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Com o crescimento da 5G, aspecto social é apalancado pela 4G

Por| 02 de Junho de 2021 às 10h00

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Mohamed Hassan/Pixabay
Mohamed Hassan/Pixabay

Os últimos 18 meses devem ter estabelecido alguma marca na América Latina como sendo o período em que ocorreram mais eventos relacionados às tecnologias da informação e da comunicação (TIC) celebrados na região. Temas como 5G, transformação digital, internet das coisas, automação, robótica e inteligência artificial, entre muitos outros, têm sido o centro das apresentações.

Sim, é verdade que o nível de consciência sobre a necessidade das TIC aumentou exponencialmente durante a atual pandemia da Covid-19. Existe uma lista de conquistas alcançadas que variam nos mais diversos setores. Recentemente, Antonio Zaballos, coordenador de infraestrutura Digital do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), comentou comigo que segundo sua organização, cada mês de pandemia é o equivalente a um ano de conscientização da importância da tecnologia em nossas vidas. Ou seja, as pessoas que tomam decisões de política pública têm aprendido em menos de dois anos o que levou duas décadas.

Até agora tudo parece bastante positivo para o setor das TIC. Contudo, o mundo real vai além dos anúncios bombásticos. Nele, é preciso considerar que o impacto dos avanços tecnológicos depende da capacidade destes em ter apoio de forma rápida. Não é complicado, a simples equação da oferta e demanda serve para explicar a situação. As novas tecnologias inicialmente são caras o que suprime sua demanda, sobretudo em mercados latino-americanos, dos quais a disparidade na distribuição de novos clientes é tão marcada. Segundo a demanda da tecnologia, vai aumentando em mercados desenvolvidos, novas empresas começam a fabricação aumentando a oferta desta, seu preço se reduz incentivando sua adoção em mercados dos quais o poder aquisitivo das pessoas é limitado.

Vale recordar que muitas das tecnologias podem ser potencializadas após alguns anos da chegada da 5G. A automação não é nova, nem a Internet das Coisas e muito menos a inteligência artificial. No entanto, a redução de custos em sua fabricação permite a massificação de versões mais avançadas de todas estas tecnologias, ainda que o usuário final nem sequer está a par de quem a estar utilizando. Por exemplo, segundo a consultoria estadunidense Strategy Analytics, 71% dos celulares inteligentes vendidos durante 2021 vão compor algum tipo de inteligência artificial. O que nos faz inferir que em menos de dez anos a inteligência artificial será um componente essencial de todo telefone celular.

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No entanto, em meio a tanta euforia e alarde, o mundo real golpeia com muita força desmistificando fábulas de uma nova normalidade fictícia e bastante urbana. Como não falar de uma nova normalidade na região do mundo em que mais pessoas vivem em cidades? Como fingir voltar a um passado no qual as redes de telecomunicações tiveram que ser implantadas sem um plano de negócios definido já que a demanda vai aparecer como num passe de mágica, o “construa ou virão” tão popular no final da última década do Século 20 que levou à falência várias empresas de transporte de tráfego de fibra óptica ou frotas de satélite.

Antes de aplaudir a chegada de cidades inteligentes, não seria necessário conhecer o seu nível de inteligência destas? Quando os governos exigem do setor privado desenvolver redes de telecomunicações em áreas remotas, que não contam com retorno de receita dentro de um período razoável, que tipo de parceria público/privada está sendo proposta? Quais tipos de incentivos planeja implementar para aumentar a demanda? Demanda que contém várias barreiras de acessibilidade, como, por exemplo, o preço do aparelho a ser utilizado e o valor mensal pago pelo serviço. Haverá subsídios diretos? Isenções fiscais? Acordos para disponibilização de conteúdos gratuitos?

Todos os itens acima são questões a serem consideradas ao falar sobre a chegada da 5G e a importância de sua massificação. É verdade que esta nova tecnologia representa uma quebra de paradigma em relação às gerações anteriores, pois visa promover a digitalização dos setores produtivos da economia para a tornar mais eficiente. Simplificando, é a plataforma wireless que vai tirar a digitalização de nossas vidas. Um processo de digitalização que levará muitos anos e gerações móveis para se materializar.

