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Terapia com ondas sonoras pode ajudar pessoas viciadas em cocaína

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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twenty20photos/Envato
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Nos Estados Unidos, cientistas da University of Virginia (UVA) testam uma nova estratégia de terapia para viciados em cocaína, através do ultrassom. A hipótese do estudo clínico é de que a estimulação provocada por ondas sonoras no cérebro reduza ou mesmo elimine o desejo pela droga, após dois a três meses de tratamento.

Vale explicar que, como estas ondas sonoras de baixa intensidade estão além do limite da audição humana, elas não podem ser ouvidas pelo paciente que irá tratar a sua dependência em cocaína. Por outro lado, a ideia é que provoquem mudanças medíveis no cérebro, reprogramando as células cerebrais, como propõe o primeiro ensaio do tipo.

Como a terapia de ondas sonoras age contra a cocaína?

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Segundo os autores do estudo, as ondas sonoras serão direcionadas para as células dentro da ínsula, uma região do cérebro associada com diferentes tipos de vícios. Anteriormente, outros estudos descobriram que fumantes com lesões nesta área conseguiram largar facilmente o vício em tabaco, sem recaídas. Dados preliminares sobre a relação do ponto cerebral com a dependência química em cocaína também são conhecidos.

“Este estudo nos informará se o ultrassom focalizado pode mudar a maneira como alguns pacientes se sentem em relação à cocaína”, explica Nassima Ait-Daoud Tiouririne, principal pesquisadora do estudo e diretora do programa para viciados da UVA, em nota.

Se os resultados forem promissores, Tiouririne acredita que a estratégia poderá “reverter as alterações cerebrais causadas pelo uso [diferentes] de drogas”, além da cocaína. “Isso mudaria a maneira como tratamos o vício como um todo”, acrescenta.

Afinal, “o vício é um distúrbio cerebral”, lembra Tiouririne. Como tal, “o tratamento deve incluir a neuromodulação não invasiva dos circuitos cerebrais que causam o vício em primeiro lugar”, como propõe a nova terapia. Apesar do raciocínio lógico, a prática será inovadora dentro dos atuais protocolos de tratamentos.

Testes com dependentes de cocaína

Para validar a nova terapia para dependentes químicos, os pesquisadores estão recrutando indivíduos com mais de 18 anos. Eles precisam ter um quadro confirmado de dependência e não devem querer largar o vício — a ideia é avaliar os efeitos naqueles sem intenção de “cura”.

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No total, o estudo irá durar 10 semanas e, neste período, o indivíduo recrutado precisará comparecer 5 vezes ao centro de pesquisa e passar por duas entrevistas, por telefone, de acompanhamento. Como compensação pelo tempo dedicado, os participantes receberão 800 dólares (cerca de 3,9 mil reais).

O desafio da cocaína no Brasil

Nos EUA, o atual estudo é movido pelo aumento do vício em cocaína. Por aqui, o problema de saúde pública envolve a cocaína, mas também o crack — fumado em cachimbos, é um subproduto feito a partir dos restos do refino do pó branco.

Os dados do Brasil sobre o vício em cocaína são limitados, sendo que um dos últimos abrangentes estudos do tipo foi desenvolvido em 2015. Segundo o 3° Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a cocaína é a segunda droga ilícita mais consumida pelos brasileiros, atrás apenas da maconha.

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Entre as pessoas com 12 a 65 anos, a cocaína já foi experimentada por cerca de 3,1% da população, algo estimado em 4,8 milhões de indivíduos. Enquanto isso, o crack foi consumido por 0,9%, o que equivale a 1,4 milhão. De forma geral, o uso é mais comum entre homens do que entre mulheres.

Apesar das estatísticas elevadas, faltam alternativas de tratamento para pessoas que enfrentam o vício em cocaína. Por exemplo, até o momento, a agência federal Food and Drug Administration (FDA) não aprovou nenhuma medicação específica para este grupo de viciados.

Fonte: UVA e Fiocruz