Vírus da "doença do beijo" está conectado com a esclerose múltipla
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Parte da família do herpes, o vírus Epstein-Barr (VEB) é o responsável pela mononucleose, popularmente conhecida como “doença do beijo”. Mais recentemente, diferentes estudos passaram a associar a infecção e os seus anticorpos com uma doença neurológica, a esclerose múltipla. Só que ainda não se sabe o quão forte é essa ligação e nem como revertê-la.
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O problema é que o herpesvírus EBV é um dos vírus mais comuns entre os humanos. Cerca de 90% da população mundial pode estar infectada pelo agente infeccioso, mas, hoje, a ciência ainda não descobriu uma cura. Isso significa que a infecção fica latente após a fase aguda e, na maioria das vezes, assintomática. No entanto, ele ainda pode provocar alguns efeitos indesejados, como veremos a seguir.
Estudo que investiga o impacto do herpes na esclerose múltipla
Para entender melhor a relação, os pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, recrutaram 1,4 mil voluntários, sendo que metade já tinha sido diagnosticada com esclerose múltipla e a outra metade era considerada saudável. No estudo, publicado na revista Science Advances, todos os envolvidos forneceram amostras de sangue.
Após analisar o material, os cientistas descobriram que os anticorpos — aqui, vale destacar: uma defesa produzida naturalmente pelo corpo — que se ligam a uma determinada proteína do vírus Epstein-Barr, a EBNA1, também se conectam a uma proteína semelhante no cérebro e na medula espinhal, a CRYAB. Esta tem como função impedir a agregação de proteínas nocivas ao tecido, durante episódios de estresse celular e inflamação.
O caso é definido como um quadro de reação cruzada indesejada. Afinal, o que era para ser uma defesa do corpo contra um vírus invasor acaba afetando negativamente a saúde dos tecidos nervosos. Em pessoas com esclerose, os danos à proteína CRYAB são associados com alguns sintomas específicos, como desequilíbrio, perda de mobilidade e fadiga
Impacto dos anticorpos do vírus da "doença do beijo"
Aprofundando-se ainda mais na análise, os autores identificaram que 23% dos pacientes com esclerose múltipla e 7% dos indivíduos saudáveis tinham os anticorpos contra a "doença do beijo" ativos no corpo, durante o momento da coleta. Se o anticorpo fosse a causa da doença, ele estaria em 100% dos portadores da condição neurológica, mas não. É isso que torna a busca pela causa original tão complexa.
“Embora essas respostas de anticorpos não sejam necessárias para o desenvolvimento da doença, elas podem estar envolvidas na doença em até um quarto dos pacientes com esclerose múltipla”, explica Olivia Thomas, pesquisadora do instituto e a primeira autora do estudo, em nota.
Em outro ponto, a descoberta também reforça a importância de tratamentos personalizados, já que diferentes fatores podem estar associados com a condição dependendo do caso. Nesse sentido, cada paciente deverá, no futuro, passar por uma análise de caso e só depois receberá o seu tratamento “único”.
Agora, os cientistas vão investigar se , além dos anticorpos, as células T do sistema imune desempenham algum papel nesta equação. Novamente, a hipótese é de que ataquem estruturas saudáveis no corpo do paciente.
Fonte: Science Advances e Instituto Karolinska