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Seu smartwatch pode virar uma “IA enfermeira” nos próximos anos

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Léo Müller/Canaltech
Léo Müller/Canaltech
Galaxy Watch Ultra

“Não há enfermeiros o suficiente no mundo para ajudar todos nós a navegar as complexidades dos cuidados com saúde que precisamos ter”. A Samsung quer ajudar a resolver esse problema descrito pelo Dr. Hon Pak — chefe da sua equipe de saúde digital — usando inteligência artificial (IA) e está trabalhando em recursos que podem transformar nossos próximos smartwatches e outros vestíveis em uma verdadeira “IA enfermeira”.

O Canaltech conversou com Dr. Pak durante a Galaxy Unpacked 2024 em Paris para entender como IAs podem ajudar a descobrir problemas de saúde e direcionar pessoas para os profissionais humanos certos.

“Eu pessoalmente acredito que uma inteligência artificial treinada na área da saúde terá um papel muito significativo no esforço de escalonar o tipo de cuidado profissional que recebemos em casa”, comentou Dr. Pak.
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Ele fala sobre “cuidados em casa” por a ideia ser aproveitar aparelhos que já usamos no dia-a-dia não só para coletar batimentos cardíacos, mas aproveitar isso de forma compreensiva para gerar dados concretos, com os quais as pessoas podem tomar decisões. Tudo isso antes mesmo de marcarmos uma consulta com um médico para começar a investigar algum sintoma.

IA para consertar um sistema de saúde falho

Para Dr. Pak, o sistema de saúde que temos hoje — em todo o mundo — é falho. É comum descobrirmos doenças já em estágios avançados porque ignoramos nossos sintomas ou não os entendemos adequadamente. E por não entendermos, frequentemente não buscamos ajuda médica. Quando buscamos, precisamos enfrentar filas, fazer várias consultas, passar por exames e gastar muito tempo.

Em vez disso, a proposta do chefe de saúde digital da Samsung é tornar esse processo mais eficiente, pulando alguns passos para chegar em um pré-diagnóstico que possa ajudar médicos humanos a investigar um problema mais objetivo em vez de explorar uma série de possibilidades.

Para isso, Dr. Pak quer aproveitar smartwatches que já temos no pulso e quem sabe outros vestíveis, como o Galaxy Ring que a Samsung lançou durante a Unpacked 2024.

“O primeiro passo seria pegar todas as informações que seus vestíveis coletam sobre você e cruzar com percepções baseadas em pesquisas científicas e fatos relacionados a problemas específicos. Em seguida, trazemos uma IA conversacional para que ela comunique os achados de uma forma que engaje o paciente com seu problema. Esse engajamento é a chave, por que se você só comunica fatos, o paciente pode não dar ouvidos”.

Atenção para o termo engajamento. Dr. Pak enfatiza que simplesmente jogar “dados crus” — ou mal-passados — no prato do paciente raramente tem efeitos práticos. Hoje, nosso smartwatch é capaz de nos notificar quando há alguma mudança no nosso ritmo cardíaco em dado período, mas ele para por aí, e ficamos sem saber o que devemos fazer com isso.

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O próximo passo seria treinar uma IA com base em todo o conhecimento médico que seja útil no contexto dos dados que nossos vestíveis conseguem rastrear no dia a dia: sono, nutrição, ritmo cardíaco e, com o lançamento do Galaxy Watch 7 e Watch Ultra, taxa de glicose no organismo ao longo de meses.

Com as conclusões que uma “IA enfermeira” devidamente treinada poderia tirar desses dados e com a mensagem certa, Dr. Pak imagina que possa de fato fazer uma diferença na saúde das pessoas.

“Se eu faço essa comunicação de forma que o tom e contexto cultural se encaixam, de repente, as pessoas se engajam”.
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O uso de IA na saúde hoje

Esse conceito da “IA enfermeira” ainda não é nada concreto e vai precisar de muita gente e muitas organizações inovadoras para torná-la realidade. O próprio Dr. Pak disse ao Canaltech que a saúde é um problema grande e complexo demais para uma só empresa resolver, por maior que ela possa ser. Mas o trabalho já começou.

Uma das ferramentas que a Samsung mais destacou com o lançamento dos seus novos vestíveis —incluindo os relógios inteligente e o Galaxy Ring — foi a “Pontuação de Energia”. Com base nas medições feitas com esses aparelhos nos últimos sete dias, o app Samsung Health dará um número de zero a cem para ilustrar o qual seria o total de energia que você teria no organismo para gastar no oitavo dia.

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Essa métrica não foi inventada pela Samsung. Trata-se de um modelo criado pelo Professor Patrick O’Connor e sua equipe de pesquisa na Universidade da Geórgia, nos EUA.

“De um ponto de vista científico, a Pontuação de Energia reflete uma variação prevista na habilidade de realizar testes de atenção cognitivos rápidos ao longo do dia baseada em informações objetivamente validadas usando aparelhos vestíveis durante uma semana”, explicou O’Connor em um comunicado oficial da Universidade.

O modelo descrito pelo acadêmico em seu estudo considerou experimentação prática e também medições tomadas diariamente pelos participantes. A pontuação gerada pelo modelo do professor foi então validada com essas pessoas, e a Samsung usou essa experiência como para criar a sua Pontuação de Energia.

“Saúde é uma coisa muito complicada. Até mesmo a Samsung, mesmo grande como somos, não conseguiremos resolver esse problema sozinhos. Acreditamos que um ecossistema robusto é necessário, assim como ter parceiros que inovam” contou Dr. Pak. Além da Universidade da Geórgia, seu time colabora também com Hospital Brigham and Women’s da Universidade de Harvard e com o Massachusetts Institute of Technology.

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Ainda não dá para dizer que essa medição de energia — ou mesmo a detecção de apneia do sono que a Samsung desenvolveu no Brasil e que está presente nos novos relógios — já concretiza o conceito da “IA enfermeira”, mas isso evidencia o quanto tecnologia de Inteligência Artificial precisa avançar para se tornar útil para as pessoas comuns na área da saúde.

O máximo que as maiores empresas do ramo conseguem fazer hoje é mandar algumas notificações para o seu relógio inteligente e mostrar um relatório simplificado no seu celular. Isso, porém, ajuda pouco quem pode ter um problema de saúde e não auxilia médicos reais na exploração de causas de determinados sintomas.

“Agora temos uma certificação nos EUA de um de nossos dispositivos para detectar apneia do sono. Nesse momento, quando nossos relógios detectam isso, eles dizem que seria bom o usuário buscar ajuda médica, mas o que estamos tentando fazer em breve é perguntar se a pessoa quer ser atendida por um médico agora, e então ser conectada a um profissional de verdade que poderá analisar nossos dados e começar a tomar atitudes, como fazer testes de sono em casa, realizar análises em laboratórios. A ideia é que a pessoa chegue a uma solução em vez de apresentarmos apenas um problema para ela”, concluiu Dr. Pak.
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O jornalista viajou à Paris para acompanhar a Galaxy Unpacked 2024 a convite da Samsung.