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“Situação Moro” força governo a mudar para celulares criptografados pela Abin

Por| 13 de Junho de 2019 às 13h15

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(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O governo federal vai adotar um novo modelo de segurança e privacidade no uso de dispositivos portáteis, como smartphones e tablets, segundo apuração do jornal O Globo. Pelo periódico, a alta cúpula do governo, o que inclui o presidente, a equipe ministerial e alguns outros integrantes do Poder Executivo, deverão fazer uso exclusivo de celulares criptografados pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

A situação é uma resposta processual ao recente vazamento de diálogos travados entre o atual Ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o Procurador da República, Deltan Dallagnol, em relação ao processo judicial que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão. Na época, Moro era juiz federal. Segundo o vazamento, cujas informações foram publicadas pelo site The Intercept, Moro e Dallagnol combinaram atuações na Operação Lava Jato. A reportagem cita ainda mensagens que sugerem dúvidas dos procuradores sobre as provas para pedir a condenação de Lula no caso do triplex do Guarujá, poucos dias antes da apresentação da denúncia.

Mais além, o vazamento publicado pelo site indicou que ambos os magistrados agiram para barrar uma entrevista de Lula previamente autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A entrevista em questão acabou não acontecendo, mediante proibição emitida pelo ministro do STF, Luiz Fux.

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Nos últimos dias, inclusive, novas invasões teriam ocorrido, com destaque para uma situação em que membros do grupo do Telegram do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) acharam estranho o tom das mensagens enviadas pelo conselheiro Marcelo Weitzel Rabello de Souza e, ao questioná-lo sobre se era mesmo Marcelo que estava enviando a eles tais mensagens, receberam como resposta “aqui é o hacker” — indicando que eles estavam falando com o hacker responsável por roubar as conversas pessoais do ministro Sérgio Moro que foram divulgadas neste fim de semana.

Devido ao caso, a preocupação do Palácio do Planalto é a de que o uso de smartphones particulares e o tratamento de processos de gestão política — alguns, inclusive, confidenciais — colocam em risco o andamento político da alta cúpula presidencial. É de conhecimento geral que o presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, costuma dar preferência a apps de mensagens como WhatsApp e Telegram para acelerar o fluxo de comunicação entre ele e sua equipe. Pela nova medida, os smartphones da Abin contêm criptografia que impede a instalação desses aplicativos.

“O presidente é orientado pelos seus agentes de segurança nas área física e cibernética como comportar-se. Em cima dessas orientações que ele vem tomando as precauções que são necessárias”, disse ao Globo o porta-voz da presidência, Otávio do Rêgo Barros, que também afirmou que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) vem alertando o presidente, ministros, secretários e servidores do alto escalão sobre os cuidados sobre o risco na comunicação.

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No ato dos vazamentos publicados pelo Intercept e seus dias subsequentes, o Telegram foi questionado pela imprensa brasileira se foi identificada alguma tentativa de invasão ou quebra de segurança no aplicativo de mensagens. Eles prontamente negaram que houvesse qualquer problema, mas ressaltaram a possibilidade de que o próprio smartphone (e não somente o app) estivesse sob vigilância de terceiros. Ontem (12), o Canaltech noticiou que o Telegram foi vítima de um forte ataque de negação distribuída de serviço (DDoS), que eles atribuíram ter vindo da China.

Moro e Dallagnol seguem negando qualquer irregularidade sobre o caso, dizendo que o diálogo travado via app, e confirmado pelo Planalto, está dentro da normalidade.

Fonte: O Globo