O que é ozonioterapia e para que serve?
Por Natalie Rosa | Editado por Luciana Zaramela | 14 de Agosto de 2020 às 14h45
No início de agosto, Volnei Morastoni, prefeito da cidade de Itajaí, em Santa Catarina, virou notícia ao sugerir que um tratamento chamado ozonioterapia seria eficaz contra a COVID-19.
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"É uma aplicação simples, rápida, de dois ou três minutinhos por dia, provavelmente vai ser uma aplicação via retal. É uma aplicação tranquilíssima, rapidíssima, de dois minutos com cateter fino, e isso dá um resultado excelente. A pessoa tem que fazer durante 10 dias seguidos, são 10 sessões de ozônio, e isso ajuda muitíssimo, provavelmente, os casos de coronavírus positivo", disse o prefeito.
O suposto tratamento para a doença, responsável pela pandemia que se iniciou em março deste ano, virou motivo de piada nas redes sociais, mas ele já é usado para cuidados terapêuticos de doenças do coração, artrite, HIV, SARS, câncer, degeneração macular, desinfecção de feridas e ativação do sistema imunológico.
O ozônio também é usado para combater as doenças respiratórias por empresas especializadas, como a Wier, que usa o gás contra a proliferação de vírus, bactérias e fungos em ambientes fechados. A companhia diz que a limpeza feita com ozônio é 40% mais rápida, sendo mais eficiente para combater sintomas respiratórios.
"Por ser um gás, o ozônio consegue se espalhar por todo o ambiente onde é aplicado e alcançar lugares que uma limpeza convencional não consegue, proporcionando assim uma sanitização real do ambiente. A aplicação do ozônio é simples e ocorre por meio de um equipamento chamado Gerador de Ozônio, o qual é compacto, de uso simples e intuitivo", conta Dr. Bruno Mena Cadorin, CEO da companhia.
O que é a ozonioterapia? Funciona?
Mas do que estamos falando é do uso médico do ozônio, através da ozonioterapia, e antes de entender essa técnica precisamos saber que ele se trata de um gás parecido, molecularmente, com o oxigênio — porém com um átomo a mais. Não tem cor, conta portanto com três átomos de oxigênio e pode ser tanto inofensivo quanto perigoso.
Segundo estudo do site Medical News Today, a inalação do gás de ozônio pode ser prejudicial à saúde, provocando irritação na garganta e nos pulmões, tosse e piora nos sintomas da asma, e também pode ser fatal caso haja a exposição em altas quantidades. Na atmosfera, uma camada de ozônio protege a Terra da radiação UV provocada pelo Sol, mas uma vez perto do solo, pode ser um perigoso poluente do ar.
De acordo com o Ministério da Saúde, a prática da ozonioterapia tem a sua segurança comprovada e reconhecida como uma prática integrativa e complementar de baixo custo, e a aplicação tem finalidade terapêutica contra diversas doenças.
"O ozônio medicinal, nos seus diversos mecanismos de ação, representa um estímulo que contribui para a melhora de diversas doenças, uma vez que pode ajudar a recuperar de forma natural a capacidade funcional do organismo humano e animal. Alguns setores de saúde adotam regularmente esta prática em seus protocolos de atendimento, como a odontologia, a neurologia e a oncologia, dentre outras", diz a informação oficial do Ministério da Saúde.
Segundo uma pesquisa publicada no Portal Regional da BVS, foi concluído que o ozônio é eficaz na inativação in vitro de diversos microorganismos, como bactérias e vírus que surgem em infecções hospitalares, mas que o seu uso em procedimentos de desinfecção e esterilização de ambientes hospitalares "não está bem estabelecido".
Aplicação
A ozonioterapia consiste na administração de ozônio nas seguintes formas:
- Diretamente no tecido - Com o ozônio sendo aplicado diretamente na pele, cria-se uma cobertura protetora em feridas;
- Intravenosa - A aplicação via intravenosa é usada em tratamentos de doenças internas, como o HIV. O procedimento consiste na retirada de sangue, que é misturado com gás ozônio e devolvido ao corpo. O uso do método, no entanto, traz riscos de embolia, causada pela formação de bolhas de ar;
- Intramuscular - A ozonioterapia pode ser aplicada em forma de injeção intramuscular, com o gás ozônio sendo misturado, muitas vezes, com oxigênio.
Efeitos colaterais
Pessoas que passam pela ozonioterapia costumam relatar efeitos colaterais semelhantes aos da gripe, com sintomas ficando mais intensos com o tempo. No caso da aplicação pelo reto, o paciente pode sentir desconfortos, cãibras e gases em excesso, porém tudo isso é temporário. Vale reforçar que o ozônio nunca deve ser inalado, pois pode queimar, provocar tosse, náuseas, vômito e dores de cabeça, e em casos mais graves, complicações respiratórias.
Então, o ozônio é eficaz contra o novo coronavírus?
Por mais que a ozonioterapia já tenha apresentado resultados efetivos para as aplicações já comprovadas como benéficas em variados ramos da medicina, não há nenhum indício que a técnica, em todas as suas formas, seja capaz de tratar ou mesmo prevenir a COVID-19.
Em nota do Portal Regional da BVS, os especialistas afirmam não haver comprovação de efeitos do uso da ozonioterapia em pacientes infectados pelo SARS-CoV-2, "e não deve ser recomendado como prática clínica ou fora de contexto de estudos clínicos". A Sociedade Brasileira de Infectologia, ainda em fevereiro deste ano, publicou uma nota técnica afirmando que "não há qualquer evidência científica que a ozonioterapia proteja contra a COVID-19".
Fonte: Ministério da Saúde, Medical News Today, Healthline, SBI, BVS