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OMS classifica talco como potencialmente carcinogênico

Por  • Editado por Luciana Zaramela |  • 

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Andrea Piacquadio/Pexels
Andrea Piacquadio/Pexels

Na última sexta-feira (5), a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o talco como potencialmente carcinogênico para humanos, por meio de um relatório apresentado pela International Agency for Research on Cancer — a instituição de pesquisa sobre o câncer, vinculada à OMS — e publicado na revista The Lancet Oncology. Para debater e chegar a essa classificação, o grupo de 29 cientistas de 13 países se reuniu em Lyon, na França.

A decisão veio depois que esse grupo de cientistas percebeu evidências de que o talco pode causar câncer de ovário em humanos. Estudos com roedores também mostraram o potencial cancerígeno do produto.

Em 2025, a International Agency for Research on Cancer pretende publicar a lista completa de agentes cancerígenos, no volume 136 de um documento chamado IARC Monographs.

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O relatório chama atenção para duas formas de exposição: entre operários de fábrica, durante a extração, moagem ou processamento do mineral, e entre o consumidor final, que nesse caso se dá principalmente por causa do uso de cosméticos e pós corporais (como aqueles para bebês ou usados por atletas).

"Houve numerosos estudos que mostraram consistentemente um aumento na incidência de câncer de ovário em
humanos autorrelatando o uso de pó corporal na região perineal. Embora a avaliação tenha se concentrado no talco
não contendo amianto, a contaminação do talco com amianto não pôde ser excluída na maioria dos estudos de
humanos expostos", diz o relatório da OMS.

"O câncer de ovário também foi observado em estudos que analisaram a exposição ocupacional de mulheres expostas ao talco na indústria de celulose e papel. Em estudos experimentais com animais, o tratamento com talco causou aumento na incidência de neoplasias malignas em fêmeas e uma combinação de neoplasias benignas e malignas em machos", acrescenta o material.

Mas o próprio grupo de cientistas tem uma ressalva: os estudos foram observacionais. Assim, ainda não há uma prova real de que o talco causa câncer.

Talco classificado como 2A

O grupo de cientistas internacionais classificou o talco como integrante do Grupo 2A. Isso significa que há evidências limitadas referente ao risco para causar câncer em seres humanos, mas os indícios são suficientes em animais.

A classificação da IARC para o potencial carcinogênico funciona assim:

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  • Grupo 1: considerados carcinogênicos para humanos. Nível máximo de atenção.
  • Grupo 2A: provavelmente carcinogênicos para humanos. Evidência limitada em seres humanos, mas indícios fortes em animais.
  • Grupo 2B: possivelmente cancerígenos. Evidências limitadas tanto em seres humanos quanto em animais.
  • Grupo 3: evidência inadequada, provas ainda insuficientes.

A entidade faz essa avaliação desde 1971, através da revisão de estudos publicados.

O caso da Johnson & Johnson

Os olhares para a relação entre talco e câncer ficaram mais apurados em 2023, quando a Johnson & Jonhson enfrentou acusações sobre seus produtos. A empresa negou qualquer relação do talco com o câncer, mas ofereceu um acordo bilionário para encerrar o assunto. 

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Na época, 60 mil ações judiciais contra a empresa apontaram que o  talco teria provocado casos de câncer de ovário e mesotelioma. 

Em 2020, a Johnson & Jonhson já tinha interrompido as vendas do talco nos EUA e no Canadá. A ideia é substituir a fórmula n o mundo inteiro, substituindo o talco por amido de milho.

Anvisa se pronuncia

O Canaltech entrou em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para obter um posicionamento sobre a nova decisão da OMS. Em nota, a agência diz o seguinte:

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O talco continua permitido no Brasil até o momento, seguindo o disposto na RDC 530/2021, que estabelece a lista de substâncias que os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes não devem conter, exceto nas condições e com as restrições estabelecidas. A Anvisa está ciente do relatório da OMS e reconhece a importância de avaliar cuidadosamente as implicações dessa nova classificação para garantir a segurança dos consumidores. Nesse contexto, considerando que a RDC 530/2021 está em revisão no Mercosul, a expectativa é de que essa avaliação será realizada em breve, a fim de verificar a necessidade de alteração das condições de uso desse ingrediente ou transferi-lo para a lista de substâncias proibidas em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes.

Sendo assim, podemos esperar para ver como vai ficar a situação do talco no Brasil, depois da classificação da OMS que o coloca como potencialmente carcinogênico.

Fonte: The Lancet Oncology, OMS