O Brasil precisa da telemedicina
Por Colaborador externo • Editado por Luciana Zaramela |
Por Jihan Zoghbi*
Não haverá justificativa razoável para o Brasil — um país de dimensões continentais e com tantos gargalos na saúde — não autorizar o uso permanente da telemedicina no pós-pandemia. Trata-se de um modelo de atendimento comprovadamente eficaz em diversos casos, como controle de doenças crônicas e acompanhamento pós-cirúrgico. Os resultados obtidos desde que o serviço foi liberado, em março, para frear o contágio do novo coronavírus, são a grande prova de que é uma alternativa eficaz para ajudar a desafogar o sistema de saúde, diminuir custos, agilizar diagnósticos e levar atendimento de qualidade a áreas remotas do país.
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Se não fosse a COVID-19, a transformação digital na área da saúde ainda estaria caminhando a passos lentos por aqui. O boom tecnológico não só colocou ferramentas já existentes em funcionamento, como estimulou a busca por novas soluções. Antes tarde do que nunca. Desde o início da pandemia, presencio esse avanço diariamente nas discussões dentro da Associação Brasileira CIO Saúde. A ABCIS reúne gestores de instituições para promover o intercâmbio de conhecimento e práticas em tecnologia da informação no segmento de saúde. A adaptação de hospitais, clínicas e operadoras aos atendimentos híbridos é constante nessa corrida urgente em que se transformou a implementação da telemedicina no país. Mas, paralelamente a isso, já há diversos outros recursos prontos para serem utilizados em breve, como chips para monitoramento remoto de sinais vitais, assistentes virtuais para acompanhamento de pacientes crônicos e inteligência artificial para coleta, armazenamento e cruzamento de dados — só para citar alguns.
Esse movimento em prol do avanço tecnológico na saúde já começa a fazer diferença no país. Em São Paulo, o HCor — hospital multiespecialista e um dos principais na área de cardiologia — utiliza plataforma de telemedicina desde maio. E, há cerca de dois meses, suas teleconsultas passaram a auxiliar no acompanhamento de crianças com cardiopatia congênita que dependem do SUS. Os atendimentos à distância complementam os tratamentos desses pacientes — que já eram encaminhados pela Regulação Nacional e, agora, serão acompanhados antes e/ou depois dos tratamentos presenciais em qualquer lugar do Brasil. O HCor também trabalha em parceria com instituições de saúde de várias partes do país — onde cerca de 30 mil crianças nascem, todos os anos, com cardiopatias congênitas que podem aparecer entre a gestação e a fase adulta. Com a troca de conhecimento entre os profissionais, o hospital minimiza o vazio assistencial especializado em determinadas regiões.
O próprio governo federal implantou o Consultório Virtual Saúde da Família. O uso da ferramenta dá suporte à rede de Atenção Primária à Saúde (APS), mantendo o acompanhamento de pacientes crônicos em tratamento. Segundo informações do Portal da Secretaria da APS, pelo menos 20 mil médicos e enfermeiros que atuam nas unidades de Saúde da Família passaram por treinamento. A plataforma permite agendamento virtual, registro da consulta remota e emissão de atestados e de receitas com certificação digital.
A popularização da telemedicina chega com força em 2021. E eu confio que será um serviço que permanecerá disponível após o período de Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional — que, hoje, é a classificação que permite o uso da ferramenta. O governo — junto, claro, ao Conselho Federal de Medicina, instituições de saúde e profissionais — devem se preparar para o aumento na demanda. São necessárias regulação, capacitação e informação para que os atendimentos à distância aconteçam de forma responsável e segura. O Brasil precisa da telemedicina.
*Jihan Zoghbi é Presidente da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS) e CEO da startup Dr. TIS