Você editaria um embrião seu? Pois saiba que a ciência está BEM longe disso
Por Fidel Forato |
A criação de bebês com uma inteligência sobre-humana, criando praticamente uma nova espécie, é um sonho (ou pesadelo) ainda distante para os cientistas. A dificuldade está em quais parâmetros e como determinar a inteligência de um bebê antes do nascimento.
Em novembro de 2018, a empresa Genomic Prediction anunciou uma nova técnica, desenvolvida para a triagem de vários genes para embriões. Esse método, segundo os pesquisadores, permitiria uma varredura em busca de condições ou características afetadas por vários genes, incluindo a inteligência. Essas observações seriam a base para uma "pontuação poligênica".
A pontuação funciona para que os pais evitem usar um embrião com um escore muito baixo para fertilização in vitro, o que rapidamente levantou preocupações sobre o uso dessa tecnologia para se obter bebês superinteligentes.
No entanto, esse medo se mostrou prematuro com um novo estudo apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Genética Humana. A pesquisa apontou falhas na precisão dessa pontuação.
Atualmente, embriões fertilizados são submetidos a testes genéticos antes da implantação, o que é uma opção bastante comum para pessoas que fazem fertilização in vitro. Com isso, evita-se o uso de um embrião que provavelmente não levaria a uma gravidez bem-sucedida ou que poderia desenvolver defeitos congênitos, anomalias físicas ou certos distúrbios de um único gene, como fibrose cística, uma doença grave que afeta pulmões e o pâncreas com alto risco de mortalidade
A chave para este tipo de pesquisa é que ela busca genes individuais, onde o médico deve procurar mutações no gene CFTR, o que difere da "pontuação poligênica" desenvolvida pela empresa que “compreende”, ainda no embrião, como diferentes genes se relacionam e como isso impacta o organismo.
Em análise
Para testar a técnica na triagem de múltiplos genes e como eles se relacionam no futuro bebê, a equipe liderada pelo geneticista estatístico da Universidade Hebraica de Jerusalém, Shai Carmi, criou modelos de computador de cinco embriões hipotéticos, frutos da combinação do DNA de duas pessoas.
No testes, os pesquisadores sabiam em alguns casos as alturas de ambos os pais e, em outros, os QIs deles, que é uma métrica para a inteligência.
Os cientistas então criaram “genomas virtuais” para os embriões e deram a cada um deles uma “pontuação poligênica” que, em tese, deveria revelar a altura ou o QI da pessoa que nasceria dele.
A partir disso, os pesquisadores produziram crianças com os embriões hipotéticos e descobriram que a técnica resultou apenas em pequenos ganhos nos embriões com pontuações mais altas, de aproximadamente 2,5 centímetros em altura e de 2,5 pontos a mais de QI, em relação à média.
Em outro tipo de teste, foi atribuída uma pontuação relacionada à altura para todos os filhos em 28 famílias, com uma média de 10 crianças. Em apenas sete das famílias, a criança com a maior pontuação foi a mais alta. Mas em cinco famílias, essa criança com maior nota era na verdade o menor dos irmãos, ou seja: se seus pais usassem a técnica de triagem poligênica, eles poderiam ter gerado uma criança mais baixa do que se tivessem deixado a altura ao acaso.
Embora a técnica possa permitir que os pais identifiquem embriões com probabilidade de apresentar deficiência intelectual, ela não parece pronta para levar à criação de bebês super-inteligentes e projetados tão cedo.
Fonte: Futurism