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O que acontece com o cérebro durante e após um afogamento?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 22 de Junho de 2022 às 09h00

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aetb/Envato Elements
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O afogamento é um termo comum usado para definir as pessoas que param de respirar enquanto submersas, mas você sabia que ele não define apenas as vítimas fatais desse tipo de incidente? Pois é: há afogamentos fatais e afogamentos não-fatais. Durante esse evento, muitas coisas acontecem com o nosso cérebro, já que a privação de oxigênio é altamente prejudicial ao órgão.

As vítimas mais comuns de afogamentos não-fatais são crianças, já que é mais comum estarem acompanhadas de adultos, sendo salvas antes de acontecimentos fatais com mais frequência. Mesmo sobrevivendo, no entanto, muitas acabam com sequelas, desde leves, das quais é possível se recuperar, até as mais sérias, que permanecerão por toda a vida. Mas o que, afinal, acontece com o cérebro quando nos afogamos?

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Afogamento e seus estágios

Numa situação hipotética de afogamento, primeiramente temos de pensar no que acontece para que nos afoguemos. Estamos, é claro, submersos em água — prendendo a respiração para que a água não entre. Nesse momento, ainda temos controle sobre o corpo, mas sem oxigênio, os níveis de gás carbônico no sangue sobem — o que se chama hipercapnia — e diminui o pH do sangue gradativamente.

Com o pH diminuindo, acontece a acidose respiratória, ou seja, o sangue vai ficando cada vez mais ácido: quando o corpo chegar ao seu limite, um reflexo de inalação será ativado, fazendo com que você puxe o ar independente de onde esteja ou da sua força de vontade. Com apenas água ao seu redor, você acabará inalando o líquido, que irá direto para os pulmões.

Os pulmões não conseguem digerir ou consumir água, e a tosse, que tenta se livrar do líquido, apenas faz com que o espasmo traga mais água para dentro. Nesse ponto do processo, você já está se afogando, mas ainda sem danos permanentes no cérebro: caso seja resgatado, bastará remover a água dos pulmões e a recuperação será simples.

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Mais tempo na água e a hipóxia começa a acontecer nos órgãos, que é a falta do oxigênio necessário para executar as funções corporais. Nesse estágio, as células começam a morrer, o que pode causar danos aos tecidos, permanentes ou não, a depender do tempo, e sequelas irreversíveis no cérebro caso fiquemos tempo demais sem oxigênio.

A coisa fica ainda mais séria quando chegamos na anóxia, quando simplesmente não há oxigênio algum nos tecidos: as células morrem em uma velocidade ainda maior, e quando neurônios o suficiente morrerem no cérebro, ocorrerá a morte cerebral, levando-nos a óbito.

Quais as sequelas de um afogamento não-fatal?

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Os danos cerebrais hipóxicos, causados pela falta de oxigênio no cérebro, podem variar bastante. Os mais leves são falta de atenção, problemas na tomada de decisões e diminuição da coordenação motora. Sintomas mais severos podem ser o estado de coma, convulsões e, no pior dos casos, morte cerebral — quando todos os neurônios já morreram, mas ainda executamos as funções corporais, menos a respiração, então o corpo sobrevive apenas com auxílio de aparelhos.

Como exemplo, há o caso da menina australiana Jewel Ostler, que se afogou quando tinha 2 anos, em 2013, e regrediu na fala, ficando apenas com as palavras "mamãe" e "não", e sofreu de fadiga crônica por 12 meses, tendo que descansar por horas após qualquer atividade. Seis anos depois, ela continuou com problemas de memória, pensamento flexível e autocontrole.

Ela seguiu tendo dificuldades para aprender e falar, e provavelmente nunca irá se recuperar da condição: ela não consegue receber mais do que duas instruções ao mesmo tempo, então a família tem de se adaptar na comunicação com a menina. Os pais dizem ter de esclarecer com frequência que a filha se afogou, sim, e não "quase se afogou" — e traz sequelas permanentes daquele dia.

Um caso de reversão de sequelas

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Em um caso de 2016, nos Estados Unidos, uma menina de dois anos se recuperou quase completamente após um tratamento com oxigênio: ela foi encontrada sem batimentos cardíacos após submergir em uma piscina de água fria por 15 minutos. Indo para o Arkansas Children's Hospital, ela não podia falar nem andar, e não reagia às vozes de outras pessoas.

Uma ressonância magnética revelou danos na massa cinzenta profunda e atrofia cerebral, com perda tanto de massa cinzenta quanto de massa branca no cérebro. Indo até o LSU Health New Orleans School of Medicine, os médicos começaram um tratamento com oxigênio normobárico (oxigênio com pressão a nível do mar) por 45 minutos, duas vezes por dia, uma terapia de ponte na falta de oxigênio hiperbárico, normalmente utilizado em vítimas de afogamento.

Com a terapia, a paciente ficou mais alerta e parou de se contorcer, além de mostrar melhoras neurológicas no movimento das mãos e braços, movimento ocular e falas curtas. Após um mês, a menina foi levada para New Orleans, onde o tratamento com oxigênio hiperbárico começou, inalando oxigênio puro em uma câmara pressurizada 45 minutos por dia, 5 dias por semana.

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Com 39 sessões, a garota teve seu andar melhorado, e a fala se desenvolveu a níveis melhores do que os anteriores ao afogamento. As funções motoras ficaram quase normais, a cognição normalizou e quase todos os testes de anormalidades neurológicas demonstraram melhoras. Passados 162 dias do incidente, ressonâncias magnéticas mostraram danos residuais moderados no cérebro, mas uma reversão quase completa da atrofia na massa branca e córtex.

Como evitar afogamentos

A maneira mais fácil de evitar um afogamento, alertam autoridades, é nunca subestimar a água. Crianças de todas as idades precisam ser supervisionadas de perto o tempo todo, e é essencial checar os portões e cercas ao redor de piscinas, garantindo que o acesso a esses locais não seja tão fácil. Convém ensinar seus filhos a nadar, e você mesmo aprender. É indicado fazer algum curso de primeiros socorros para saber realizar a reanimação cardiorrespiratória caso necessário em um caso de afogamento.

Fonte: Queensland Health, American Board of Physician SpecialtiesInstitute of Human Anatomy