O que acontece com o corpo após levar um choque elétrico?
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Choques elétricos e os machucados gerados por eles são muito comuns, quase sempre acidentais. Há, no entanto, uma série de males que podem acometer o corpo humano de acordo com a potência, local do choque e tipo de dano gerado. Em sua grande parte, esse acontecimento pode ser prevenido: os grupos mais afetados são crianças abaixo de seis anos de idade — que podem colocar o dedo em uma tomada ou tocar em algum cabo desencapado — ou adultos que lidam com correntes elétricas inseguras em seu ambiente de trabalho, no setor de construção civil, por exemplo.
Os efeitos dos choques vão desde o seu impacto direto, que pode causar feridas de entrada e saída, a queimaduras, paradas cardíacas, fraturas e até mesmo catarata e mau funcionamento dos rins, dependendo da intensidade e local atingido pela corrente elétrica. De 3% a 4% das entradas em unidades de tratamento de queimaduras nos hospitais advém do calor convertido da eletricidade no contato com a pele humana, mas que também pode atingir órgãos internos.
Danos causados pelos choques
O corpo pode sofrer uma série de problemas no contato com corrente elétrica. Eles podem ser, mas não se limitam a:
- Queimaduras;
- Paradas cardíacas e respiratórias;
- Espasmos musculares;
- Danos ao sistema nervoso;
- Problemas renais.
A começar pelas queimaduras, elas podem ir do primeiro ao terceiro grau. Acima de 100 mA (miliamperes), a corrente elétrica já passa a deixar marcas nos pontos de contato com a pele. Já acima de 10.000 mA (ou 10 A), queimaduras sérias ocorrem, podendo até mesmo levar à amputação do membro afetado. Dependendo da área de contato e profundidade da queimadura, o tecido também pode necrosar, e os restos mortos, caso estejam em grande quantidade, podem bloquear os rins ou a corrente sanguínea, causando falência real e requerendo diálise até uma recuperação plena.
Correntes de 50 mA, quando passam pelo coração, podem causar paradas cardíacas. Os impulsos elétricos que ditam o ritmo dos batimentos podem ser afetados e mascarados pelo choque, os perturbando e causando arritmia, ou até mesmo fibrilação ventricular, quando o coração para de bater, requerendo desfibrilação. A arritmia pode ocorrer tanto no momento em que a pessoa toma o choque quanto horas depois; indivíduos que sofrem uma parada cardíaca dessa maneira costumam sobreviver com mais frequência do que por outras causas.
Já os espasmos musculares podem causar danos de impacto um pouco diferentes. Os músculos são estimulados por eletricidade, e o efeito da descarga elétrica vai depender de sua intensidade. Todo mundo já sentiu aquela picadinha ou formigamento causado por choques leves, abaixo de 0.25 mA. Agora imagina acima de 100 mA.
Mas, quando uma corrente acima de 10 mA passa por músculos flexores, como os do antebraço ou dedos, causa uma contração prolongada, que pode impedir que a vítima se solte da fonte elétrica. Quando isso acontece em músculos extensores, espasmos violentos são sentidos — se os extensores afetados foram os do quadril, que esticam os músculos para longe do tronco, a vítima pode ser atirada a vários metros de distância. Ossos, ligamentos, tendões e os próprios músculos podem se romper tanto pela contração do choque quanto pelo trauma da queda. Aliás, fraturas costumam ocorrer nas pessoas atingidas por raios.
Choque elétrico e sistema nervoso
Grandes danos podem ser causados ao sistema nervoso, já que nervos têm pouca resistência à passagem de corrente elétrica. Quando afetados por choques, eles podem causar dor, formigamento, dormência, fraqueza ou dificuldade de mover partes do corpo, que podem ficar paralisadas ou terem a sensibilidade reduzida temporariamente ou permanentemente.
O sistema nervoso central também pode ser afetado: confusão, amnésia, convulsões ou paradas respiratórias podem ocorrer. Sintomas a longo prazo no cérebro e nos nervos podem se desenvolver meses após o choque, dependendo do nível dos danos. Problemas psiquiátricos, neste caso, também podem ocorrer. Outras desordens também podem se apresentar a depender dos órgãos afetados: se a corrente passou pelos olhos, por exemplo, eles podem desenvolver catarata com o tempo.
Choque elétrico: cuidados essenciais
A melhor forma de evitar que choques elétricos atinjam você ou sua família é tomando precauções. Para crianças e bebês, há protetores de tomada que protegem os pequenos de ter contato com os conectores, mas também há de se cuidar para que nenhum fio fique desencapado e exposto em qualquer lugar da casa. Para quem trabalha em ambientes com altas correntes elétricas, equipamentos de segurança e cuidado na hora de manipular cabos são recomendados.
No caso de ter recebido um choque, há de se notar a voltagem recebida, a área afetada e o tamanho do corpo: os efeitos de uma descarga elétrica de mesma intensidade diferirão em uma criança de dois anos e em um adulto. Enquanto alguns danos são fáceis de se notar, como queimaduras parecidas às que ocorrem em contato com o calor, alguns não são: pequenas crateras torradas na pele indicam a presença de danos de queimadura internos muito mais sérios. Nesses casos, não hesite em ir ou levar seus entes queridos ao hospital.
Fonte: Hydro Quebec, El País