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Crítica | Selena: A Série conta de forma leve história trágica de cantora latina

Por| 13 de Dezembro de 2020 às 10h00

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Divulgação: Netflix
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Os Estados Unidos são um país que conta com uma grande população latina, principalmente do México, de pessoas que chegaram lá em busca de uma vida melhor. Com a chegada dessas pessoas e suas instalações em solo norte-americano, famílias foram sendo formadas, fazendo surgir novas gerações e instaurando a cultura latina, que até hoje traz à mídia grandes artistas.

No estado do Texas, que fica no Sul dos Estados Unidos e colado com o México, até mesmo um estilo musical próprio surgiu: a música tejana. Tejano é um termo que mistura "Texas" com "mexicano", que consiste em pessoas com ascendência mexicana, de parentes que tiveram o espanhol como a sua primeira língua. A música tejana combina em suas melodias influências mexicanas, europeias e norte-americanas, trazendo canções populares e com aquela pegada latina, além de, claro, usar o idioma de origem como principal.

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Um dos grandes artistas tejanos que surgiram nas últimas décadas foi Selena Quintanilla, nativa da cidade de Lake Jackson, no Texas, sendo de uma geração que já nasceu nos Estados Unidos devido aos esforços das gerações passadas que viajaram ao país de língua inglesa para melhores oportunidades de vida. A carreira de Selena atingiu proporções inimagináveis de sucesso para o estilo musical, mas a sua trajetória foi curta, chegando a um ponto final no dia 31 de março de 1995, quando tinha apenas 23 anos, após ter sido assassinada por uma fã.

Já se foram 25 anos desde a sua morte, e a sua carreira acaba de ganhar mais uma homenagem em Selena: A Série, que conta como foi a trajetória da cantora, desde quando seu pai descobriu a sua voz poderosa e o seu talento para a música, até quando montou a banda Selena Y Los Dinos com seus irmãos e conquistou os Estados Unidos e os países latinos.

Atenção: esta crítica contém spoilers de Selena: A Série!

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A responsabilidade de reproduzir em imagens uma história real é gigantesca, mas ela toma proporções maiores quando se trata de pessoas que já se foram e que deixaram um legado. A primeira vez que a história de Selena ganhou vida mais uma vez foi nos cinemas, com a estreia do longa Selena, de 1997, que deu o papel da cantora para Jennifer Lopez, outra estrela latina. Agora, 23 anos depois, chegou a hora de enfrentar a resposta dos fãs mais uma vez.

A série não deixa de nos apresentar a cultura tejana enquanto conta a história da cantora, mostrando a importância de reconhecer as suas raízes e de fazer com que as pessoas se sintam à vontade em ter um pouco dos seus antepassados nos países em que agora vivem. Diferente de muitos filhos de latinos ou asiáticos que vivem nos Estados Unidos, Selena, interpretada por Christian Serratos, conhecida por The Walking Dead e pela saga Crepúsculo, não cresceu aprendendo a também falar espanhol, precisando se dedicar a isso para conseguir não só cantar com mais tranquilidade suas músicas, como também para poder interagir com o seu público e dar entrevistas.

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Somos apresentados, em Selena: A Série, a uma jovem cheia de desejos e ambições, que gostava não só de música, como também de moda, e que precisou deixar de lado muitas fases da sua transição para adolescência e, então, para a vida adulta, para viver a fama. Essa parte não tinha como ficar de lado da trama e acabou dominando a primeira parte da série, que se encerra em um momento rumo à ascensão. Parte desses momentos são retratados mostrando o quão rígido era o pai de Selena, Abraham Quintanilla (Ricardo Antonio Chavira), que acabava a privando de ter momentos simples da juventude, como ir ao cinema com amigas ou ainda conhecer garotos e, potencialmente, namorar.

O mesmo tratamento era dado à sua irmã, Suzette Quintanilla (Noemi González), baterista da banda, mas nunca com o irmão A.B. Quintanilla (Gabriel Chavarria), o baixista e compositor dos sucessos do grupo, já despontando o machismo de uma época em que a diferença de tratamentos era escancarada. Tudo isso, claro, sob a justificativa de preservar a integridade da cantora, que carrega em sua imagem todo o peso de um nome comercial e gerador de renda. Esses momentos trazem muitos dramas para a primeira parte da série, principalmente focando no relacionamento escondido de Selena com Chris Pérez (Jesse Posey), guitarrista da banda que viria a ser seu marido.

Além disso, a série mostra que a vida na estrada, principalmente quando a fama não para de aumentar, significa deixar de lado a vida pessoal. A.B. acaba se casando e tendo dois filhos, precisando conciliar a família com a banda, na qual tem um papel muito importante. Porém, nenhuma dessas situações transforma a série em uma produção pesada, mas optando por focar mais no carisma de Selena e nos momentos divertidos que a família enfrentou durante o início do sucesso. Não chegam a ser cenas engraçadas, mas trazem uma leveza para preparar para os momentos que estão por vir com a morte da cantora.

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Muitas das cenas já vistas no longa se repetem na série e acabam não sendo uma surpresa para quem já está familiarizado com a história, mas não deixa de ser menos interessante por isso. Um dos detalhes que mais trazem valor à série, de fato, é a caracterização. Sem maquiagem e penteados que Selena usava na adolescência e no início da vida adulta, Christian Serratos não tem qualquer semelhança com a cantora, mostrando o quão fiel foi a transformação.

O figurino usado por Selena também chama a atenção na trama, que além de serem fielmente reproduzido pelas roupas usadas pela cantora em imagens da vida real, representam o olhar carinhoso que ela tinha pelas vestimentas, sempre fazendo questão de investir no seu estilo próprio na hora de se vestir, se tornando uma de suas grandes características. A série também ganha pelo musical, mostrando diversas cenas de ensaios, shows pequenos e grandes, apresentando à nova geração quem foi essa cantora e como era o seu estilo de música, além de sua voz poderosa.

Para contrabalancear os momentos de machismo, a série apostou em uma cena bastante significativa que mostra a importância não só da representatividade de Selena enquanto mulher latina em frente a uma banda, como também a de Suzette sendo uma baterista mulher. Na série, Suzette recebe uma fã, achando que ela gostaria de falar com a irmã, e se surpreende ao ouvir que a garota a admirava, na verdade, dizendo que nunca viu uma mulher sendo baterista e que queria ser como ela.

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O final da primeira parte da série, no entanto, deixou a desejar na entrega da verdadeira Selena, quem era essa pessoa fora da banda, sem a dependência da família, e falhou em desenvolver mais a sua personalidade. Talvez, esse não seja o propósito da série, mas sim considerar os acontecimentos como um todo, assim como foi no filme, mas talvez esse tão esperado desenvolvimento que homenagearia Selena também como pessoa e não somente como artista virá na segunda parte, que ainda não tem data de estreia.

A série chegou ao fim, como já era de se esperar, com a primeira aparição da assassina. Suzette oferece um cargo à fã Yolanda Saldívar, que se tornaria responsável pela comercialização dos produtos de divulgação oficiais da cantora, que a roubaria e a mataria.

Os nove episódios da primeira parte de Selena: A Série estão disponíveis no catálogo da Netflix.