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Pessoas com deficiência podem embarcar em missões espaciais?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 18 de Dezembro de 2022 às 08h00

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Karrastock/Envato
Karrastock/Envato

Pela primeira vez, a Agência Espacial Europeia (ESA) recrutou um astronauta com deficiência, também conhecido pela expressão "parastronauta", para compor a sua equipe. O indicado foi o cirurgião britânico John McFall, de 41 anos, que já foi corredor paralímpico — inclusive, ganhou medalha de bronze nas Paralimpíadas de Pequim em 2008.

O anúncio da ESA, feito no final de novembro, é um marco, ainda que tardio, na integração de pessoas com deficiência na pesquisa especial. Inclusive, a agência espacial é a única a ter alguém com um membro amputado em sua equipe de astronautas e, um dia, poderá ser a primeira a levar um indivíduo com deficiência para o espaço. Embora não haja nenhuma previsão oficial.

“Estou extremamente empolgado em usar as habilidades que tenho para solucionar e identificar problemas, e superar obstáculos que permitam que pessoas com deficiências físicas desempenhem o trabalho da mesma forma que suas contrapartes fisicamente aptas”, afirma McFall, em comunicado da ESA.

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Afinal, o que é um "parastronauta"?

Para entender, segundo a ESA, parastronauta é um termo usado para se referir a pessoas que são “psicológica, cognitiva, técnica e profissionalmente qualificadas para ser um astronauta, mas têm uma deficiência física que normalmente os impediria de serem selecionados devido aos requisitos impostos pelo uso do equipamento espacial atual”.

Hoje, as equipes espaciais ainda não sabem como lidar com pessoas com deficiência em meio a uma missão espacial. Por exemplo, pessoas com uma perna amputada se movimentam de forma mais simples em um ambiente de microgravidade ou precisam de ajustes na estrutura do veículo? Existe alguma questão extra de segurança e saúde para esses tripulantes?

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Para ajudar a responder essas perguntas, a iniciativa AstroAccess simula experimentos na Terra. Por exemplo, pessoas com deficiência já participaram de experiências a bordo do avião G-Force One da Zero Gravity Corporation (Zero-G), como podemos observar nas imagens a seguir:

Programa da ESA para pessoas com deficiência

Na ESA, o Projeto de Viabilidade de Parastronautas foi lançado oficialmente em 2021 e diferentes ações já foram realizadas para alcançar o objetivo de integrar pessoas com deficiência aos voos especiais. Neste cenário, a nomeação de McFall é um ponto bastante estratégico.

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O parastronauta passará os próximos 5 anos em treinamento constante e trabalhará com a equipe de engenheiros do European Astronaut Center. O foco das atividades será entender quais adaptações são necessárias dentro da aeronave para que o veículo possa receber pessoas com amputações ou outras deficiências de forma segura.

Nesse processo, McFall deve participar de voos espaciais simulados e também estará em contato com empresas comerciais e outras agências espaciais para compartilhar as suas experiências como parastronauta.

Pessoas com deficiência já foram para o espaço?

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Embora McFall seja o primeiro astronauta com deficiência a ser recrutado por uma agência especial, pessoas com próteses já foram para o espaço. O primeiro e histórico caso é o da norte-americana Hayley Arceneaux, de 31 anos. Enfermeira e pesquisadora, Arceneaux participou da missão orbital Inspiration4, realizada pela SpaceX, em setembro de 2021. Hoje, é parte da equipe médica da empresa.

Adaptações na aeronave

“A SpaceX modificou o apoio para os pés do meu assento para que a minha perna ficasse mais estendida”, conta Arceneaux para o site Inverse. Isso porque, na primeira simulação de lançamento, "eu fiquei presa ao assento por 2,5 horas", detalha.

"O apoio para os pés original era difícil para [encaixar a] minha perna. Assim que reconheceram o problema [ergonômico], realizaram reuniões para redesenhar o apoio para os pés”, acrescenta. Após os ajustes, o voo espacial foi tranquilo para a norte-americana.

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Futuro: acessibilidade na Estação Internacional Espacial

Depois de Arceneaux, o parastronauta McFall pode ser a segunda pessoa com deficiência a ir para o espaço. Só que, antes disso, o trabalho dele pode fazer muita diferença nas adaptações das estruturas dos veículos espaciais — hoje, quase inexistentes.

Vale lembrar que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de um 1 bilhão de pessoas vivem com algum tipo de deficiência física ou intelectual. Para esse enorme grupo, o espaço nunca foi uma opção, mas poderá ser nos próximos anos. Finalmente, poderão contribuir com pesquisas dos mais diversos tipos na área espacial e, inclusive, poderão integrar a primeira tripulação que chegará ao planeta Marte.

Fonte: ESAInverse, The Washington Post e ONU