Mudanças climáticas aumentam níveis de depressão e ansiedade
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Problemas de saúde mental se intensificam quando populações são expostas aos efeitos das mudanças climáticas, segundo estudo realizado em Bangladesh — o sétimo país mais vulnerável do mundo aos efeitos das alterações do clima. A probabilidade um indivíduo desenvolver ansiedade e depressão simultaneamente sobe para 24%, quando há aumento de 1 °C na temperatura média.
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Publicado na revista científica The Lancet Planetary Health, o estudo sobre o impacto de mudanças climalíticas, como aumento das temperaturas e inundações mais frequentes, foi liderado por pesquisadores da Universidade George Washington, nos Estados Unidos.
"Choques relacionados ao clima e outros estressores têm uma associação importante com o fardo da depressão e da ansiedade em Bangladesh", pontuam os cientistas. Agora, o próximo passo será entender como estas alterações impactam outras populações do globo e buscar formas de mitigar estes efeitos.
Como as mudanças climáticas pioram a depressão e a ansiedade?
No estudo, a equipe de cientistas usou três tipos de dados para construir as estatísticas sobre os efeitos da mudança climática na população. Foram eles:
- Informações prevenientes de 43 estações meteorológicas, situadas em diferentes pontos de Bangladesh, que mediam mudanças de temperatura e de umidade;
- Mapeamento de casos de enchentes e inundações no país;
- Entrevistas sobre o estado psicológico de aproximadamente 7 mil voluntários, sendo que a maioria era composta por mulheres (59%).
Impacto dos eventos climáticos extremos na saúde mental
Após cruzar todas as fontes de dados e usar um modelo matemático, os autores identificaram relações significativas entre a intensificação das mudanças climáticas e o declínio da saúde mental na população. Por exemplo, o aumento consistente da temperatura em 1 °C fez com que a probabilidade de uma pessoa desenvolver ansiedade subisse para 21%. Considerando casos simultâneos de depressão e ansiedade, o risco aumenta para 24%.
Observando apenas o impacto do ar mais úmido — aumento de 1 g/m3 —, a probabilidade de uma pessoa desenvolver ansiedade e depressão sobe para 6%. Vale observar que nenhuma ligação entre calor ou umidade foi identificada exclusivamente com a depressão.
Agora, os cientistas destacam que a ligação mais forte está relacionada com as inundações. Passar pelo evento climático extremo aumento em 31% o risco de depressão, em 69% a probabilidade de ansiedade e em 87% a chance das duas condições. Além da questão psicológica, é preciso lembrar que as enchentes também provocam o aumento de inúmeras doenças infecciosas, como leptospirose.
Estudo deve servir de alerta para outras nações
"Conforme as mudanças climáticas pioram, as temperaturas e a umidade continuarão a aumentar, assim como os desastres naturais, como inundações extremas, que pressagiam um impacto pior em nossa saúde mental coletiva, globalmente”, afirma Syed Shabab Wahid, um dos autores do estudo, em comunicado. "Os resultados devem servir de alerta para outras nações”, completa.
Fonte: The Lancet Planetary Health e Universidade George Washington