Tomar mais antibióticos não melhora proteção contra infecções pós-cirúrgicas
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

Antes de uma cirurgia, os médicos normalmente prescrevem algum tipo de antibiótico para prevenir potenciais infecções. Na Austrália, alguns lugares têm adotado como prática a prescrição de dois medicamentos, cefazolina e vancomicina, com a ideia de que mais antibióticos seriam ainda mais potentes em combater qualquer patógeno relacionado com as operações. No entanto, um recente estudo clínico provou que a hipótese não é verdadeira.
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Por algum motivo ainda desconhecido, a prescrição dupla de antibióticos antes de procedimentos cirúrgicos não aumenta a resistência dos pacientes às infecções bacterianas, segundo estudo publicado na revista científica New England Journal of Medicine (NEJM).
Recomendação para cirurgias
No entanto, é preciso pontuar que as descobertas não valem obrigatoriamente para todos os casos cirúrgicos. Neste estudo, só foram incluídos pacientes que passaram por uma artroplastia (substituição articular) de joelho ou de quadril. Então, deve sempre prevalecer a recomendação do médico que acompanha o caso, conforme apontam os pesquisadores da Universidade Monash.
Mais antibióticos, menos proteção
Nos testes clínicos randomizados com 4,2 mil pacientes, os pesquisadores descobriram que a adição de um segundo antibiótico — no caso, o antibiótico vancomicina — não protege melhor contra infecções. Na verdade, o efeito é o oposto. A prescrição dupla aumentou o risco de infecções bacterianas.
Por exemplo, em pacientes submetidos à substituição da articulação do joelho, o risco de infecção após a cirurgia foi maior no grupo com dois antibióticos, 5,7%, do que no grupo placebo, com taxa de infecção média estimada em 3,7%.
“Muitas coisas parecem fazer sentido, mas não temos certeza até que sejam testadas em um ensaio clínico”, lembra Trisha Peel, professora da universidade australiana e uma das autoras do estudo, em nota. Este é um daqueles casos [inexplicáveis], em que mais antibióticos não foram melhores e, em algumas pessoas, podem ter sido piores”, completa.
Vale lembrar que a resistência antimicrobiana — bactérias mais resistentes aos remédios comuns — está aumentando em todo o mundo. Neste cenário, diminuir o uso desnecessário desses medicamentos pode ser que contribua com a desaceleração desse problema, já destacado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Fonte: NEJM e Monash University (EurekAlert)