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Por que algumas pessoas acordam todas as noites em um mesmo horário?

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  | 

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cottonbro/Pexels
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Você faz parte do grupo de pessoas que acordam todas as noites no mesmo horário? Quando isso acontece, começamos a ficar preocupados e questionamos: será que existe uma razão específica para acordar todos os dias à mesma hora?

Existem diversas crenças sobre acordar de madrugada todas as noites, principalmente se for 3h da manhã, horário que representa coisas ruins para diversas religiões, inclusive. Se você está buscando uma compreensão além da religiosidade e precisa de uma explicação mais científica para isso, fique atento ao conteúdo que preparamos e tire já suas dúvidas sobre essa questão.

Mas, antes, seria interessante entender sobre os mecanismos do nosso corpo, principalmente o que nos faz dormir e acordar.

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Uma orquestra chamada corpo humano

Nosso corpo funciona como um relógio, realizando vários processos biológicos que vão sendo regulados ao longo do dia – metabolismo, sono, fome, regulação das células e da temperatura corporal, entre outros.

O que faz essa engrenagem funcionar corretamente é o ciclo circadiano, um período de cerca de 24 horas, que funciona como um “maestro” dessa orquestra chamada corpo humano, regulando todas as atividades imprescindíveis à nossa sobrevivência. Do nosso apetite aos nossos níveis hormonais, passando pela pressão arterial, tudo é cadenciado pelo ciclo circadiano.

Luz e sombra

Somos seres completamente suscetíveis aos efeitos da luz. É esse o fator predominante para estabelecer nosso ritmo biológico. É a luz que nos permite despertar depois de uma noite de sono. Mas tão importante quanto ela é a escuridão, vital para que possamos dormir.

É durante a escuridão que nosso corpo produz um hormônio extremamente essencial para o nosso organismo: a melatonina. É essa substância que promove a nossa restauração celular e só é secretada quando da ausência de luz.

Para que a melatonina possa fazer a sua mágica, é preciso que estejamos em fases muito profundas do sono, quando o corpo trabalha de forma intensa para se restaurar, fazendo uma verdadeira faxina, em que são eliminadas substâncias tóxicas acumuladas durante o dia.

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A produção da melatonina vai sendo reduzida à medida que vai clareando o dia. Com a claridade percebida pela retina, o cérebro envia estímulos às glândulas suprarrenais, para que nosso corpo produza o cortisol, hormônio que tem a função de nos manter despertos e atentos.

Em condições normais, o cortisol ajuda a manter os níveis glicêmicos e ainda controla o estresse. O problema é quando ele entra em desequilíbrio. Aí pode prejudicar os ossos, a cognição e os sistemas cardiovascular e nervoso. O que influi negativamente na qualidade do nosso sono – e da nossa saúde, como um todo.

É mais comum do que imaginamos

Dormir envolve uma série de processos que são altamente influenciados por diversos fatores, entre eles, a genética, a rotina, alimentação, doenças, medicamentos, etc.

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Mas, independentemente do padrão de sono ou da qualidade de vida, todos estamos sujeitos a despertar várias vezes enquanto dormimos. Do ponto de vista neurológico, é até normal passar por esses microdespertares, a depender de uma série de aspectos – internos e externos.

Apesar de ser um evento comum, isso pode assustar as pessoas, ainda mais quando ele se repete sempre à mesma hora. Ficam os questionamentos, as dúvidas e a preocupação quanto ao nosso estado de saúde. Afinal de contas, acordar no meio da noite é sempre um sinal de que algo não vai bem?

O corpo fala... e chama

De acordo com Michael Perlis, diretor do Programa de Sono Comportamental da Universidade da Pensilvânia, uma pessoa adulta pode acordar de 7 a 15 vezes por noite – o que é considerado normal. E esses são episódios que não interferem de fato no sono, geralmente sendo amnésicos – ou seja, nem nos lembramos que despertamos tantas vezes nesse período.

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Nesse caso, ele esclarece que esses despertares costumam ocorrer na transição das fases do sono – sono REM e sono não REM (subdividido em quatro fases). É nesse meio-tempo que despertamos, o que pode ocorrer quase sempre à mesma hora, especialmente se temos uma rotina de sono parecida todos os dias. Ou seja, dormindo basicamente na mesma hora, as transições de fases vão se dar também com uma grande similaridade de horário, todos os dias.

Problemas de saúde também podem estar associados a esses despertares, já que é criado um ciclo de sono baseado nessa desordens. Ainda de acordo com Perlis, males como o refluxo gastroesofágico, apneia obstrutiva do sono e outras patologias associadas à dor podem fazer com que tenhamos esses piques de despertar pontualmente nos mesmos ciclos de sono. Ele também alerta que o álcool pode ser um responsável, caso a quantidade ingerida for excessiva.