É por esta razão que os governos devem abordar a implantação da 5G de forma inteligente. Entenda que estamos em uma região onde ainda existem milhões de pessoas que não têm serviços 3G (em vias de ser desmontadas em muitos países) ou 4G, que precisam estar conectadas em curto prazo. Fazer isso com 5G não é financeiramente viável nem apropriado devido ao alto custo dos telefones celulares que se conectam a essas redes. De acordo com a consultoria global Counterpoint Research, somente em 2024 veremos o início de um salto na adoção do 5G na América Latina. Uma adoção focada principalmente nos quintis econômicos AB da sociedade regional.

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Esta situação não implica que o lançamento da 5G deva ser atrasado em muitos mercados da região, apenas que as condições que acompanham os lançamentos estão associadas à necessidade atual. A 5G como motor de transformação digital é um componente fundamental em qualquer plano de desenvolvimento econômico nacional, de modo que os países da região devem estabelecer as condições adequadas para lançamentos limitados que atendam às demandas dos diversos setores verticais da economia. Desta forma, evita-se a perda de competitividade com o fornecimento de concorrentes que utilizaram 5G para aumentar sua eficiência.

Essa não é uma tarefa fácil, mas tem que ser trabalhada pelos setores público e privado. Uma olhada na América Latina nos mostra exemplos de laboratórios ou incubadoras de serviços ou produtos para 5G no Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Porto Rico. Também nos mostra a preocupação de um setor empresarial costarriquenho que produz equipamentos médicos avançados, reclamando da perda de oportunidades devido à falta de uma rede 5G na Costa Rica que lhes permita testar os equipamentos para que atendam aos requisitos exigidos por seus clientes. na Ásia, Europa e Estados Unidos. Curiosamente, a operadora estadual neste país afirma não ver uma demanda real ou grande necessidade de 5G para o mercado. É claro que, quando o setor de massa é tratado tão bem quanto o setor empresarial, esse erro pode até ser compreendido, embora seu custo seja investimento e empregos para a Costa Rica.

Voltando à questão da cobertura de áreas não urbanas. Isso não vai acontecer repentinamente, é necessário que mais espectro radioelétrico seja atribuído para poder usar tecnologias como a agregação de operadoras que permitem à operadora de telecomunicações oferecer velocidades acima de 300 Mbps aos seus usuários. Uma alocação que não prioriza a arrecadação de fundos para o estado como tem acontecido historicamente no México, um mercado que começa a se pagar pelo curto prazo de suas diferentes administrações.

A atribuição de espectro deve dar prioridade à cobertura das zonas mais vulneráveis, mas acompanhada de medidas e incentivos para que o investimento não permaneça na rede. Temos que lutar também contra o problema da acessibilidade e, no momento, os telefones celulares baratos que podem suportar velocidades superiores a 200 Mbps são 4G e não 5G. No entanto, uma olhada na região mostra-nos mercados que quase não aumentaram a alocação total de espectro de rádio para serviços móveis acima de 200 MHz durante este século.

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É imperativo olhar para o futuro sem se deslumbrar com os profetas da lisonja. É preciso trabalhar com sensatez, considerando que cada localidade tem sua realidade. Uma realidade que deve ser enfrentada rapidamente, principalmente promovendo 4G em áreas remotas, como a Colômbia decidiu fazer com sua segunda alocação de espectro para esta tecnologia, e 5G naquelas áreas onde os setores produtivos do país podem se beneficiar a curto prazo com eficiências que reduzem a latência e uma implantação massiva da Internet das coisas (com análises e serviços em nuvem) pode fornecer.

Tudo isso com base na necessidade da existência de fibras ópticas, redes elétricas, estradas transitáveis ​​e estabilidade jurídica que se distancia do arbítrio do poder público. Elementos fáceis de descrever, mas difíceis de alcançar.

5G representa uma grande mudança, mas essa mudança precisa acontecer em etapas. A sua implementação tem de ser coerente, com um plano exequível e que sirva para impulsionar o crescimento da economia. Isso não deve ser interpretado como um freio ao investimento, uma vez que a expansão da 4G, com o objetivo de impulsionar a conectividade massiva, deve continuar a conseguir encerrar as redes 2G e 3G existentes em cada mercado o mais rápido possível. Você simplesmente não pode correr sem saber como engatinhar.

*José F. Otero tem mais de 3 décadas de experiência no setor das TIC. Esta coluna é escrita em caráter pessoal.