O que é desnutrição?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

Quando pensamos nas populações de regiões muito pobres, é inevitável que venha a imagem de crianças e adultos desnutridos, na qual é possível ver os ossos marcados sob a pele. Entre os mais novos, alguns apresentam a barriga inchada pela presença de vermes e parasitas, como a esquistossomose. Este é o quadro mais típico da desnutrição, a desnutrição energético-proteica (DEP), uma grave doença nutricional que pode levar à morte.
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Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), "a desnutrição se refere a deficiências, excessos ou desequilíbrios na ingestão de calorias e/ou nutrientes de uma pessoa". Na maior parte das vezes, a condição é associada com a subnutrição — basicamente a cena que descrevemos no parágrafo anterior —, onde o indivíduo apresenta baixo peso e sofre com a baixa absorção de vitaminas. Em crianças, a condição também pode impedir o crescimento saudável, sendo a fome considerada a principal causa.
No entanto, não são apenas pessoas extramente magras que podem sofrer com a desnutrição. Segundo a OMS, indivíduos obesos não necessariamente absorvem as quantidades ideias de nutrientes e vitaminas e, por isso, é podem apresentar deficiências nutricionais.
O que é desnutrição infantil?
A desnutrição afeta indivíduos de qualquer idade, mas é significativamente mais grave em bebês e crianças de até 5 anos, já que os mais novos estão em fase de crescimento e a deficiência de nutrientes e vitaminas pode comprometer, de forma permanente, a vida do futuro adulto. Inclusive, é uma das principais causas de morte precoce em países pobres.
Vale observar que a desnutrição infantil "pode começar precocemente na vida intra-uterina (baixo peso ao nascer) e frequentemente cedo na infância, em decorrência da interrupção precoce do aleitamento materno [desmame precoce] e da alimentação complementar inadequada nos primeiros 2 anos de vida, associada, muitas vezes, à privação alimentar ao longo da vida e à ocorrência de repetidos episódios de doenças infecciosas (diarreias e respiratórias)", pontua o Manual de atendimento da criança com desnutrição grave, do Ministério da Saúde.
Tipos de desnutrição
Tanto para crianças quanto para adultos existem diferentes formas de classificar a desnutrição. O que muda são os critérios usados na definição, como veremos a seguir:
Intensidade do quadro de desnutrição
A classificação mais simples da desnutrição usa critérios para estabelecer o nível e a intensidade do quadro. Dessa forma, o paciente pode apresentar quadros leves, moderados ou graves — neste estágio, o risco de morte é elevado.
Duração do caso de desnutrição
Outra forma de estabelecer um tipo de desnutrição é pelo fator temporal. Por exemplo, quando a de desnutrição dura menos que três meses, é considerada desnutrição aguda. Agora, ela pode se tornar crônica ao ultrapassar esse limite.
Causa da desnutrição
A última maneira de classificação da desnutrição é a que considera a origem do quadro. Aqui, quando a questão envolve falta de acesso aos alimentos e pobreza, é considerada desnutrição primária. Se o motivo for alguma doença, como diabetes ou insuficiência renal, por exemplo, esta recebe o nome de secundária.
Desnutrição em números no Brasil
Segundo levantamento do grupo Observa Infância, associado com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Brasil registrou 2,7 mil casos de bebês com menos de uma ano que foram hospitalizados devido à desnutrição em 2022. É como se sete bebês por dia fossem diagnosticados com desnutrição no país.
A seguir, confira o número de casos de desnutrição por regiões no país:
- Nordeste: 1.175 casos de hospitalizações por desnutrição em bebês;
- Centro-Oeste: 777 casos;
- Sudeste: 617 casos;
- Sul: 376 casos;
- Norte: 328 casos.
Sintomas da desnutrição em crianças e adultos
Por ser um quadro bastante complexo, a desnutrição pode provocar diferentes sintomas nos pacientes. Inclusive, a doença nutricional pode variar conforme a idade do indivíduo. De forma geral, essas são as principiais alterações provocadas pela condição:
- Perda muscular e dos depósitos de gordura, desencadeando debilidade física;
- Emagrecimento;
- Em crianças, desaceleração, interrupção ou até mesmo involução do crescimento;
- Mudanças comportamentais, incluindo apatia, tristeza e, em alguns casos, depressão;
- Perda de cabelo;
- Pele começa a descascar e fica enrugada;
- Deficiências no sangue, como anemia;
- Enfraquecimento ósseo;
- Quada na imunidade e aumento de infecções.
Qual o tratamento para a desnutrição?
Para reverter o quadro de desnutrição, a principal indicação é que o indivíduo retome ou desenvolva um estado nutricional considerado saudável para a sua faixa etária. Na maior parte dos casos de subnutrição, isso inclui melhora da alimentação e ganho de peso.
No entanto, quando a causa é a fome, a situação é mais complicada. Isso porque, quando a criança deixa o hospital recuperada, em pouco tempo, pode reapresentar o mesmo quadro. Nesses casos, a solução envolve políticas públicas que garantam aos pequenos o acesso mínimo à alimentação necessária para o desenvolvimento.
Como saber se estou desnutrido?
Em casos graves de desnutrição, o quadro pode ser confirmado apenas por um olhar bem treinado do profissional da saúde. De forma geral, o diagnóstico completo envolve avaliação clínica — incluindo análise do peso, da altura e da idade —, coleta de dados sobre a alimentação do paciente e exames, como hemograma. Em caso de dúvidas, procure um médico que atue como clínico geral ou um pediatra.
Fonte: OMS, Agência Fiocruz e Ministério da Saúde (1) e (2)