Taxa de transmissão da COVID-19 cai, mas casos ainda aumentam, diz estudo
Por Fidel Forato |
No combate do novo coronavírus (SARS-CoV-2), uma análise internacional classifica o crescimento da COVID-19 no Brasil como "estável ou crescendo lentamente". Isso porque a taxa de transmissão de da doença, conhecida como taxa R, chegou a 1,01 no domingo (9), segundo estudo da universidade Imperial College, do Reino Unido.
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No país, a taxa R diminuiu em relação à semana anterior (estava em 1,08) e vem nesse movimento de queda, o que ainda não indica a retração da COVID-19. Afinal, uma taxa de 1,01 significa que cada 100 pessoas infectadas pelo novo coronavírus transmitem a doença para outras 101 pessoas, ou seja, o número de doentes ainda cresce. A epidemia só entra em declínio quando o número for menor que um.
No mundo, as maiores taxas R foram estimadas para a Palestina, com 1,69, e para Porto Rico e Japão, ambos com 1,55. Já as menores taxas estão na Espanha (0,42), Suécia (0,51) e Egito (0,51). Na América do Sul, a maioria dos países se encontra nesse mesmo grupo que o Brasil, com exceção do Equador, onde há declínio (0,82), e da Argentina, onde a taxa está em crescimento (1,22).
O estudo britânico também prevê que o Brasil deve registrar cerca de 7,4 mil mortes em decorrência da COVID-19 nos sete dias seguintes da pesquisa, divulgada no final de semana. Esse número é o maior entre os 69 países pesquisados — entretanto, a lista não inclui os Estados Unidos, o maior epicentro do coronavírus no mundo.
COVID-19 no Brasil
A queda da taxa R nacionalmente também é acompanhada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). No entanto, esses números devem ser vistos de forma mais regionalizada para o desenvolvimento de políticas públicas. "O Brasil é um país bem heterogêneo", explica Juliane Oliveira, pós-doutoranda no Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz).
"O ideal é olhar a menor região possível, pela questão das heterogeneidades. Olhar em nível de estadual é muito melhor do que olhar o país como um todo", defende a pesquisadora. Isso porque ainda ha estados com taxas de transmissão acima desse patamar. No Rio Grande do Sul, no Mato Grosso do Sul e em Tocantins, por exemplo, a taxa está em 1,2 — cada 100 casos gerando 120 novas infecções. Já no Amazonas e no Pará, a taxa está em 0,9, indicando queda no ritmo da pandemia, com 100 casos gerando novos 90.
Com essa análise, a pesquisadora da Fiocruz comenta que a queda da taxa de transmissão demonstra que as medidas de isolamento social produziram efeito no controle da COVID-19. Nesse sentido, em São Paulo, a taxa caiu de 2,1 em 5 de abril para 0,8 em 8 de abril. Após uma nova subida, a transmissão chegou a 1,3 em 14 de abril, patamar que foi mantido até o início de junho. Na semana passada, São Paulo tinha uma taxa de transmissão de 1,1, segundo o painel da Rede CoVida.
De acordo com os dados coletados, Oliveira lembra que as medidas de isolamento chegaram antes da explosão de casos em alguns estados, como na Região Sul e em Minas Gerais, o que fez com que a pandemia crescesse de maneira mais lenta que nos primeiros estados atingidos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas.
"Faltou a questão do rastreio de casos. Não adianta fazer as medidas de distanciamento sem ter o rastreio e o isolamento de casos. Quando você rastreia e isola, você corta a transmissão", lembra a pesquisadora sobre uma medida que poderia ajudar na redução dos casos atuais da COVID-19, já que o vírus se espalharia menos. "Quando abriram, começou a subir de novo, porque ainda não se tinha o controle dos casos", completa sobre a falta de controle entre os que estavam doentes.
Para acessar as estimativas mundiais das taxas de transmissão da COVID-19, desenvolvidas pela universidade Imperial College, clique aqui. Agora, para acompanhar a transmissão regional da doença no Brasil, acesse a plataforma da Fiocruz aqui.
Fonte: Agência Brasil