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Seus dados de localização não são tão anônimos quanto seus aplicativos afirmam

Por| 11 de Dezembro de 2018 às 12h37

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Seus dados de localização não são tão anônimos quanto seus aplicativos afirmam
Seus dados de localização não são tão anônimos quanto seus aplicativos afirmam

A coleta de dados de localização e utilização é uma constante na maioria dos aplicativos, com os termos de uso, de forma geral, também afirmando que tais informações são obtidas de forma anônima. Uma reportagem do jornal americano The New York Times, entretanto, demonstrou que ligar esses dois pontos não é uma tarefa nada difícil, bastando ter acesso ao volume e um pouco de engenharia social. Quando toda essa telemetria é vendida, o panorama se torna bastante perigoso.

O jornal teve acesso a um banco de dados de mais de 1,2 milhão de celulares com os sistemas operacionais Android e iOS. Todos eram rastreados por softwares e, ao longo de um período de três dias, mais de 235 milhões de localizações ou visitas a pontos de interesse foram registradas no sistema. Tudo isso, claro, foi repassado pelos desenvolvedores e empresas a parceiros não apenas do mercado publicitário, mas também a fundos de investimento e empresas de análise de mercado, que buscam ter um panorama sobre padrões de consumo e comportamento.

Para tornar ainda mais assustadora a constatação, a reportagem confrontou os dados obtidos a partir da única empresa que cedeu o volume com os respectivos rastreados. Em um dos casos, por exemplo, uma professora de ensino médio de Nova York teve toda sua rotina registrada, com atualizações de localização realizadas, em média, a cada dois segundos a partir de um aplicativo de exercícios físicos, mesmo quando ele não estava sendo utilizado.

No banco de dados, estão presentes o horário que ela sai todo dia para dar aulas, sua movimentação dentro da escola e até mesmo situações que ela, talvez, não gostaria de ver públicas, como uma visita aos Vigilantes do Peso ou noites passadas na casa de um ex-namorado. Todos os dados estavam disponíveis de forma anônima, mas bastou uma ligação para a instituição de ensino em que ela trabalha para que localização e pessoa fossem unidos.

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Em outros casos encontrados pela reportagem, até mesmo crianças tinham suas rotinas escolares rastreadas, enquanto a união de sinais de celulares na hora da saída indicava o momento em que pais ou responsáveis a buscavam. Em outro caso, o mesmo valia para um executivo, com seu caminho diário e uma viagem sendo registradas na íntegra, com atualizações minuto a minuto.

Ao todo, os dados analisados foram obtidos a partir de 20 aplicativos. No total, os softwares avaliados repassam as informações de seus usuários para 70 outras companhias, sendo que uma única aplicação, o WeatherBug, disponível somente para iOS, envia os dados de seus utilizadores a 40 empresas.

A reportagem também encontrou inconsistências nos termos de uso de algumas aplicações, como foi o caso do app de esportes theScore. Ao pedir acesso à localização do usuário, ele afirma usar os dados para recomendar times locais, partidas e notícias relevantes aos usuários, mas as informações também são repassadas a 16 companhias dos setores de publicidade e marketing sem que isso seja mencionado.

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Outro caso problemático foi o do The Weather Channel, que pertence à IBM. Mais uma vez, o software pede acesso á localização para enviar notícias e, claro, mostrar automaticamente a previsão do tempo para o lugar em que se está. O que não é avisado, entretanto, é que os dados de localização também não compartilhados com empresas de análise de comportamento para realização de pesquisas sobre hábitos de consumidores.

A descoberta levanta um grave risco de má utilização, em diversos pontos. As visitas dos usuários a certos lugares, por exemplo, podem servir como medida para empresas de publicidade servirem anúncios, sem preocupação com os resultados de uma telemetria desse tipo. Enquanto isso, a ligação entre localização e identidade, simples de ser realizada, pode levar a crimes como extorsão, sequestro, roubo e outros.

No fim das contas, todavia, é o usuário quem acaba na berlinda, já que, muitas vezes, os softwares têm seu funcionamento interrompido caso permissões relacionadas à localização não sejam concedidas. A decisão final fica a cargo de cada um, mas é importante que se saiba que mesmo a ocultação de identidades prometida por tais softwares não torna os dados realmente anônimos.

Fonte: The New York Times