O fígado pode "mudar de sexo" como resposta a algumas doenças; entenda
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela |
O fígado pode ter uma resposta fisiológica autoprotetora um tanto diferenciada, como constatou um novo estudo conduzido pela University of Queensland, Austrália, publicado na última terça-feira (1). Frente a determinadas lesões, o órgão ganha características "femininas", algo que primeiro foi constatado em roedores, mas que depois também foi visto nos seres humanos.
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É preciso entender que o fígado é um órgão sexualmente dimórfico, o que significa que existem diferenças detectáveis entre o masculino e o feminino. São inúmeros os genes que separam os dois, e essa "mudança de sexo" foi descoberta por acaso, quando os pesquisadores buscavam compreender a relação entre relógio biológico, obesidade e diabetes.
Na ocasião, os cientistas alimentaram roedores com uma dieta rica em gordura após a remoção de um gene essencial para o funcionamento do relógio biológico. A expectativa era que os animais desenvolvessem diabetes ou doença hepática gordurosa não alcoólica (esteatose, popularmente conhecida como gordura no fígado), mas em vez disso, o fígado dos camundongos machos recorreu ao hormônio sexual feminino, o estrogênio.
Intrigados, os pesquisadores então passaram a estudar amostras humanas, e o interessante é que chegaram no mesmo resultado. "Quanto mais avançada a doença, mais feminização vimos no tecido do fígado. Parece que a interrupção do relógio biológico pode proteger o órgão, influenciando os níveis de hormônios como estrogênio e testosterona”, afirma o pesquisador Frederic Gachon, co-autor do estudo.
Combinando as descobertas de ratos e humanos, acredita-se que o relógio biológico possa desempenhar um papel na desaceleração da progressão da doença, ajustando as vias metabólicas. A ideia dos cientistas agora é investigar se intervenções comportamentais e hormonais são possíveis tratamentos para doenças do fígado.
Fonte: PNAS via The University of Queenland Australia