Paciente com "pior dor do mundo" vai implantar eletrodos no cérebro
Por Fidel Forato |
No sábado (27), a paciente Carolina Arruda, de 27 anos, vai passar por uma cirurgia que pode aliviar o seu quadro de neuralgia do trigêmeo. A condição é conhecida por causar a “pior dor do mundo”. Para melhorar o seu estado de saúde, a equipe médica irá implantar eletrodos no cérebro da mulher.
Todo o procedimento que envolve o implante de eletrodos deve acontecer na Clínica da Dor da Santa Casa de Alfenas, no interior de Minas Gerais. O objetivo da intervenção é bloquear a transmissão da "pior dor do mundo" ao cérebro da paciente Carolina, que há mais de 10 anos sofre com a condição.
Embora esses casos de dor extremamente grave e incapacitante sejam pouco discutidos, a Associação Americana de Neurocirurgiões (AANS) estima que, por ano, sejam feitos 150 mil diagnósticos da neuralgia do trigêmeo.
Qual é a "pior dor do mundo"?
Para entender, a neuralgia do trigêmeo, também conhecida como neuralgia trigeminal ou ainda "doença do suicídio", é uma condição marcada por crises de muita dor. Alguns pacientes descrevem que a sensação é semelhante a levar um choque elétrico ou uma facada.
A pior dor do mundo se concentra no rosto, afetando pontos próximos da mandíbula, nariz e olhos. O problema surge a partir de gatilhos, que podem ser controláveis ou não. Em alguns casos, apenas falar, mastigar ou “tomar” vento pode desencadear uma crise.
A raiz da questão é o nervo do trigêmeo, que é o principal da face e um dos maiores do corpo humano. A função dele é permitir que o toque e as sensações do rosto sejam captadas e interpretadas pelo cérebro.
Nos casos de neuralgia, é como se ele fosse ativado de forma “excessiva” por um estímulo sensorial simples, causando uma crise de dor intensa.
Diagnóstico da paciente Carolina Arruda
No caso da paciente Carolina, ela convive com a condição desde os 16 anos e, mais recentemente, começou a compartilhar a sua história nas redes sociais. No Instagram, a paciente e estudante de medicina veterinária já acumula mais de 200 mil seguidores.
"A coragem desta paciente de expor sua condição e, principalmente, suas decisões, deu voz a milhões de pacientes que sofrem de dor crônica no Brasil e, especialmente, a milhares que neste momento sofrem de dor excruciante", afirma a equipe médica do centro de Alfenas, sobre a responsabilidade de Carlos Marcelo de Barros, médico e Presidente da Sociedade Brasileira para os Estudos da Dor (SBED), em nota.
Antes de tentar a nova opção de tratamento com os eletrodos no cérebro, a mulher chegou a iniciar uma campanha para arrecadação de fundos, na internet, para ser submetida ao suicídio assistido na Suíça.
Cirurgia para aliviar a dor
Durante a cirurgia para aliviar a pior dor do mundo, os médicos irão implantar eletrodos na medula espinhal e no Gânglio de Gasser (onde o nervo trigêmeo se origina) da paciente. Com os neuroestimuladores, a ideia é "anestesiar" o nervo, impedindo as crises de dor.
Se o implante não proporcionar alívio suficiente da dor, a equipe médica tem outros possíveis tratamentos para melhorar a qualidade de vida da Carolina.
Mais opções de tratamento?
Entre as futuras opções, estão:
- Implante de bomba de infusão intratecal de fármacos: um dispositivo implantado no abdômen da paciente que libera analgésicos no sistema nervoso central, através de um cateter;
- Descompressão vascular do nervo trigêmeo: o objetivo é aliviar a pressão sob o nervo, o que pode aliviar o quadro da pior dor do mundo;
- Nucleotractomia trigeminal: procedimento neurocirúrgico que deve interromper a transmissão sensitiva do nervo trigêmeo.
Além das quatro possibilidades propostas, “não há outras terapias com evidência científica e de qualidade suficiente para serem propostas para este caso”, pontuam os médicos. Entretanto, a expectativa é alta de que os eletrodos já possam melhorar a vida da paciente.
Fonte: Santa Casa de Alfenas, AANS