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Por que os resultados da vacina de Oxford estão intrigando tanto os cientistas?

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 Science in HD/ Unsplash
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Na segunda-feira (23), a farmacêutica AstraZeneca anunciou que sua vacina, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, pode apresentar uma taxa de eficácia de até 90% contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2). No entanto, essa capacidade de proteção é alterada conforme as dosagens do imunizante contra a COVID-19 e, surpreendentemente, uma maior dosagem não representa uma melhor proteção. O porquê disso intriga uma série de cientistas.

O estudo clínico de fase 3 para a vacina de Oxford identificou que, em média, a taxa de eficácia do imunizante, aplicado em duas doses com mais de 20 dias de intervalo, é de 70%. Isso considerando a análise dos 24 mil voluntários da pesquisa. No entanto, eles podem variar para mais (90% de eficácia) ou para menos (62%), dependendo da concentração da primeira dose.

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Surpresa no estudo da vacina de Oxford

Até a terceira fase de testes, os cientistas apostavam em duas doses completas para a melhor imunização contra a COVID-19. No entanto, as análises estatísticas observaram que quando um voluntário recebia essas duas doses, a taxa de eficácia diminuía e ficava em 62%. Esse quadro foi verificado em 8.895 pessoas que receberam as duas doses completas.

Entretanto, a mesma vacina de Oxford obteve 90% de eficácia quando administrada, primeiro, em meia dose e, em seguida, em uma dose completa com intervalo de pelo menos um mês. Pelo menos foi essa conclusão das análises de dados obtidos tanto com voluntários do Reino Unido quanto no Brasil. Para isso, foram acompanhados 2.741 voluntários que receberam a meia dose seguida de uma dose completa.

Por que a dose da vacina de Oxford afeta a proteção?

Uma das principais questões para os pesquisadores é entender por que a vacina parece ter funcionado tão melhor com uma primeira dose mais baixa da vacina de Oxford. Uma primeira explicação pode ter relação com o número de pacientes presentes em cada grupo e, nesse caso, o estudo não teria sido grande o suficiente para avaliar a real diferença entre os regimes.

De acordo com Luk Vandenberghe, virologista da Harvard Medical School, em Boston, as diferenças entre as dosagens podem desaparecer quando mais casos da COVID-19 forem detectados pelo estudo clínico. Com essa mesma linha de raciocínio, Stephen Evans, epidemiologista estatístico da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), estima, com base nos dados, que o grupo que recebeu a menor dosagem poderia ter uma eficácia similar ao grupo da dosagem completa.

Entretanto, essa visão não é consenso na área científica e essas diferenças na taxa de eficácia da vacina de Oxford podem ser reais. “Não penso que seja uma anomalia”, afirma Katie Ewer, imunologista do Jenner Institute, em Oxford, e que está trabalhando no desenvolvimento do imunizante. “Estou ansioso para entrar no laboratório e começar a pensar em como abordaremos essa questão”, comenta Ewer. 

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Para a imunologista de Oxford, há algumas possibilidades para explicar a diferença entre as taxas de eficácia, mas que ainda devem ser melhor estudadas. Nesse sentido, é possível que doses mais baixas de vacina tenham um melhor desempenho ao estimular as células imunológicas do organismo, as chamadas células T.

Outra possibilidade tem a ver com a imunidade do organismo contra vírus que atacam, especialmente, os chimpanzés. Isso porque o imunizante de Oxford utiliza um adenovírus animal, que carrega fragmentos do coronavírus, para estimular a produção de defesas contra a COVID-19. Por isso, serão examinadas também as respostas do sistema imunológico humano contra esse adenovírus, em específico.

Do Wistar Institute, na Filadélfia, o imunologista Hildegund Ertl, defende que seus trabalhos com vacinas contra adenovírus em camundongos podem trazer algumas respostas para o dilema de Oxford. Isso porque Ertl descobriu que uma primeira dose baixa pode levar a uma proteção melhor do que uma primeira dose mais alta em uma vacina de duas doses, pelo menos em testes com animais em laboratório. No entanto, ainda não há uma resposta clara para a questão que envolve o imunizante de Oxford e mais estudos ainda são necessários.

Fonte: Nature