1/3 dos brasileiros já foram vítimas de fraude por cartão de crédito
Por Felipe Demartini • Editado por Claudio Yuge |
Um em cada três brasileiros já foi vítima de algum tipo de fraude envolvendo o cartão de crédito. O crime é o mais comum não apenas em nosso país, mas também em todo o mundo, gerando também uma preocupação global com a segurança das transações realizadas. Da mesma forma que o incide de golpes, por aqui, é um dos maiores do planeta, os consumidores daqui também são os mais preocupados, com 85% temendo serem vítimas.
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Os dados são de um relatório global da IBM sobre fraudes financeiras, que pintou o cenário desse tipo de crime em um mundo que adota cada vez mais as transações digitais e as compras com cartão de crédito. Depois do Brasil no ranking global entre os mais atingidos por golpes com cartão de crédito estão Singapura e EUA, onde 18% dos cidadãos, respectivamente, já sofreram com isso. China e Japão completam a lista dos maiores, com 15% e 9%, respectivamente.
A desvalorização da moeda, entretanto, não nos coloca entre os que mais perderam dinheiro para os golpistas. Segundo o levantamento, nos últimos 12 meses, os brasileiros perderam, em média, R$ 2.978 em fraudes, um total equivalente a US$ 581. O nosso país aparece em terceiro lugar em uma lista liderada pela Alemanha, com mais de US$ 3.917 perdidos na média, seguida de Singapura (US$ 1.216).
“As fraudes estão cada vez mais sofisticadas, principalmente as que envolvem engenharia social, o que motiva uma série de ações dos bancos para lidar com isso”, afirma Roberto Engler, líder de segurança da IBM Brasil. Na visão dele, ainda há um abismo entre o nível de conscientização da população e os esforços das instituições para manter a segurança, mas os investimentos que vem sendo feitos ao longo dos últimos anos ajudam a preencher esta lacuna.
“Os trabalhos são muito próximos [das autoridades] para que esses golpes possam ser investigados e punidos, além de ações de conscientização através da Febraban (Federação Brasileira de Bancos”, completa. “Em outra frente, [as instituições] investem em tecnologias cada vez mais avançadas, com inteligência artificial e biometria, para entender o comportamento dos clientes e avaliar a veracidade das transações.”
Engler cita, entretanto, o obstáculo da falta de mão de obra qualificada como um desafio para as instituições financeiras, com a estimativa de que de 300 mil a 400 mil vagas neste segmento não são preenchidas no Brasil. “É ao mesmo tempo um problema que precisa ser endereçado e, também, uma oportunidade para nosso país”, afirma.
Melhora nos sistemas acompanha pressão
A preocupação com os golpes também é alta nos países da Ásia. Em Singapura, 79% dos indivíduos temem serem alvos de fraudes financeiras, enquanto 72% dos japoneses pensam o mesmo. O foco de atenção, entretanto, muda; no Brasil, 89% acreditam que os bancos são responsáveis pela prevenção de golpes desse tipo, um resultado que se repete na maioria dos países com exceção do Japão, onde os serviços financeiros foram apontados, e China, que espera ver mais ação dos órgãos regulatórios do governo.
Mesmo com o alto índice de fraudes e preocupação, há também uma alta taxa de confiança nas instituições. 79% dos brasileiros confiam em seus bancos e operadoras de cartão de crédito para detectar atividades suspeitas, enquanto 18% afirmam que já tiveram seus cartões bloqueados por conta disso e 10% abandonaram compras após receberem alertas sobre possível perigo.
Na visão de Engler, pode existir, aqui, uma preferência pelos bancos tradicionais, em relação àqueles que já nasceram no mercado digital e apresentam um alto índice de fraudes. “Estas instituições optaram por um modelo de negócio focado em trazer o maior número de clientes o mais rapidamente possível, com pouca verificação. Enquanto isso, os mais antigos já possuem essa base muito grande e vêm investindo em prevenção”, explica Engler.
Outro aspecto também contribui para essa percepção, com as redes sociais sendo comumente usadas para relatar casos de fraude realizados nas contas dos clientes. Na visão do especialista, isso contribui para a imagem pública dos bancos no que toca a segurança, enquanto as já citadas campanhas de conscientização também atuam nesse sentido. “Não deveria ser um critério se um banco é digital ou não, mas sim, a preocupação que eles têm em relação à privacidade de dados e segurança nas transações.”
Por outro lado, a digitalização trouxe um forte aspecto comportamental, com as novas gerações apresentando maior maturidade em relação à utilização destas tecnologias. De acordo com o estudo da IBM, 37% dos millenials já passaram mais de uma hora checando suas contas atrás de sinais de atividade suspeita; são eles, também, que apresentam maior confiança em empresas que se preocupam com a segurança, com 42% afirmando que preferem aquelas que demonstram investir nesse aspecto na hora de se tornarem clientes.
Na outra via, o aumento nas decisões judiciais favoráveis a clientes que sofreram golpes, obrigando as instituições a ressarcirem valores e pagarem indenizações, também pode movimentar a engrenagem de uma maior proteção às transações. Isso também aparece no estudo da IBM, onde 63% dos brasileiros de todas as faixas etárias responderam que estariam mais propensos a usarem produtos de empresas que tiverem sistemas robustos de prevenção à fraude.
“As decisões judiciais oneram os bancos e aceleram os investimentos. Já dá para perceber claramente o esforço que está sendo feito em todas as frentes para elevar o grau de maturidade tecnológica e conscientização da sociedade”, completa Engler, que segue apontando a conscientização como fator fundamental para essa mudança.
No estudo da IBM, os países mais avançados e maduros tecnologicamente apresentam percentual de fraude mais baixos. Na visão do especialista, é uma demonstração de que também vamos chegar lá. “A conscientização é um processo gradual que passa desde a necessidade de maior educação nas escolas sobre segurança e privacidade até as campanhas realizadas pelos bancos”, finaliza Engler.