Há, ainda, um outro fator elencado pelo especialista: não deixar o cérebro descansar. Aí, mais se trata de um círculo vicioso, adotado e alimentado justamente durante o despertar. A pessoa acorda no meio do sono e, em vez de relaxar para aguardar que ele retorne, ela busca distrações como olhar o celular, ver TV ou outra atividade intensa. Com isso, cria-se um “hábito”, e o cérebro associa que aquela é a hora de despertar. Está criada a bola de neve.

O estresse nosso de cada dia

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A ansiedade e o estresse também são grandes motivadores dos despertares e das noites em claro. E, nesse caso, não se sabe quem veio primeiro: se o esgotamento ou a ansiedade devido à interrupção do sono, ou vice-versa.

Para além da ansiedade – um verdadeiro mal do século –, doenças como depressão e bipolaridade também estão associadas ao despertar noturno. Segundo um estudo divulgado no periódico The Lancet Psychiatry, em abril de 2018, a interrupção do ciclo do sono é um traço típico de quem sofre desses distúrbios.

De olhos bem abertos

Falando em estresse e ansiedade, a rotina sob essas duas condições pode acabar criando um looping, que pode resultar em casos de insônia. E aí, como dissemos logo acima, causa e efeito acabam se confundindo, trazendo uma série de prejuízos ao organismo. É o que ocorre, por exemplo, com um tipo insônia chamado de insônia de manutenção.

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A insônia de manutenção resulta em um corpo cansado e uma mente irritada. Mau humor, baixa imunidade, olheiras expressivas e cansaço exacerbado são os efeitos desses despertares que ultrapassam a normalidade.

E vai além disso: ela pode estar associada a um risco maior de desenvolvermos problemas cardiovasculares, diabetes tipo 2, depressão e até mesmo mal de Alzheimer. É quase um ciclo que se autoalimenta, demandando ações práticas e pontuais para ser quebrado.

O sono – um sonho de consumo

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quatro em cada dez pessoas no mundo apresenta algum problema para dormir. Considerando que passamos de 1/3 a ¼ de nossas vidas dormindo, esse é um processo que merece atenção, já que é essencial para a manutenção da nossa saúde.

Uma noite bem dormida é aquela que tem efeito restaurador. É quando você acorda renovado e com energia para iniciar sua jornada. Tem a ver não só com a quantidade de horas, como também, e principalmente, com a qualidade do sono.

Como estimular um sono de qualidade?

Como já mencionamos, é preciso criar condições adequadas para um sono eficiente. Já falamos do escuro, essencial para a produção de melatonina. Segundo Maurício Bagnato, pneumologista e membro da Unidade de Medicina do Sono do Hospital Sírio-Libanês, o quarto deve estar escuro a ponto de não podermos enxergar a palma da mão.

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Dormir bem contribui gigantescamente para a qualidade de vida como um todo, então, se você tem tido problemas para pegar no sono, adote alguns hábitos que podem te ajudar nessa missão:

  • Pratique atividade física (porém evite fazer isso antes de dormir).
  • Elimine as telas na hora de se deitar: nada de celular, TV, tablet ou computador. Celulares e rede sociais são os maiores vilões do nosso sono.
  • Reduza o barulho no quarto.
  • Crie uma rotina do sono: procure levantar-se e deitar-se sempre no mesmo horário.
  • Reduza a quantidade de cafeína: segundo preconizado pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), devemos evitar a ingestão dessa substância pelo menos 6 horas antes de dormir.
  • Evite alimentos “pesados” ao menos 4 horas antes de se deitar.

É importante também cuidar da saúde, já que há uma infinidade de doenças que podem causar ou ser a consequência da falta de sono. Ainda segundo a SBPT, existem mais de 100 distúrbios do sono, que estão associados a doenças cardiovasculares, metabólicas, neurológicas e psiquiátricas. Portanto, estar com os exames em dia é essencial.

Além dessas dicas, procure reduzir o estresse do seu dia a dia. Sabemos que não é uma tarefa fácil, mas é uma meta válida, tendo em vista seus benefícios globais. Não se esqueça de procurar ajuda de um psicólogo ou psiquiatra para lidar com casos de ansiedade, depressão ou outras desordens psíquicas.

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E lembre-se: uma noite de sono mal dormida não tem como ser recuperada. Os danos não podem ser desfeitos. Nada melhor do que estar atento e fazer o que for possível, pois a qualidade do seu sono reflete imprescindivelmente na saúde do seu corpo para o resto de sua vida. Cuide-se!

Fonte: Com informações de: SBPT, Medicina UFMG, Unimed