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MK-Ultra, o programa secreto de controle mental da CIA

Por| Editado por Luciana Zaramela | 29 de Maio de 2022 às 16h00

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Twenty20photos/Envato Elements
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Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos lideraram um dos mais polêmicos e antiéticos programa de pesquisa com humanos: o MK-Ultra. Comandado secretamente pela Central Intelligence Agency (CIA), o objetivo dos cientistas era desenvolver ferramentas de controle mental e, neste processo, deixaram inúmeras pessoas com sequelas e transtornos cognitivos. Até hoje, não se sabe o número total de participantes.

De forma geral, os experimentos com as cobaias humanas — que não sabiam estar participando de um estudo científico — misturavam diferentes técnicas, como uso de eletrochoques, LSD, privação sensorial extrema e condução psíquica. Os testes se concentraram entre os EUA e o Canadá.

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"Pacientes em hospitais psiquiátricos, presos em instituições federais e pessoas [da população em geral] receberam drogas e foram parte de experimentos sem seu conhecimento ou consentimento", revela Tom Oneill, pesquisador e autor do livro Em busca do candidato de Manchúria: a CIA e o controle mental, para a rede BBC.

Inclusive, as histórias e os relatos dos sobreviventes são inspiração para os criadores da série Stranger Things, Matt Duffer e Ross Duffer. Disponível no Netflix, o drama explora as consequências de macabros experimentos científicos realizados com crianças, como é o caso da Eleven, a protagonista da série.

Por dentro do programa MK-Ultra

Os primeiros relatos do programa MK-Ultra datam o início da década de 1950, quando a Guerra Fria estava no seu ponto mais crítico e o mundo encarava o terror de uma possível guerra nuclear. Neste cenário, os agentes da CIA temiam o desenvolvimento de técnicas de controle mental por soviéticos e chineses.

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Buscando contrapor o possível conhecimento, a agência dos EUA investiu cerca de US$ 25 milhões (cerca de 188 milhões de reais, sem correção inflacionário) para experimentos psiquiátricos em seres humanos, segundo o canal BBC. As atividades eram lideradas pelo químico e psiquiatra Sidney Gottlieb.

"Gottlieb queria criar uma maneira de controlar a mente das pessoas e percebeu que era um processo de duas partes", explica o pesquisador e jornalista Stephen Kinzer, para o jornal da NPR. "Primeiro, você tinha que explodir a mente existente. Em segundo lugar, você tinha que encontrar uma maneira de inserir uma nova mente naquele vazio resultante. Não fomos muito longe no número dois, mas ele trabalhou muito com a primeira etapa", acrescenta Kinzer.

O que era feito com as cobaias humanas?

Diferentes centros de pesquisa estiveram envolvidos no programa MK-Ultra, como o Allan Memorial Institute, localizado na cidade de Montreal, no Canadá. A instituição era supervisionada por outro psiquiatra, Donald Ewen Cameron. De forma semelhante a Gottlieb, Cameron acreditava ser possível reprogramar mentes humanas.

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Para alcançar este objetivo, o psiquiatra buscava formas de regredir os "pacientes" para um estado psicológico infantil, quando o indivíduo está no período de maior vulnerabilidade. A partir desse ponto, teoricamente, seria possível reprogramar a sua mente, incluindo e induzindo ideias e conhecimentos específicos.

Normalmente, o alvo dessa "terapia" eram pacientes que chegavam ao instituto para tratar questões psíquicas mais simples, como transtornos de ansiedade ou ainda depressão pós-parto. No entanto, após entrarem, o costume era sair ainda mais desestabilizado psicologicamente.

"Meu pai recebeu 54 tratamentos de eletrochoque de alta voltagem seguidos e teve 54 convulsões [perda de consciência e contrações musculares violentas]", conta Lana Sowchuk, filha de um dos pacientes tratados na instituição. Segundo Sowchuk, o pai era "um homem são e atlético de 27 anos", mas tudo mudou após entrar no instituto.

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Outros testes macabros

Além dos eletrochoques, os relatos apontam para casos condução psíquica, nos quais as pessoas eram obrigadas a passar horas escutando mensagens repetitivas através de fones de ouvido ou de alto-falantes, independente de estarem acordadas ou dormindo.

Alguns experimentos propunham formas de privação sensorial extrema, onde o paciente perdia a noção de onde estava. Na maioria dos casos, eles estavam vendados, amarrados e no escuro, enquanto passavam por situações extremas. Além disso, algumas pessoas eram "tratadas" com grandes doses de substâncias psicodélicas, como o LSD, quando pensavam estar loucas.

Quando os experimentos acabaram?

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Apesar de todas as infrações éticas, o programa MK-Ultra só começou a ser revisto em 1964, ou seja, quase 15 anos depois da sua criação. No entanto, foi interrompido, de forma definitiva, apenas em 1973. Para nos situar na linha do tempo, isso aconteceu há 49 anos.

Com desfecho das internações, muitos pacientes perderam a memória e conviveram com as sequelas das "terapias" até os últimos dias de suas vidas. Outros ainda retornaram em um estado infantilizado e precisaram reapreender, por exemplo, como ir até o banheiro. De forma geral, estes indivíduos nunca receberam desculpas formais e públicas pelas atrocidades que foram obrigados a passar.

Fonte: BBC e NPR