Você tem síndrome da caverna? Conheça esse impacto da pandemia na saúde mental
Por Nathan Vieira | Editado por Jones Oliveira | 15 de Maio de 2021 às 16h00
São inúmeros os impactos da COVID-19 em nossa saúde mental. Mas em meio a isso, uma condição chamada de síndrome da caverna tem preocupado os especialistas.
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Acontece que após mais de um ano de isolamento, muitas pessoas que se isolaram socialmente acabam com medo de retornar às suas vidas anteriores. Isso é algo que tem ocorrido até mesmo com pessoas que já foram totalmente vacinadas. Sair de casa depois de um ano e meio isolado está provando ser uma transição difícil.
Um estudo da American Psychological Association relatou que 49% dos indivíduos entrevistados apontaram desconforto em relação à ideia de retornar às interações pessoais quando a pandemia terminar. Segundo a pesquisa em questão, 48% das pessoas que receberam a vacina contra COVID-19 nos EUA se sentiam da mesma maneira.
Ao site norte-americano Scientific American, Alan Teo — professor associado de psiquiatria da Oregon Health and Science University — atribuiu a síndrome da caverna a três fatores: hábito, percepção de risco e conexões sociais. “Tivemos que aprender o hábito de usar máscaras, distanciamento. É muito difícil quebrar um hábito, uma vez que você o formou. Existe essa desconexão entre a quantidade real de risco e o que as pessoas percebem como seu risco", afirmou.
Segundo Teo, a tecnologia colocou as pessoas em maior risco de desenvolver efeitos da agorafobia, o medo de lugares abertos ou lotados. “A questão é se a prevalência deste tipo de condição extrema pode estar aumentando como resultado da COVID-19, particularmente em jovens ou adolescentes, onde o risco é maior", dissertou.
A caverna
Em entrevista ao Canaltech, Osmarina Vyel, psicóloga clínica e comportamental, explica que a síndrome da caverna remete à Alegoria da Caverna, narrada por Platão em sua obra A República. Trata-se de um diálogo entre Glauco e Sócrates, em que Sócrates pede para imaginar uma espécie de caverna subterrânea em que homens vivessem como prisioneiros desde sempre. A ideia é exemplificar como o ser humano pode se libertar da condição de escuridão, que o aprisiona, por meio da luz da verdade.
"No período da pandemia, este nome está sendo utilizado para se referir ao isolamento social, onde as pessoas são obrigadas a se manter em casa por período longo de tempo ou as próprias pessoas se obrigam a ficar em casa pelo medo de se contaminarem com o vírus", explica a psicóloga.
A especialista aponta que ao longo da pandemia, peercebeu aumento no medo, ansiedade e a dificuldade de dormir, e tudo indica que os números vão subir ainda mais. "Quando a pessoa permanece numa condição de estresse prolongado e não consegue ver saída, as esperanças diminuem, levando à depressão e outros males. Quanto mais tempo a pessoa permanecer reclusa, maior será o medo de enfrentar os desafios do mundo externo", analisa.
Vyel lembra que se deve procurar ajuda psicológica no momento em que mesmo estimulando a pessoa a sair de casa ela se recusa, e diante da insistência, a boca resseca e mãos esfriam, olhos arregalam, e apresenta palpitações no coração, evidenciando sintomas de pânico.
Questionada sobre como reconhecer se a pessoa está em casa só por causa da pandemia ou se está em casa simplesmente porque não consegue sair, a psicóloga aponta algumas características: "Basta observar se a pessoa está em casa em segurança, mas está inquieta, como se algo ruim fosse acontecer com ela, sempre querendo saber mais das mesmas notícias ruins e começa a dar desculpas para não sair de casa". Por fim, Vyel relembra a importância da ajuda profissional, com psicólogo, psiquiatra ou terapeuta ocupacional.
Fonte: Com informações de Scientific American