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Crítica Sagrada Família | Manolo Caro constrói suspense irresistível

Por| Editado por Jones Oliveira | 21 de Outubro de 2022 às 20h00

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Reprodução/ Netflix
Reprodução/ Netflix
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Sagrada Família é uma das séries mais aguardadas da Netflix em outubro de 2022 e a chance de Manolo Caro se aventurar pelo gênero. O criador espanhol, que já era conhecido pelo drama de humor ácido A Casa das Flores, agora retoma ao streaming com uma trama recheada de mistério e tensão. E, sendo justa, ele se sai muito bem.

Com um enredo potente, Manolo constrói um retrato obscuro da maternidade em oito episódios bem elaborados. Além do texto magistral, o ritmo da produção é outro diferencial que faz com que a série não se perca e prenda a atenção do público, ainda que os dois primeiros episódios sejam um tanto quanto confusos.

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Atenção! Essa crítica tem spoiler de Sagrada Família

Assim que começa, Sagrada Família nos mostra uma mulher morena parindo um bebê. Mais para frente, no entanto, descobrimos se tratar de Glória (Najwa Nimri) que, agora loira, vive em um pacato bairro de uma cidade da Espanha com seu filho de colo Hugo e a babá Aitana (Carla Campra).

Elas passeiam em uma espécie de parque onde Glória se reúne com outras três mulheres para tomar margaritas. São Blanca (Macarena Gómez), Alicia (Ella Kweku) e Caterina (Alba Flores) — esta última acabou se mudar para o bairro junto de seu marido Germán (Álex García). A coincidência: todas são mães.

É através dessa premissa que somos apresentados aos personagens principais e descobrimos, desde o início, que todos parecem esconder um segredo. Aqui está a grande sacada de Manolo: mostrar que há um mistério no ar, mas não revelar sobre quem, com quem e porquê. Desse modo, o suspense vai sendo construído pouco a pouco e prendendo a atenção do público.

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De menos a mais

No terceiro episódio de Sagrada Família, as cartas já estão na mesa e já sabemos que Hugo na verdade não é o filho de Glória e sim seu neto. Acontece que ela foi barriga de aluguel para seu filho Santi (Nicolás Illoro) e sua nora. Quando Santi morreu, Glória decidiu fugir com a criança.

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Com tudo revelado, o desafio era, então, continuar fazendo com que a trama fosse atrativa e não perdesse o fôlego, e Manolo conseguiu. Unindo doses de comédia e muito mistério, a série se pautou em diálogos bem elaborados e em ganchos precisos para interligar a trama das quatro mulheres, manter um ritmo intenso e garantir o suspense, que aumenta a cada capítulo.

Outro acerto foi a forma de explorar os personagens, trabalhando bem suas tramas sem deixar muitas pontas soltas. Embora Glória e Caterina fossem responsáveis pela tensão, envolvidas em um sútil jogo de gato e rato, Aitana, Abel (Iván Pellicer) e Germán não deixaram por menos e se tornaram personagens igualmente necessários.

A maternidade como protagonista

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Não dá para negar que a maternidade se tornou o ponto principal da série, sendo o elo com cada personagem. Aqui, no entanto, Manolo não a retrata como a coisa sagrada e divina que estamos acostumados a conceber.

Enquanto Glória enlouquece e rouba Hugo da nora, Blanca bebe para esquecer os problemas e mascarar a dificuldade de lidar com as limitações cognitivas de seu filho. Já Alicia quase se submete a um processo de adoção, mesmo sem querer ser mãe. Seja qual for a questão, a verdade é que Manolo escancara de forma exagerada os dilemas da maternidade na vida moderna.

Elenco consagrado

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Além de uma trama bem escrita e executada, Sagrada Família também contou com um elenco renomado, o que ajudou (e muito) a atrair visibilidade para a série. A protagonista ficou com Najwa Nimri, que já havia brilhado anteriormente como a poderosa Zulema Zahir em Vis a Vis e como a implacável detetive Alicia Sierra em La Casa de Papel.

Aqui, no entanto, a vemos sair do pedestal de poderosa — papel que sempre lhe cai muito bem — e construir uma Glória vulnerável, sensível e frágil. Ela prova, mais uma vez, que é capaz de interpretar qualquer personagem que lhe propõem, desde uma bandida perigosa até uma mãe amorosa, porém louca. Enquanto a primeira não se importava com ninguém, a segunda se importa de um jeito doentio, e ambas são magistrais.

Alba Flores também não fez feio, e embora o sotaque exagerado da sua personagem tenha sido um despropósito, a atriz conseguiu criar uma Caterina forte e carismástica, capaz de consquistar o público mesmo quando falava os maiores absurdos do mundo. Claro que mais uma dobradinha de Alba e Najwa era algo muito aguardado pelo público e, como sempre, não decepcionou.

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Já Macarena Gómez também conduziu bem sua Blanca, mas que muito se assemelhou à Merche de 30 Monedas. Quem viu a série de Aléx de la Iglesia parece estar vendo a cópia da personagem, igualmente descontrolada e a mercê de um marido que não lhe dá importância.

Final em aberto ou próxima temporada?

A medida que os mistérios iam se resolvendo, ficava apenas uma pergunta no ar: como será o final de Sagrada Família? Manolo, no entanto, preferiu deixar essa questão para o público responder. Afinal vimos Glória, sequestrando Hugo, Natália (sua nora) e Aitana, tudo isso com ajuda de Abel, mas não sabemos qual será o próximo destino do grupo ou o desfecho da história.

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Glória vai presa? Natália consegue recuperar o filho? Essas e outras perguntas terão que ficar para a imaginação do espectador, pelo menos até o momento. E, embora esse encerramento tenha desagrado a algumas pessoas, ele resume bem o que é a série: uma sequência de fatos imprevisíveis, que vai contra tudo que imaginamos.

Vale a pena assistir Sagrada Família?

Sim! Com um enredo potente, ritmo consistente e um elenco de estrelas, Sagrada Família tem grande chances de conquistar o público — até mesmo aquele que não curte muito uma história de suspense. Embora tenha feito algumas escolhas equivocadas, Manolo encontra o caminho e acerta o tom nessa produção da Netflix.

Um ponto que merece destaque é a abertura. Curta e bonita, ela usa um jogo de vitrais para mostrar o início de cada capítulo. Primorosa.

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Os oito episódios de Sagrada Família já estão disponíveis na Netflix.