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Review Arcane | A experiência definitiva em Runeterra

Por| Editado por Bruna Penilhas | 24 de Novembro de 2021 às 11h56

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Divulgação/Netflix
Divulgação/Netflix

Arcane chegou com uma premissa bem clara vinda da Netflix e da Riot Games: contar uma história no universo de League of Legends, mas que não funcionasse apenas para os jogadores do MOBA. E na tentativa de criar uma experiência nova tanto para os fãs quanto para aqueles que nunca experimentaram nada do universo de LoL, a produtora Fortiche entrega uma animação feita por quem entende daquele universo, como uma forma de condensar mais de uma década do game em uma série.

Como já mencionado no Preview, a Fortiche já é parceira de longa data da Riot Games quando se trata de animações. Porém, aqui, o estúdio francês sobe um degrau no nível de excelência. As expressões, os olhares e a movimentação dos personagens são impressionantes.

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Você consegue sentir o “peso” dos movimentos, seja nas cenas de luta ou nas interações entre os personagens. Os olhos se movimentando conforme o discurso se torna mais acalorado é só um dos detalhes que fazem Arcane alcançar um patamar diferente para produções animadas.

O conto de duas irmãs

Arcane usa a história de duas campeãs para narrar os acontecimentos. As irmãs Vi e Jinx são as personagens principais dessa trama e vivem pelo mesmo ideal, mas com visões diferentes. Ambas querem acabar com a opressão que Piltover exerce em cima da Subferia, que abriga um povo revoltado e pobre, que sobrevive das migalhas que vem do “povo do alto”.

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Sendo dois frutos da opressão que Piltover exerce, as personagens trilham caminhos diferentes ao longo da série, e a dinâmica entre elas impacta totalmente o andamento da história. Enquanto Vi ainda acredita no melhor das pessoas, Jinx é manipulada desde criança a entender que todos são ruins com ela.

Antes de assumir o novo nome, Powder era uma garotinha que se sentia frágil e necessitava constantemente da aprovação da irmã mais velha para afirmar sua força interior. Já Jinx é o fruto de uma infância quebrada e conturbada com vários eventos traumáticos. Quando mostra a visão de Jinx sobre os fatos, Arcane traz uma realidade distorcida, com julgamentos, seus erros e seus medos sendo expostos na tela. Cada surto da ladra de Zaun é um deleite visual.

A dualidade entre as irmãs é amplamente explorada nos Atos 2 e 3. Elas acabam se tornando joguetes na briga política que envolve Zaun e Piltover. As cidades que se odeiam, mas que são iguais, traçam um paralelo entre as duas irmãs. Enquanto uma é forte, decidida e poderosa, a outra é instável e insegura.

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Vi e Jinx são o fio condutor da história, ao lado de Jayce e Viktor. Os criadores da tecnologia Hextech acabam sendo responsáveis por alavancar os problemas políticos e aumentar a desigualdade social que existe entre Piltover e a Subferia. Mesmo com a proposta altruísta da dupla de cientistas, Viktor se perde na tentativa de salvar seu corpo e Jayce é seduzido pela politicagem e o jogo de poder na cidade do Progresso. Apesar de se enganarem de que estão fazendo tudo pelo bem maior, ambos se entregam inteiramente no projeto para objetivos pessoais.

Inclusive, a mais grata surpresa em Arcane é Viktor. O personagem que sempre me pareceu unilateral ao jogar League of Legends, aqui ganha uma camada enorme de profundidade que me fez comprar todas as motivações para a sua evolução gloriosa.

Viktor é um personagem que sentiu tudo o que de ruim que a Subferia pode ter, mas que ganha acesso à força e aos privilégios que podem acabar com o sofrimento do povo. Na busca de melhorar a vida de todos, e também a própria, o personagem é, de longe, uma das melhores apresentações que Arcane fez aos fãs de LoL e ao público geral.

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Todos são meus inimigos

Arcane faz algo que talvez muitos fãs de League of Legends não poderiam esperar vindo da Riot. A série consegue ter um ar de brutalidade e abordar temas que não condizem com o jogo divertido e vibrante que existe dentro de Summoner’s Rift. Essa mudança de tom também serve para mostrar que personagens que parecem ser heróis, como Jayce, podem ter falhas, erros e ser alguém com uma moral extremamente dúbia.

A impressão que fica ao jogar LoL e ver as artes conceituais e breves histórias dos personagens é que Piltover é uma cidade boazinha e Zaun é a casa dos vilões. Mas, ao assistir Arcane, entendemos que não existem pessoas completamente boas ou ruins no mundo de Runeterra. A série mostra que em um mundo com tantos conflitos, problemas e interesses pessoais, ninguém é eximido de culpa.

Arcane faz um excelente trabalho ao mostrar que até mesmo os maiores campeões de Runeterra podem cometer decisões ruins. Na premissa de mostrar que todos são falhos, a série capricha nas críticas sociais, repressão policial e desigualdade social que permeia na trama. Com políticos omissos aos problemas dos mais pobres e uma polícia corrupta, Piltover e Zaun não têm problemas tão diferentes dos nossos — e é aqui que a adaptação acerta e muito.

