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Campo magnético do celular afeta o cérebro? 6 motivos para esquecer esse mito

Por  • Editado por Léo Müller | 

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Jonas Leupe/Unsplash
Jonas Leupe/Unsplash

Em outubro, um vídeo do influenciador, psicoterapeuta e pesquisador Pedro Sampaio circulou nas redes sociais após ele comentar declarações feitas pela psiquiatra-influencer Dr.ᵃ Beatriz, que afirmava que o campo magnético do celular poderia interferir no cérebro humano, especialmente durante o sono. Mas isso seria possível?

As falas chamaram atenção por sugerir que “o campo magnético do cérebro e do celular são muito equivalentes” e que, ao dormir próximo ao aparelho, ambos tenderiam a “se harmonizar”, superficializando o sono.

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O vídeo de Pedro teve grande repercussão justamente por explicar, de forma acessível, por que essas afirmações não se alinham ao que a física e a neurociência descrevem.

A seguir, explicamos os principais pontos que ajudam a esclarecer por que a ideia de interferência magnética entre cérebro e celular não encontra sustentação científica:

  1. O campo magnético do cérebro é menor que o de um celular
  2. Cérebro e celular geram campos diferentes
  3. O cérebro não ‘desliga’ durante o sono
  4. Campos magnéticos não se “harmonizam”
  5. Não há evidências
  6. Excesso de telas trazer prejuízos por razões completamente diferentes

1. O campo magnético do cérebro é menor que o de um celular

A Dr.ᵃ Beatriz afirma no vídeo que os campos seriam “equivalentes”, mas Pedro Sampaio destaca que essa equivalência não ocorre. Segundo ele, “o campo do cérebro é ínfimo, está na faixa de fentotesla a picotesla, tanto que para medir precisamos usar equipamentos caríssimos em salas blindadas”.

Sampaio ilustra que a diferença entre esses campos seria “como comparar a massa de uma formiga com a de um Boeing”, uma escala tão distinta que torna qualquer comparação direta impraticável.

2. Cérebro e celular geram campos diferentes

Outra justificativa apresentada no vídeo original é que ambos funcionariam por descargas elétricas, sugerindo semelhança entre seus campos.

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No vídeo, Pedro explica que isso não se aplica: “O cérebro gera campos porque íons se movem nos neurônios. O celular, porque corrente elétrica passa pelos circuitos. A natureza, intensidade e efeito desses campos são completamente diferentes.”

Ou seja: o fato de ambos envolverem eletricidade não significa que seus campos têm qualquer relação prática.

3. O cérebro não ‘desliga’ durante o sono

A Dra. Beatriz também afirma que, ao dormir, o cérebro desligaria seus circuitos e reduziria seu campo magnético, tornando-se mais suscetível ao campo do celular. Sobre isso, Pedro comenta:

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“O cérebro não desliga quando dormimos, apenas muda de atividade. O sono produz ondas lentas que acabam aumentando o campo — embora ele siga absolutamente pequeno.”

Mudanças fisiológicas durante o sono existem, mas nenhuma delas cria condições que favoreçam interferência entre campos magnéticos tão distintos.

4. Campos magnéticos não se “harmonizam”

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O vídeo original também menciona que “dois campos magnéticos tendem a se harmonizar”. Conforme Pedro explica, esse conceito não aparece na física moderna.

“Segundo as equações de Maxwell, os campos simplesmente se somam. Não existe isso de equivaler. Se fosse assim, um ímã de geladeira já transformaria seu cérebro em uma bússola", complementa o influenciador. A ideia de “harmonização” não possui respaldo teórico.

5. Análise técnica: não há evidências

Para uma avaliação mais profunda, o Canaltech conversou com o Prof. Thiago Henrique Roza, da UFPR, que pesquisa há anos o uso problemático de tecnologias e seus impactos. Roza afirma:

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Estudando todos esses anos a interação entre seres humanos e tecnologias, eu nunca vi ninguém falar disso. Pode existir algum estudo muito obscuro, mas nada que tenha ganhado atenção internacional. Ele também reforça: Não existe evidência científica de que o campo magnético do celular interaja de forma significativa com o campo gerado pelo cérebro.

6. O que realmente afeta o sono e a saúde mental no uso de celulares

Embora a hipótese magnética não se sustente, o uso excessivo de telas realmente pode trazer prejuízos, mas por razões completamente diferentes. Roza explica que os principais fatores são:

  • Luz intensa à noite;
  • Excesso de estímulos;
  • Interrupções constantes por notificações;
  • Ansiedade
  • FOMO;
  • Perda de foco e sono fragmentado.
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Tudo isso contribui para cansaço, problemas de atenção e alterações de humor, mas nenhum desses efeitos está ligado ao campo magnético do aparelho.

A discussão recente ganhou destaque por combinar afirmações sobre magnetismo com preocupações legítimas sobre o uso de celulares, mas são temas diferentes. O campo magnético do cérebro funciona de maneira distinta do celular e não há evidências de interação entre eles.

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