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O caso do médico que comeu fezes para provar origem de doença misteriosa nos EUA

Por| Editado por Luciana Zaramela | 02 de Fevereiro de 2023 às 10h34

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Diana Polekhina/Unsplash
Diana Polekhina/Unsplash

Até onde médicos e cientistas podem chegar para provar uma teoria? Para o epidemiologista Joseph Goldberg, os limites para a ciência eram bastante flexíveis. Buscando a origem de uma doença misteriosa nos anos 1910, a pelagra, ele fez experimentos com prisioneiros e cães, injetou sangue de um doente em sua esposa e, literalmente, comeu fezes de um paciente.

Embora os métodos de pesquisa de Goldberg sejam bastante questionáveis hoje em dia, a descoberta sobre o que causava a pelagra salvou milhares de vidas e modificou a indústria alimentícia nos Estados Unidos. Basicamente, a doença é causada pela desnutrição, que gera a deficiência de niacina (vitamina B3).

Epidemia da pelagra no sul dos EUA

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Em 1914, o governo dos EUA mandou o médico Goldberg para o sul do país, que enfrentava um surto da doença de origem misteriosa. Na época, o consenso era de que a pelagra tinha como causa um agente infeccioso, mas ainda não se sabia qual.

Esta doença podia ser identificada por tês principais sintomas: diarreia, dermatite e demência. Diante dessas características, os pacientes eram, muitas vezes, isolados e tratados como leprosos — acreditava-se que era algo contagioso. Cerca de 40% dos pacientes morriam.

Na pele, os doentes desenvolviam erupções que se assemelhavam a queimaduras solares e, em seguida, ganhavam um aspecto de feridas escamosas e hiperpigmentadas. Alguns pacientes desenvolviam manchas que formavam um colar em volta do pescoço.

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Doença misteriosa era causada por desnutrição

Após visitar prisões, orfanatos e asilos, o médico identificou que, na maioria dos casos, os únicos doentes eram os reclusos. O fato indicava que de alguma forma, mesmo que desconhecida, os funcionários estavam protegidos. Se a origem fosse um agente infeccioso, muito provavelmente, todos estariam doentes.

A partir dessa percepção, Goldberg passou a suspeitar que a pelagra era causada, na verdade, por deficiências na dieta. Para provar a hipótese, ele recrutou 12 presos saudáveis do Mississípi e os alimentou, durante seis meses, com uma dieta pobre, sem carnes frescas, legumes ou verduras. No final dos testes, todos estavam doentes. Apesar da descoberta, a comunidade científica norte-americana discordou de suas evidências.

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Comprimido de fezes, urina e pele

Na busca por provar a sua teoria, Goldberg coletou o muco do nariz de um paciente com pelagra com um cotonete e o passou em seu próprio nariz. Em seguida, pegou amostras de fezes, pele e urina de outro doente internado e as misturou com farinha de trigo, formando uma espécie de comprimido. Este foi engolido. Por fim, injetou sangue de um enfermo em indivíduos saudáveis, incluindo sua esposa, Mary. Ninguém ficou doente, mas os cientistas permaneceram céticos.

Apenas em 1923, quando o médico realizava experimentos da doença com cachorros, ele descobriu o que poderia impedir o quadro: o consumo de leveduras (fungos). No período, os animais se recusavam a comer uma dieta tão pobre quanto a dos prisioneiros e, para tornar a refeição mais atrativa, Goldberg misturava com levedura. Só que, com este ingrediente extra, as cobaias não chegavam a desenvolver a doença.

Tratamento contra pelagra

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Quando mais uma epidemia da pelagra atingiu o sul dos EUA, em 1927, a descoberta do médico foi finalmente aceita e os doentes foram tratados com a levedura, o que representou a cura da condição para a maioria deles. Anos depois, o bioquímico Conrad A. Elevjhem descobriu que o nutriente que faltava era a niacina.

A partir de então, pães e cereais passaram a ser enriquecidos com a vitamina, prática que permanece até hoje em muitos países. Embora a doença pareça um capítulo superado na história dos EUA, países pobres ainda enfrentam casos anuais de pelagra, associados com a desnutrição.

Fonte: BBC e Cleveland Clinic