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Smartphone vicia? Conheça o impacto que o aparelho causa no seu cérebro

Por| Editado por Luciana Zaramela | 06 de Abril de 2020 às 14h31

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Todos já ouvimos falar que o uso excessivo da tecnologia pode trazer consequêncas, e seguindo nessa linha, todos também já ouvimos dizer que encarar a tela de um celular o dia inteiro é simplesmente prejudicial. Entretanto, muitos tendem a ignorar esse aviso, justamente por não entender precisamente o motivo pelo qual o uso excessivo de smartphones pode ser prejudicial.

É claro que os smartphones fazem muitas coisas notáveis ​​para nós. Eles tornaram o mundo menor, nos aproximando de nossos amigos e familiares, e expandiram massivamente nosso acesso ao conhecimento, sem contar que as pessoas agora têm acesso a ferramentas criativas mais poderosas do que nunca. Smartphones não são vilões. Só que, por outro lado, a tecnologia também tem alguns efeitos danosos em potencial no cérebro, e é disso que precisamos estar cientes.

Falta de atenção

Uma das maiores preocupações do movimento de bem-estar digital é restaurar o tempo médio de atenção das pessoas. O National Center for Biotechnology Information (NCBI) afirma que esse tempo médio caiu de 12 segundos em 2000 para 8 segundos em 2013 e colocou a culpa no uso da Internet.

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Isso parece acompanhar o fato de que o usuário médio gasta menos de 15 segundos em cada página da Web, em média. Com tanta informação disponível para nós, nos tornamos incrivelmente bons em filtrar, ou seja, verificar rapidamente se estamos na página certa, encontrar o fato ou detalhe específico que estamos procurando e depois passar para o próximo objetivo. Sendo assim, não é exatamente uma surpresa que o ser humano esteja tendo dificuldades para focar em períodos longos quando necessário. Estratégias inteligentes de bem-estar digital precisam limitar a quantidade de navegação irracional que fazemos e equilibrar isso com atividades que requerem atenção mais longa e sustentada.

Improdutividade

Há uma grande diferença entre olhar para a tela e estar realmente envolvido com o seu trabalho. De acordo com uma pesquisa da Clever Tap (uma empresa de gerenciamento de ciclo de vida do cliente e marketing móvel baseada em SaaS, com sede em Mountain View, Califórnia), o usuário médio de smartphone recebe 46 notificações todos os dias e, para alguns, esse número é provavelmente muito maior. Em outras palavras, são mais de 46 vezes que sua atenção está sendo desviada do seu trabalho, tempo de inatividade ou tempo de qualidade com seus filhos.

E há momentos em que isso também pode ser verdadeiramente perigoso, como quando você está dirigindo. O Canaltech conversou com Marcelo Kimati, médico psiquiatra, professor de Saúde Coletiva na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e integrante da diretoria da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme). E quanto ao impacto na produtividade, o psiquiatra aponta que o smartphone é uma fonte de informação de altíssima disponibilidade, dando acesso em um dia ao que uma pessoa na Idade Média absorvia em vários anos e, com isto, absorve a atenção das pessoas constantemente com informações superficiais, frequentemente associadas a consumo e, portanto, muito atraentes. "Sim, seguramente traga o tempo disponível e a atenção, diminuindo a produtividade no trabalho".

A nossa equipe também buscou o olhar de Dr. Henrique Bottura, psiquiatra da Clínica de Psiquiatria Paulista e colaborador do ambulatório de impulsividade do Hospital das Clínicas de São Paulo. "O celular é um centralizador de prioridades dos outros. Quando se tem um celular na mão, você vê solicitações de outras pessoas. Se o usuário não tem claro quais são suas proridades, perde-se nas prioridades dos outros e acaba não produzindo e não ficando centrado naquilo que é importante para ele", aponta o profissional.

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Vício

Os smartphones são projetados para serem viciantes, principalmente quando se trata de jogos como Candy Crush, que são muito mais traiçoeiros, usando incontáveis ​​truques psicológicos. Essa natureza viciante torna os smartphones muito ruins para a nossa saúde mental. Cada vez que praticamos algum desses comportamentos gratificantes, nosso cérebro libera uma substância química chamada dopamina.

Esse neurotransmissor está associado à recompensa e é produzido no cérebro quando pensamos que estamos trabalhando em direção a uma recompensa. A dopamina é boa e, como tal, as ações que resultam em sua liberação são reforçadas. O problema é que, com o tempo, o cérebro responde a essas grandes quantidades de dopamina, reduzindo os receptores à substância.

