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Vírus modificado pode ser base de uma "vacina" contra o câncer de próstata

Por| 19 de Junho de 2019 às 09h19

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Vírus modificado pode ser base de uma "vacina" contra o câncer de próstata
Vírus modificado pode ser base de uma "vacina" contra o câncer de próstata

Boa notícia para a saúde mundial: pesquisadores do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) conseguiram criar uma “vacina” que pode curar o câncer de próstata. A “vacina” consiste de um vírus geneticamente modificado que é injetado no paciente, e esse vírus não apenas destrói diversas células tumorais como também enfraquece aquelas que ele não conseguiu eliminar, tornando-as ainda mais sensíveis ao tratamento com quimioterapia e permitindo que haja a eliminação por completo desses tumores.

A “vacina” foi criada por uma equipe de pesquisadores comandada por Bryan Eric Strauss, diretor do Laboratório de Vetores Virais no Centro de Investigação Translacional em Oncologia (CTO), que é gerenciado pelo Icesp, e o trabalho foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

A base da pesquisa contou com o manuseio do gene p53, comum para humanos e roedores e que controla aspectos da morte celular. Esse gene foi inserido no código genético de um Adenovírus, e o vírus modificado foi injetado diretamente nos tumores de camundongos — que já haviam sido preparados pelos cientistas para desenvolver tumores de câncer de próstata iguais aos desenvolvidos pelos humanos.

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Esses camundongos com tumores foram divididos em 4 grupos: um deles recebeu o mesmo vírus usado pelos cientistas no desenvolvimento da vacina, mas em sua forma natural — ou seja, sem a inserção do gene p53 (esse é o grupo chamado pelos cientistas de “grupo de controle”). O segundo grupo recebeu apenas a “vacina” com o vírus modificado com p53; o terceiro grupo foi injetado somente com a droga cabazitaxel (uma substância comumente usada em tratamentos de quimioterapia); e o quarto grupo recebeu uma combinação do vírus modificado com p53 com a droga de quimioterapia.

Assim que o vírus com gene p53 encontrou as células com tumores, ele penetrou nos núcleos delas e comandou a morte celular, mostrando-se especialmente eficaz na eliminação das células cancerígenas na próstata. Enquanto os tratamentos individuais (aqueles apenas com o p53 ou apenas com o cabazitaxel) tiveram resultados intermediários (diminuíram os tumores, mas não os eliminaram), o grupo que foi injetado por ambas as drogas apresentou o controle total do crescimento dessas células, fazendo com que eles parassem de se expandir e multiplicar — o que fez que os cientistas suspeitassem do efeito de enfraquecimento desses tumores causado pelo gene p53.

A pesquisa também revela que, para surtir efeito, a “vacina” deve ser aplicada diretamente no tumor, já que injetá-la na corrente sanguínea acaba não surtindo nenhum efeito. A principal vantagem proporcionada por ela é a diminuição da quantidade de quimioterapia necessária. Isso porque o mesmo efeito (o controle da reprodução das células cancerígenas) pode ser conseguido apenas com o uso da droga cabazitaxel, mas isso tem um preço, pois o uso da droga nas quantidades necessárias para conter o avanço do tumor acaba matando os glóbulos brancos do corpo e deixando o organismo mais fraco e suscetível a outras doenças, que podem acabar matando o paciente.

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Já nos testes feitos em conjunto com o p53, a quantidade de cabazitaxel utilizada para se conseguir conter o avanço do tumor foi uma quantidade chamada de “dose subterapêutica”, ou seja, que não resulta em efeitos colaterais. Por isso, os pesquisadores acreditam que, ao usar a substância em conjunto com a mesma dosagem da droga que comumente é usada nas quimioterapias, existe uma boa chance de essa mistura conseguir não só conter o avanço das células cancerígenas, mas também diminuir os tumores.

Outra possibilidade levantada pelos pesquisadores para melhorar a eficácia do tratamento é a de, junto com a mistura de drogas, utilizar algo para ativar o sistema imune e fazer com que o próprio organismo passe a combater as células enfraquecidas pelo p53 — isso seria conseguido a partir da utilização de um segundo gene modificado.

Ainda que não tenham testado esse segundo gene modificado na “vacina”, pesquisas anteriores do grupo mostram que a utilização do Interferon beta pode ser algo que melhore a eficácia do tratamento.

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O Interferon é uma proteína produzida por leucócitos e fibroblastos que não apenas interfere na replicação de fungos, bactérias, vírus e células cancerígenas, como ao mesmo tempo estimula a atividade de defesa de outras células. Assim, como tanto o Interferon quanto o p53 induzem a morte de células, a união de ambos acaba alertando o sistema imune para que ele amplifique o ataque às células cancerígenas.

Trabalhos anteriores da equipe do Dr. Strauss corroboram essa tese: quando os cientistas combinaram o Interferon com o ARF (um parceiro funcional do p53) e inseriram essa mistura no núcleo de uma célula cancerígena, o sistema imunológico dos camundongos parou de reconhecer essas células como parte do organismo deles e passou a identificá-las como agentes externos que deveriam ser combatidos, atacando não apenas o tumor em que a mistura foi injetada, mas também todos os outros tumores espalhados pelo corpo.

O objetivo atual do Dr. Strauss e sua equipe é continuar com os testes e melhorar essas abordagens para conseguir uma “vacina” cujos resultados sejam estáveis o suficiente para que a equipe se sinta segura em avançar para a fase de testes em pacientes humanos. Caso tenha interesse em ler a pesquisa sobre a modificação do gene p53 para a criação de uma “vacina” contra o câncer na íntegra, ela pode ser lida (em inglês) no site da revista Nature.

Fonte: Agência FAPESP