O monstro que você criou

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Jinx é o centro dessa história, sendo a pessoa que causou parte do caos na Subferia. A personagem se torna uma agente do caos e complica a vida de todos os personagens. O grande mistério que a série colocou na cabeça das pessoas antes do lançamento era o que foi necessário para uma garotinha fofa virar uma ladra com problemas psiquiátricos. E a série mostra que aquilo sempre esteve nela, só precisava de um empurrão para desencadear o caos.

Apesar de Jinx se tornar uma personagem completamente perturbada pelos problemas que ela enfrenta durante os atos, Arcane não tenta “passar pano” para ela, sempre mostrando que a garota não tem mais nenhum tipo de tato ou algo que a prenda na realidade. Jinx é completamente "fora da casinha" e não tenta, em nenhum momento, se adequar a normalidade dos outros personagens.

Sempre com uma visão distorcida e tentando entender os motivos de seus traumas, Jinx ganha uma profundidade que antes não era atribuída à personagem. Antes, ela poderia ser vista somente como a “Arlequina do LoL”, mas agora ela tem uma história para chamar de sua. A campeã possui grandes momentos durante a série, que nunca deixou de dar o destaque necessário para a transformação de Powder no que ela é hoje.

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A construção de universo

Arcane faz algo que já estava presente nos textos sobre a mitologia de League of Legends, mas expande de uma forma mais palatável para os fãs de consumirem, que é entregar com excelência o mundo de Runeterra. Com 10 anos de histórias, fica difícil acompanhar todo o caminhão de informações que estão nos textos sobre a mitologia de LoL. Com a série, a Riot Games consegue juntar com maestria todas as relações e informações necessárias sobre a construção do universo de Runeterra.

A relação entre Vi, Jinx e Ekko é algo que não é amplamente explorado no jogo — até existem algumas falas aqui e ali, mas nada fundamental. A própria relação das irmãs é somente pincelada entre as falas dos campeões. Por isso, Arcane chega para juntar os pedaços deste universo e mostrar o que tem para oferecer, com uma boa dose de emoção. Dessa forma, pessoas como eu, jogadores de League of Legends, passam a se importar ainda mais com as relações entre os personagens.

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Vale destacar as cenas de luta do terceiro ato. É espetacular ver Jayce, Vi, Jinx e Ekko mostrando suas habilidades em cenas de luta pesadas, com uma naturalidade que destoa de outras animações que conhecemos. Para mim, a cena que vai ficar cravada na minha mente por um bom tempo é o duelo entre Sevika e Vi, principalmente pelos pequenos detalhes que a animação possui. Arcane surpreende pelo visual como um todo, mas as cenas de luta vão além.

A sensação que a série causa é de que o universo de Runeterra ainda tem muito a oferecer. Começar com as batalhas entre Piltover e Zaun coloca o espectador no centro de tudo. Na vindoura invasão de Ionia, quem vende as armas para os noxianos é Piltover. Mostrar como a cidade que era um local focado na ciência e no progresso em benefício do povo se torna uma potência bélica, é uma boa forma de começar a contar o universo.

Embora LoL seja cheio de seres místicos e que estão vivos por eras, a série optou em focar nos conflitos mais centrados no povo e seus dilemas mais mundanos. Em um mundo onde seres de outra dimensão podem aparecer a qualquer momento, começar do ponto de vista de duas cidades rivais é um bom começo.

A consumação de uma era

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No preview dos quatro primeiros episódios de Arcane, falei sobre como a série parece ser a consumação de tudo o que a Riot Games produziu durante esses 10 anos de League of Legends. Mas ao terminar os nove capítulos, senti que, na verdade, este é só o começo. O jeito que a animação escala o conflito entre Piltover e a Subferia, até mesmo nos momentos finais, mostra que tanto a Riot quanto a Netflix ainda tem muito a mostrar de Runeterra. Com um mundo tão vasto e com tantas possibilidades narrativas, o horizonte é amplo para a série.

Para os novos fãs até os jogadores de LoL, Arcane é uma experiência emocionante que não se limita a somente contar uma história que envolve guerreiros ou magos. Para aqueles que não querem se aventurar no MOBA, a série oferece uma jornada muito satisfatória para desfrutar da mitologia que existe em torno desses personagens.

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Para os fãs de longa data, Arcane se torna a experiência definitiva dentro de League of Legends. Olhar para este universo tão rico e complexo, que até então era somente pincelado através das histórias encontradas no site oficial ou mais recentemente, lendo algumas interações das cartas em Legends of Runeterra, e perceber que ele cresceu é algo maravilhoso. A Fortiche entrega tudo aquilo que os fãs sempre sonharam: uma animação com o nível de detalhe e carinho que nós merecemos e aguardamos por tanto tempo.