrogosto envelhecido

Como dito, tudo em Paper Mario: The Thousand-Year Door envelhece muito bem, do seu visual à jogabilidade focada nesses quebra-cabeças e na exploração. Contudo, como dito na abertura deste review, esse vinho não é para todos os paladares e há um retrogosto um pouco datado que pode incomodar os mais sensíveis. E foi aí que eu percebi meu problema com o jogo.

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Apesar de seu bom humor e carismas inquestionáveis, o game tropeça ao tornar o RPG simples demais. Não que alguém esperasse uma alta complexidade ou mesmo grandes níveis estratégicos em um game do Mario em que ele vira um barquinho de papel, mas a falta de mais camadas no combate tornam as coisas rapidamente cansativas.

Assim como em Super Mario RPG, há um sistema de Action Command em que é preciso executar certas ações para otimizar seu ataque ou maximizar sua defesa. É uma mecânica interessante para não tornar as lutas um simples controle de menu, mas que não é o suficiente para dar corpo à ação.

Há um sistema de atributos e equipamentos bem simples que, na prática, não dá profundidade para os embates. Os emblemas desbloqueiam novas habilidades, enquanto passar de nível permite você aumentar seus pontos de vida, de flores ou a capacidade de usar mais badges. Tudo bastante superficial e que não abre margem para muita exploração.

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Assim, o resultado é que as batalhas se tornam a parte mais frágil e desinteressante do jogo. O máximo de estratégia que Paper Mario oferece é decidir se o inimigo pode ser atacado com pulo ou com a marreta, o que vai definir que aliado usar naquele momento. É tudo muito banal.

Foi por causa disso que me vi preferindo fazer outras coisas do que avançando em The Thousand-Year Door. Sempre que me via indo para um dos mapas em busca das Crystal Stars, minha vontade de deixar o Switch para lá aumentava. O capítulo em que Mario precisa vencer dezenas de adversários em uma arena é um saco, porque todos os confrontos acabam sendo praticamente iguais e eu não aguentava mais apertar A na hora certa para dar um pulo extra ou uma marretada bem dada. 

Vale a pena jogar Paper Mario: The Thousand-Year Door?

Como disse, esse é um problema que deve afetar apenas alguns paladares. No meu caso, a falta de profundidade dos combates contrasta tanto com o cuidado e o esmero que Paper Mario: The Thousand-Year Door traz em todos os outros aspectos que era impossível ficar indiferente a isso. A Nintendo é conhecida por sua criatividade e, por isso, salta aos olhos quando fica devendo nesse critério.

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E você pode dizer que, para a época, isso era algo normal. Faz sentido, mas o game está sendo vendido como um remake e seria natural esperar uma modernização ou melhoria nesta nova versão — o que não acontece. Assim, parece correto dizer que se trata mais de uma remasterização do que da ideia de algo refeito.

De qualquer forma, ainda estamos falando de um ótimo jogo e que é um excelente resgate da Nintendo. Assim como eu, muita gente não pôde conferir o Paper Mario do GameCube e é excelente ver que esses clássicos ainda têm espaço hoje em dia.