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Sem algum tipo de estímulo, nos sentimos agitados e inquietos. Isso significa que a dopamina não é mais capaz de ter tanto impacto em nosso humor e foco, por isso precisamos de um impacto maior para obter o mesmo efeito. A dopamina também está implicada em muitos outros aspectos da saúde mental, incluindo foco e atenção. O desequilíbrio da dopamina foi associado ao transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) — uma condição cuja incidência tem aumentado.

O vício em smartphone se torna um problema se isso significa que você está se envolvendo menos com outras coisas que costumavam lhe proporcionar prazer. Uma pesquisa realizada pela Microsoft descobriu que 77% das pessoas de 18 a 24 anos responderam "sim" à pergunta "Quando nada está ocupando minha atenção, a primeira coisa que faço é pegar o telefone".

De acordo com o Dr. Henrique, não existe uma descrição psicopatológica que se chame dependência de celular propriamente dita, porque as pessoas fazem coisas diferentes no aparelho. "Evidentemente existem pessoas que são muito voltadas para o celular em termos de conexão e mídias sociais, mas isso ainda não é considerado uma dependência que tem critérios diagnósticos estabelecidos", explica.

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Estresse

Hoje em dia, poucos de nós sabemos como relaxar. Após um longo dia de trabalho, ainda recorremos aos nossos telefones e rolamos os feeds das mídias sociais, o que acaba trazendo o oposto de relaxamento. A todo momento, o corpo e a mente ficam entre dois estados: simpático ou parassimpático.

O estado simpático consiste no corpo desperto porque está focado, assustado, ativo, agressivo ou com fome. Você vê um aumento nos sinais de excitação, como tensão ​​muscular, pressão arterial, dilatação da pupila e frequência cardíaca. Mas enquanto o sangue está sendo direcionado em quantidades maiores para o cérebro e os músculos, também está sendo direcionado para outros processos, como digestão e imunidade. É por isso que você fica doente se estiver estressado por muito tempo, e é por isso que você fica com borboletas no estômago antes de fazer um discurso.

Enquanto isso, entramos no estado parassimpático quando dormimos, quando relaxamos após uma boa refeição. É quando o corpo é capaz de se concentrar em reparar tecidos danificados, digerir alimentos e consertar as conexões no cérebro. Quando constantemente inundamos nossos cérebros com dopamina, cortisol e adrenalina através do uso de telefones celulares, impedimos que nosso sistema parassimpático entre em ação. Em suma, precisamos dos dois estados, e as práticas de bem-estar digital precisam nos ajudar a escapar de um estado de alerta constante.

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"Muitas vezes, quando a pessoa está estressada,pega o celular e acaba perdendo a oportunidade de relaxar a mente nesse momento. Então o celular acaba não só sendo uma fonte de estresse, como acaba com a possibilidade de fazer um relaxamento em um momento que a vida está mais tensa", aponta Dr. Henrique.

Por sua vez, Marcelo diz o seguinte: "Consideramos estresse um fenômeno adaptativo. Toda pessoa que vive em uma situação de mudança ou uma exposição excessiva a informações e estímulos pode experimentar sensações de falta de energia, irritação e alterações de atenção. O smartphone nos expõe no dia a dia à realidade de estar fazendo um conjunto de coisas ao mesmo tempo. Isto cria uma sobrecarga".

Marcelo ainda acrescenta: "Boa parte do que se faz com o smartphone está baseada na interação com outras pessoas e isto engloba afeto, envolvimento emocional e tomada de decisões continuamente. Neste sentido, usar smartphone corresponde a estar todo o dia numa sala pequena falando com várias pessoas ao mesmo tempo, sobre coisas diferentes enquanto se trabalha e lê jornal. Isso potencializa o desgaste natural do cotidiano".

Sem descanso

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Quando constantemente inundamos nossos cérebros com dopamina, cortisol e adrenalina através do uso de telefones celulares, estamos dizendo ao cérebro que ele precisa se concentrar, precisa trabalhar, precisa cumprir o objetivo daquele joguinho... e, como consequência, as tréguas ficam cada vez mais raras.

Isso piora se estivermos jogando jogos de computador ou recebendo mensagens de nossos chefes (o que pode causar um grande aumento nos hormônios do estresse!). Mas mesmo a leitura de uma página da web pode causar o mesmo problema. Isso ocorre porque as cores, sons, anúncios e até a luz da tela causam esse estado de alerta. De fato, a luz de nossas telas móveis é tão eficaz no aumento do cortisol que pode impedir a liberação do hormônio do sono, a melatonina, à noite, prejudicando seriamente a qualidade do sono.

