Crítica O Eleito | A chegada de um Messias juvenil na Netflix
Por André Mello • Editado por Jones Oliveira |

A segunda vinda de Cristo é algo que já foi centro de várias obras de ficção, mostrando principalmente como o mundo aceitaria o retorno de uma figura messiânica nos dias de hoje. A história em quadrinhos American Jesus - O Eleito, de Mark Millar, aborda exatamente isso e mostram como seria essa pessoa e a descoberta de seus poderes.
A ideia do quadrinho foi tão interessante que a Netflix, após anos de uma adaptação para os cinemas permanecer limbo, resolveu levar a história para as telas, na forma da série O Eleito. Abordando temas como idolatria, religião e megalomania, a série tem um começo morno, mas que entrega uma boa experiência na sua segunda metade.
Jodie, filho de Sarah
O Eleito começa com uma jovem mãe, Sarah, vivida por Dianna Agron (Glee), fugindo para o México com seu filho pequeno, Jodie. Desde as primeiras cenas, é possível notar que Sarah, que nem é seu nome verdadeiro, está tentando proteger a criança, que apresenta dons especiais.
O tempo passa e vemos o jovem Jodie vivendo no México, em 1999. Vivido pelo ator Bobby Luhnow, ele é um pré-adolescente tímido tentando entender exatamente quem é como pessoa. Ao lado de alguns amigos, ele acaba se envolvendo em uma jornada no meio do deserto, que acaba em um acidente que deveria ter matado Jodie. Só que ele sobrevive sem um arranhão.
Isso começa a gerar dúvidas na cabeça do jovem, principalmente quando novos dons começam a aflorar perto do seu aniversário de 13 anos. Dons como transformar água em vinho e curar enfermos.
Jodie começa a ser visto como um Messias, a segunda vinda de Cristo à Terra. Enquanto isso, sua mãe tenta desesperadamente fazer com que o filho permaneça em silêncio para não ser encontrado por forças ocultas.
Os primeiros episódios de O Eleito são um pouco confusos, com a atuação do elenco mais jovem tentando levar uma trama que parece pesada demais para eles. O desenvolvimento dos poderes de Jodie também não é dos melhores, já que eles são tratados como coisas completamente triviais, mesmo sendo realmente importantes e com possíveis consequências globais.
Uma boa sacada é situar a série em 1999, uma época em que a internet não dominava tanto o mundo. Por se passar em uma cidadezinha no México, é aceitável que no primeiro milagre de Jodie, o local não fique absolutamente lotado de pessoas para seguir o novo Messias.
Os efeitos da idolatria e religião
Um ponto bastante interessante e que acredito ter sido bem retratado na série é a forma como as pessoas do vilarejo reagem aos milagres de Jodie. A mudança do cenário da história, que se passa nos EUA nos quadrinhos, para o México também é interessante pela relação que o povo latino tem com a religião.
Enquanto católicos e evangélicos tentam encontrar um meio termo frente ao que está acontecendo, as pessoas acabam se perdendo na idolatria, mostrando que independente da religião, conflitos nascem da própria natureza humana e a busca por respostas sobre sua própria existência.
A série mostra a hipocrisia, a violência e a intolerância até frente aqueles que, até pouco tempo atrás, eram irmãos. Tudo por conta de ideias de salvação que uma religião, independente de qual, prometeu a eles.
É algo que poderia ter sido mais explorado ao longo dos seis episódios da temporada, mas quando finalmente esse tema ganha destaque, a trama parece ganhar mais peso e deixa de ser apenas um adolescente deslumbrado com poderes supostamente divinos.
Os problemas de um messias adolescente
Quando a história realmente embala, Jodie começa a comprar a ideia de ser o novo messias. Coisas que ele tanto almejava estão ao seu alcance, mas é possível notar como o poder começa a mudar o adolescente.
Se sem nenhum poder, esse período da vida já é bastante confuso, com dons messiânicos, isso torna as atitudes que Jodie toma ainda mais caóticas. Através dessas atitudes que alguns segredos sobre a vida dele e de sua mãe começam a ser revelados, explicando melhor exatamente por que o jovem tem esses poderes.
Quem leu o quadrinho American Jesus - O Eleito, sabe o caminho que a história leva, já que, nesse ponto, a série da Netflix é bastante fiel ao material original.
A série é relativamente curta, mas deixa um gancho interessante e que abre uma boa possibilidade de a Netflix inclusive superar a trama dos quadrinhos. Até mesmo a presença de Tenoch Huerta (Pantera Negra: Wakanda para Sempre) parece muito bem aproveitada, ficando para ter mais destaque no futuro. Resta saber se a história vai emplacar o suficiente para continuar por, pelo menos, mais duas temporadas.
O Eleito já está disponível para assistir na Netflix.