Crítica | Mãe Só Tem Duas é comédia dramática que reveza entre novela e sitcom
Por Natalie Rosa |
Ainda em 2019, a Netflix anunciou a abertura de um escritório no México, prometendo de início mais de 50 produções originais no país, incrementando o seu catálogo no idioma espanhol. A promessa já vem sendo cumprida, visto os lançamentos recentes da plataforma de streaming, como Desejo Sombrio, Control Z e Aceleradas, entre outros títulos, sejam eles filmes ou séries.
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Um dos últimos lançamentos chegou neste mês de janeiro, conquistando o Top 10 da Netflix ainda nos dois primeiros dias de estreia. Na série Mãe Só Tem Duas, acompanhamos a história de duas bebês que nasceram no mesmo dia e no mesmo hospital, e que pela falha de uma enfermeira iniciante foram trocadas e acabaram indo para a casa da mãe errada. A melhor solução encontrada pelas mães, então, foi transformar as duas famílias em uma só, devido ao apego desenvolvido durante o período da troca.
Atenção: esta crítica contém spoilers da série Mãe Só Tem Duas!
Mãe Só Tem Duas é uma série curta, com apenas nove episódios, mas conta com todo o drama de uma boa série mexicana, incorporando também um pouco de humor. Seguindo os estereótipos já conhecidos pelos brasileiros, a trama também traz protagonistas que são a vilã e a mocinha, uma rica e a outra pobre, uma de personalidade controladora e outra mais submissa. Além disso, a série não deixa de se apegar às lições de vida, mostrando que uma pessoa pode mudar perante às circunstâncias que jamais imaginaria passar, aprendendo a valorizar a família e aceitar que também erra.
A produção traz um rosto já conhecido pelos brasileiros que foram crianças no fim da década de 1980 e início de 1990: Ludwika Paleta, a Maria Joaquina da novela Carrossel. A atração fez tanto sucesso no Brasil que jamais foi esquecida e ganhou uma versão mais atual e brasileira no mesmo canal. Assim como a sua personagem da infância, que brincava com os sentimentos do colega Cirilo, Ana, em Mãe Só Tem Duas, é rica e arrogante. O rosto da atriz parece ser tão familiar no Brasil quanto é no México, o que pode ter chamado a atenção do espectador na hora de entrar na plataforma de streaming para escolher o que assistir.
A outra protagonista também tem o seu mérito, apesar de ser desconhecida no Brasil, e não falta talento. A atriz Paulina Goto, que interpreta Mariana, trabalha no México também como cantora e acumula milhões de seguidores nas redes sociais, comprovando toda a sua popularidade. Juntas, as protagonistas interpretam mulheres completamente diferentes, seja no estilo de vida e ideologias como no poder aquisitivo, mas que se apegam às filhas trocadas, uma vez que o problema foi apenas descoberto quatro meses depois do nascimento.
O desapego das bebês foi difícil por ambas as mães, então Ana convida, ou exige, que Mariana viva com ela em sua mansão com seu marido, dois filhos e empregados. A partir de então, o espectador acaba descobrindo que a junção da vida delas não é uma novidade, envolvendo casos no passado e que garantem boa parte do drama da história. Afinal, se tem algo que os latinos, incluindo os brasileiros, sabem construir é um bom dramalhão.
A vida de ambas as personagens é virada do avesso quando diversas questões existenciais são colocadas à prova junto a essa nova vida. Ana, por exemplo, é extremamente apegada à profissão e tenta provar, dia após dia, que é capaz de executar o seu trabalho bem feito em uma empresa dominada por homens. Enquanto isso, ela também enfrenta a desaprovação do marido pelas horas excessivas fora de casa. Já Mariana, ainda muito jovem, luta com o fato de não conhecer o pai e precisa lidar com o ex-namorado e pai da bebê, Pablo (Javier Ponce), a sua "ficante" Elena (Oka Giner), e decidir o que será do seu futuro no quesito profissional.
A série debate questões de relações amorosas, familiares e de amizade, enquanto diverte com seus personagens expressivos, como os filhos de Ana, que não são desperdiçados da história e contam com a sua relevância. Em uma mistura de romance e humor em um produto que pode tanto ser classificado como uma novela e também como uma sitcom, Mãe Só Tem Duas peca apenas por alguns furos de roteiro, cortes de cena sem sentidos, entre outros problemas relacionados à direção dos atores que beiram o amadorismo. No entanto, a produção acerta em trazer um título divertido e leve sem ser vazio, mesmo que esteja longe de ser classificada como uma obra-prima mexicana.
Mãe Só Tem Duas está disponível na Netflix em nove episódios.