Memória ruim? Entenda o que provoca o comprometimento cognitivo
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Existe a falsa ideia de que o comprometimento cognitivo e a perda de memória afetam exclusivamente os mais velhos. Na verdade, jovens e adultos também podem sofrer com a memória ruim, embora esses problemas se intensifiquem com o avanço da idade. O ponto é que, independente da faixa etária, é preciso saber identificar esses primeiros sinais até mesmo para revertê-los.
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“Devemos sempre investigar um quadro de comprometimento cognitivo”, afirma o médico neurologista Aurélio Pimenta Dutra, durante o 8º Encontro Fleury de Jornalismo em Saúde, no qual o Canaltech esteve presente. Afinal, 15% a 20% desses casos são reversíveis.
Para o especialista, a saúde mental não pode mais ser encarada como uma parte menos importante daquilo que é considerado a Saúde, com letra maiúscula. Só que, hoje, esses problemas ainda são diminuídos com desculpas do tipo “estou muito cansado” ou “muito estressado”, impedindo o diagnóstico e a possível cura.
O que é comprometimento cognitivo?
Para o médico Dutra, “o comprometimento cognitivo é definido quando um indivíduo tem dificuldade em lembrar fatos recentes, aprender novos assuntos, manter a concentração ou tomar decisões que afetam o seu cotidinano”.
Dentro dessa definição, as pessoas podem apresentar diferentes níveis de comprometimento, que vai do leve — quando os problemas de memória são percebidos, mas não impedem a realização de atividades rotineiras — ao grave.
Nos casos mais graves, o paciente se torna incapaz de compreender a importância de alguma coisa. Também pode perder a capacidade de falar, escrever e viver de forma independente.
Cuidado com a falta de atenção
Vale pontuar que nem tudo cabe dentro do guarda-chuva do comprometimento cognitivo. Por exemplo, quando não há atenção plena em uma atividade ou mesmo em uma conversa, o que pode ser provocado pelo uso excessivo de telas, a memória dificilmente vai funcionar de forma adequada.
Nesses casos, o problema é mais uma questão comportamental (desatenção) do que uma questão cognitiva. Por isso, é importante se concentrar no momento presente. Apesar da frase ser um clichê, é também verdadeira e pode ajudar alguns indivíduos com a memória supostamente ruim.
Os indicadores da memória ruim
Não existe um único ponto a ser observado quando a questão é a sensação da memória fraca, já que diferentes questões se somam e ajudam a chegar a um diagnóstico. São 6 grandes pontos que devem ser analisados em caso de suspeita de declínio cognitivo.
A seguir, confira quais são os indicadores:
- Memória: isso envolve esquecer compromissos, fazer várias vezes a mesma pergunta ou simplesmente esquecer de conversas recentes;
- Atenção: não conseguir se concentrar ou ter longos períodos de apatia;
- Linguagem: ter dificuldade em encontrar as palavras para se expressar (verbalmente ou por escrito) ou não saber mais o nome de objetos do dia a dia;
- Processamento visuoespecial: a pessoa se perde com mais facilidade e não sabe mais reconhecer locais conhecidos;
- Funções executivas: perder a capacidade de realizar atividades que envolvem múltiplos passos, como cozinhar ou costurar. Também pode ser incluída a dificuldade em manusear objetos;
- Comportamento social: tornar-se impulsivo ou extremamente inseguro, além de não ter mais vaidade pessoal. Pode ser enquadrado também a adoção de comportamentos inapropriados.
Possíveis causas da perda de memória
No imaginário popular, a perda de memória é imediatamente relacionada com a demência e, mais especificamente, com a doença de Alzheimer. No entanto, existem pelo menos 15 diferentes quadros que podem prejudicar a capacidade cognitiva dos indivíduos, como:
- Transtorno depressivo;
- Transtorno de ansiedade;
- Transtorno do déficit de atenção;
- Distúrbios do sono, incluindo apnéia do sono e insônia;
- Dormir pouco (menos de 4 horas por noite) ou muito (mais de 10 horas);
- Distúrbios nutricionais, como falta de vitaminas (B1, B12 e ácido fólico);
- Distúrbios hormonais, como hipotireoidismo e climatério;
- Uso de medicamentos e drogas, o que inclui o excesso de álcool;
- Doenças cerebrovasculares;
- Infecções pontuais, como neurossífilis;
- Hidrocefalia;
- Tumores no cérebro;
- Demência;
- Doença de Alzheimer;
- Envelhecimento (idade).
O fator idade
Aqui, é importante destacar que, sim, a idade do indivíduo é um dos principais fatores de risco para o declínio cognitivo. Considerando que o Brasil é um país que está envelhecendo rápido, a tendência é que os casos desse tipo de comprometimento aumentem ao longo dos anos.
Para entender esse risco, o neurologista explica que, na faixa dos 60 anos, em média, 2% dos indivíduos têm demência — o quadro mais grave do comprometimento cognitivo. Depois dos 70, a porcentagem sobe bem pouco, ficando em 5%. Entre os idosos com 80 anos ou mais, o quadro é identificado em 15%. Agora, aos 90 anos, esse problema afeta cerca de 40% das pessoas.
Como é feito o diagnóstico
Para diagnosticar um quadro de comprometimento cognitivo, o paciente pode passar por diferentes exames, além da análise clínica, dependendo de suas queixas e do seu histórico.
Buscando descartar os problemas mais comuns — e os mais facilmente tratáveis — que afetam a memória, é recorrente solicitar exames para avaliar a função tireoidiana e a deficiência de vitaminas, além de possíveis infecções. Nesse campo, entram o hemograma e os painéis metabólicos.
Dependendo do quadro, pode ser solicitado uma polissonografia (exame para avaliar o sono) ou mesmo exames de imagens, que detectam possíveis tumores ou alterações no cérebro relacionados com os problemas de memória.
Descobrindo quadros de Alzheimer
No caso específico da suspeita de doença de Alzheimer, dependendo do nível de acesso do indivíduo à saúde, o profissional de saúde pode solicitar o PET cerebral amiloide ou o Prevecivity-AD2. Ambos buscam biomarcadores do quadro neurodegenerativo no sangue, com a diferença que o segundo envolve apenas a coleta de uma amostra de sangue.