Autoestima

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A teoria da comparação social proposta pelo psicólogo Leon Festinger sugere que nossa felicidade é muitas vezes baseada no sucesso de outras pessoas. Em outras palavras, se você tem uma casa de dois quartos, com um banheiro e não possui um carro, mas a sua é a casa mais bonita do quarteirão, você será feliz. Mas se seus vizinhos forem bilionários com uma mansão, você se encontrará constantemente se comparando a eles e se sentindo deprimido como resultado.

Graças ao Facebook, estamos constantemente sendo expostos a pessoas com estilos de vida muito mais extravagantes e bem-sucedidos do que os nossos. Vemos constantemente imagens de pessoas em férias incríveis, comprando casas bonitas e dando à luz filhos bonitos. O que esquecemos é que as pessoas apenas enviam seus destaques para as mídias sociais. Assim, você está comparando sua vida cotidiana aos destaques de outra pessoa. No entanto, seu cérebro não faz essa distinção e, portanto, você se sente mal-sucedido e azarado. O mesmo acontece quando vemos belas modelos retocadas no Instagram. Muitos filósofos e psicólogos acreditam que a felicidade e o contentamento vêm de aprender a ser feliz com o que você tem, mas isso é difícil quando nossos amigos continuam esfregando seu sucesso, aparentemente constante, em nossas caras.

"Isso aguça, em cada um, uma comparação. E muitas vezes, comparamos nossos problemas com os momentos em que a pessoa está viajando, no Caribe, com aquela água bonita, ou ostentando alguma coisa. Isso pode gerar, em quem está olhando, uma sensação desconfortável. Dizer que isso vai levar à depressão é uma afirmação que seria de muito mais estudo, mas eu diria que eventualmente a rede social pode levar a um tipo de emoção negativa, mas para ter uma depressão pré estabelecida é preciso ter uma base biológica, uma matriz no indivíduo que seja vulnerável a isso", diz Dr. Henrique.

Já para Marcelo, o smartphone através de redes sociais estabelece uma diferente forma de interação, mais anônima, impessoal, protegida. A partir de um certo grau de dificuldade de interação, torna-se preferencial a Virtual à real. Neste sentido, o smartphone cria um universo de relações que é mais facilmente substituível, demanda menor necessidade de adaptação, não exige o desenvolvimento de estratégias de sociabilização.

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"Acho difícil associar isso a transtornos mentais, ou denominar este fenômeno, em si, como um deles, porque trata-se de algo tão amplo, disseminado e hegemônico que é um modelo, não uma distorção. Seguramente o processo como um todo expõe pessoas tímidas, por exemplo, a não desenvolverem estratégias para que o convívio social seja menos desgastante, o que acentua suas características. Da mesma forma, uma pessoa controladora terá mais necessidade de checar o celular da namorada e irá dedicar mais tempo a isso e a preocupações obsessivas", explica o psiquiatra.

Marcelo ainda acrescenta que não há transtornos mentais especificamente relacionados ao uso de smartphone, já que a sua interferência se dá de forma disseminada, interferindo nas relações sociais. Da mesma forma, em decorrência das mudanças frequentes de critérios para os diagnósticos psiquiátricos, não há estudos consistentes sobre prevalência de doenças mentais antes e depois do surgimento dos celulares, o que não permite estabelecer relações de causalidade.

Portanto, há muitas coisas boas para comemorar sobre smartphones e a Internet, mas é válido observar os efeitos negativos que a tecnologia pode ter em nossa saúde mental. Ressalta-se que smartphones e mídias sociais não são "ruins". Eles só se tornam problemas quando permitimos que tomem conta de nós, e é exatamente por isso que é tão importante que conheçamos ou, no mínimo, consideremos as consequências.

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Smartphones de diversas fabricantes têm a opção de agendar uma reinicialização, para que essa ação seja feita em um horário previamente escolhido, pelo dono do celular. Dessa forma, todos os processos podem ser reiniciados do zero. Saiba, em detalhes, se a ação é benéfica para o seu aparelho. Assista ao vídeo REINICIAR O SMARTPHONE DE VEZ EM QUANDO FAZ MAL OU AJUDA? e se inscreva no Canaltech no YouTube.

Fonte: Android Authority