Outubro Rosa aumenta em até 40% as mamografias realizadas no SUS
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela |
Segundo um novo estudo publicado na revista científica Public Health in Practice, a campanha do Outubro Rosa é responsável por aumentar em até 40% as mamografias realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS). Para chegar a essa informação, o grupo analisou dados de janeiro de 2017 a dezembro de 2021, com comparação estatística dos quatro trimestres do ano.
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Os índices coletados pelo estudo apontam uma alta de 33% em outubro, 39% em novembro e 22% em dezembro, por conta da campanha. O levantamento ainda aponta valores abaixo da média mensal nos demais meses. Não houve diferença considerando as diferentes regiões do país ou faixa etária.
A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda a mamografia de rastreamento anual a partir dos 40 anos para mulheres de risco habitual e a partir dos 30 anos para mulheres de alto risco. Aquelas que apresentam qualquer tipo de sintoma devem procurar auxílio médico o mais rápido possível, inclusive as jovens.
Enquanto isso, Andrea Cianfarano, radiologista da Clínica Imax, alerta que o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura e torna o tratamento menos agressivo, e que sem o diagnóstico é impossível realizar qualquer medida terapêutica.
Queda no número de cirurgias durante a pandemia
Por outro lado, um monitoramento realizado por pesquisadores da Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia, em parceria com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) revela que, na última década, mais de 110 mil mulheres brasileiras foram submetidas à mastectomia (retirada da mama) pelo SUS em todo Brasil como parte do tratamento do câncer de mama.
Nesse mesmo período, aproximadamente 25 mil delas foram submetidas à reconstrução mamária, um crescimento em número absoluto até 2014 e, a partir daí, uma discreta redução até 2017. Em 2020, o impacto foi ainda maior por conta da pandemia, o que agrava ainda mais o cenário.
De acordo com o Dr. Ruffo de Freitas Junior, que está sempre à frente das pesquisas e monitoramento da Rede Brasileira, o principal motivo para essa queda pode ser atribuído às dificuldades financeiras que o país passou, impactando negativamente no número de cirurgias oncológicas e nas reconstruções mamárias.
As cirurgias de mastectomia caíram aproximadamente 30% na última década. Por outro lado, o percentual da taxa de reconstrução mamária (razão de reconstruções pelo número total de mastectomias, multiplicados por 100, a cada ano), que em 2008 foi de 14,9%, continuou estável até 2012; em 2014 era de 29,3%; e passou a aumentar a partir da implantação da lei de reconstrução mamária, em 2013. Em 2017, aproximadamente 34% das mulheres em 2017 realizaram a reconstrução mamária.
Atendimentos caem na pandemia
O levantamento realizado em centros hospitalares que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas principais capitais revelou que a queda nos atendimentos de mulheres em tratamento, nos meses de março e abril, logo no início da pandemia, foi em torno de 75%, em comparação ao mesmo período de 2019. Dados da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) afirmam que no último ano, o índice de realização de exames foi 15% abaixo do nível padrão antes da pandemia.
Já a Rede Brasileira de Pesquisa em Câncer de Mama, em parceria com a SBM, mostrou que o número de mamografias entre janeiro a julho de 2020 caiu 45% em relação ao ano anterior. Tudo devido ao medo de se contaminar durante o deslocamento e também ao dar entrada na unidade de saúde.
"Não sabíamos que a pandemia duraria tanto tempo. Entendo o medo delas, mas o câncer não espera. Interromper o tratamento é um risco muito grande, maior do que contrair o vírus, já que os hospitais estão seguindo todos os protocolos sanitários", afirma o presidente da SBM, Dr. Vilmar Marques.
A cada ano o Brasil perde mais de 13 mil mulheres para o câncer de mama. Um número crescente e que, por conta da pandemia teve o seu cenário agravado, pois o diagnóstico precoce, que é possível através do acesso a mamografia, já se encontrava com números bem abaixo dos recomendados pela Organização Mundial da Saúde para a redução da mortalidade. A má qualidade das mamografias tem sido outro problema, podendo dar um resultado falso que não aponte o diagnóstico, postergando o início do tratamento do câncer e prejudicando diretamente a paciente.
Fonte: Public Health in Practice