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Por que alguns jovens estão sofrendo gravemente de COVID-19?

Por| 04 de Maio de 2020 às 15h10

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Reprodução/Kaspersky
Reprodução/Kaspersky

Logo que a pandemia do novo coronavírus começou a ganhar grandes proporções, foi divulgada a existência de um grupo de risco, ou seja, de pessoas que têm chance de serem mais afetadas pela COVID-19. Dentro deste grupo estão aqueles que sofrem de doenças cardíacas ou respiratórias, quem está se tratando do câncer, diabéticos e idosos.

Mas a "tranquilidade" dos mais novos logo começou a ruir, pois pessoas jovens e sem histórico de doenças pré-existentes infectados pelo novo coronavírus começaram a precisar de internação e até mesmo intubação, com alguns ainda entrando em óbito. Isso, portanto, fez com que as pessoas que estavam mais flexíveis com o isolamento social começassem a se preocupar mais com os riscos da COVID-19.

Por se tratar de uma doença nova e ainda não existir muitas informações importantes sobre seus efeitos no organismo, tratamento e vacinas, muitos devem estar se perguntando, então, o motivo de esses jovens estarem sofrendo tanto quanto as pessoas do grupo de risco após a contaminação pela COVID-19. A BBC Mundo divulgou algumas hipóteses, sustentadas por cientistas, que podem explicar o por que isso vem acontecendo.

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Genética

A primeira das hipóteses é a predisposição genética, que consiste em características genéticas que aumentam a probabilidade do desenvolvimento de doenças, assim como da COVID-19. Em entrevista, Stephen Chapman, especialista em doenças respiratórias e pesquisador em genética humana na Universidade de Oxford, no Reino Unido, explica que não se trata de uma ideia nova.

"A partir de estudos comparando gêmeos univitelinos e bivitelinos, sabemos que a suscetibilidade a grandes doenças infecciosas no mundo, como tuberculose, hepatite ou malária, varia em parte de acordo com as características genéticas", conta o profissional. Chapman usa ainda como exemplo o vírus da herpes simples, que circula de forma ampla entre a população e que pode causar infecções no rosto ou lábios, ou ainda nos órgãos genitais.

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"A maioria das pessoas expostas ao vírus não fica gravemente doente, mas uma pequena minoria com uma única mutação genética desenvolve encefalite herpética (uma inflamação do cérebro), que pode ser fatal", explica, afirmando que uma mutação semelhante pode ser a explicação para o agravamento dos casos de jovens contaminados com a COVID-19.

Como já explicamos aqui no Canaltech, pacientes com doenças crônicas possuem um gene bastante ativo nos pulmões chamado ACE2. Quando isso acontece, ele acaba produzindo a proteína que pode acabar servindo como uma porta de entrada para que o novo coronavírus invada as células pulmonares e das vias aéreas, trazendo então a complicação.

Jean-Laurent Casanova, professor e pesquisador da Universidade de Rockefeller, na cidade de Nova York, conta que há a hipótese de variações genéticas ficarem ocultas por décadas, até que que haja "uma infecção por um micro-organismo específico", e que por isso cientistas de seu laboratório estão investigando se é o que está acontecendo com o novo coronavírus. Para Chapman, a vulnerabilidade deve depender da variedadede vários genes junto a fatores adquiridos durante a vida, principalmente em genes relacionados à imunidade.

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Cromossomo X

Chapman também cita pesquisas que investigam se existem genes no cromossomo X que podem agravar a doença, uma vez que homens, que possuem cromossomo X e Y, vêm sendo os mais afetados pela doença do que as mulheres, por estudos apontarem que homens possuem, estatisticamente, hábitos de vida mais prejudiciais, como o tabagismo e o consumo excessivo de álcool. Mulheres, por possuirem apenas cromossomos X, que contam com muitos genes de imunidade, podem acabar sendo menos vulneráveis a um estado grave de COVID-19.

"Se houver muitos polimorfismos ou uma mutação rara nos genes do cromossomo X, como os homens têm um, enquanto as mulheres têm dois, isso os tornaria mais vulneráveis", argumenta Chapman.

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Citocinas

Outra hipótese que vem sendo estudada pelos cientistas é a "tempestade de citocinas" ocorrendo em pacientes com COVID-19 de forma mais agravada. Essas citocinas se tratam de substâncias bastante agressivas liberadas pelo sistema imunológico para atacar o vírus, e quando isso acontece de forma excessiva, alguns órgãos podem ser afetados e resultar em óbito.

Essa condição, de acordo com o especialista Randy Cron, da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, afeta ao menos 15% das pessoas que precisam combater qualquer infecção grave, e ainda não há uma explicação exata do motivo de o sistema imunológico agir dessa forma.

"Sabemos que existem muitos polimorfismos comuns e raras mutações nos genes que controlam o sistema imunológico. Portanto, alguns pacientes morrem podem ter polimorfismos ou mutações que os predispõem a uma resposta inflamatória mais excessiva", explica.

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Contato com outro coronavírus

O novo coronavírus não é chamado desta forma à toa, pois existem outras variações de coronavírus que já circulam entre nós há anos. Por isso, o geneticista Michael Snyder acredita nessa hipótese para comprovar os casos graves de COVID-19 em jovens, e que isso pode ser o responsável pela fragilização do sistema imunológico.

Snyder diz que existe um tipo de coronavírus chamado HCoV-229E em circulação, responsável por causar o resfriado comum, mas que não é falado muito sobre ele. "Não sabemos se a infecção prévia por esse resfriado comum pode torná-lo mais imune ou, pelo contrário, mais hipersensível. É possível que muitas pessoas tenham sido infectadas nos últimos anos (pelo HCoV-229E) e não o conheçam porque o descartaram como um simples resfriado", relata.

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Carga viral

A última hipótese que vem sendo estudada pelos cientistas é a carga viral no momento da exposição ao novo coronavírus. A virologista Alice Sinclair, da Universidade Sussex, no Reino Unido, contou à BBC Mundo que estudos realizados na China mostram que pessoas que cuidam de pacientes com COVID-19 são mais vulneráveis a contraírem o vírus, pois estão expostos a ele por um longo período de tempo.

"Mas o que não sabemos é se isso se deve à quantidade de vírus a que estão expostos ou ao número de encontros que tiveram com ele. Em termos de carga viral, quanto mais exposição você tiver, maior a chance de o vírus infectar suas células, dentro das quais ele pode se replicar", conta a virologista. Porém, a hipótese não é conclusiva, principalmente pelo fato de que uma pessoa assintomática e com um quadro leve pode produzir uma quantidade alta de vírus.

Por isso, Chapman sustenta a necessidade do isolamento social para evitar a propagação do novo coronavírus, visto que não depende só da condição do paciente para que a COVID-19 se manifeste de forma grave, mas sim do vírus em si. Fato é que quanto maior a exposição, maiores as chances de uma pessoa ser contaminada.

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Fonte: BBC Mundo