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LARA 2019: Pesquisas tech latino-americanas focam na área da saúde

Por| 24 de Novembro de 2019 às 17h30

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LARA 2019: Pesquisas tech latino-americanas focam na área da saúde
LARA 2019: Pesquisas tech latino-americanas focam na área da saúde
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Na última terça-feira (19), pesquisadores de toda a América Latina se reuniram no Centro de Engenharia do Google em Belo Horizonte para mostrar seus projetos selecionados para o Latin America Research Awards (LARA), o programa de bolsas de pesquisa promovido pela empresa em questão. Nesta sétima edição, 679 inscrições foram recebidas, e o Google selecionou 25 projetos distribuídos por 5 países latino-americanos (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Peru). Esses projetos propõem usar a Ciência da Computação para resolver problemas de interesse social, no entanto, um ponto muito curioso nisso é que a maior parte deles está focada para uma área específica: a saúde. Isso só mostra o quanto a tecnologia em si está cada vez mais focada em promover melhorias nesse assunto.

Acontece que esse foco na saúde não foi premeditado pela equipe. Com essa surpresa em mãos, e querendo entender o impacto que a tecnologia está causando nessa área, os organizadores inclusive montaram um painel com professores envolvidos na causa — a brasileira Sandra Avila, da UNICAMP, o colombiano Winston Percybrooks, da UnivDelNorte e o peruano Mirk Zimic, da UnivPeruana) — ao lado de Berthier Ribeiro-Neto, diretor de engenharia do Google na América Latina.

“Quando você pensa em saúde e uso de tecnologia, há diferentes tendências: ou aplicação do machine learning para auxiliar o diagnóstico, ou o uso de tecnologia para permitir o diagnóstico à distância”, aponta Berthier, durante o painel. O diretor enfatiza que apesar desse auxílio que a tecnologia dispõe, a decisão é feita pelo ser humano, pelo profissional da saúde. “Frequentemente a tomada de decisão é feita de maneira parcial, e tem vários outros fatores que influenciam”. Berthier aproveita para mencionar uma outra tendência no assunto, que é o home care, atendimento de saúde domiciliar, ou seja: enviar o paciente para casa e monitorar à distância. Existem certos limites éticos nesse procedimento, mas já existem unidades experimentais fazendo isso.

Durante esse painel, os professores são incentivados a expor o que acreditam em torno da aplicação de tecnologia na área da saúde, a relevância e o impacto esperado. O consenso entre esses três pesquisadores é o seguinte: “O objetivo não é fazer diagnóstico, mas sim um suporte. E essa ideia é muito bem vista por todos os médicos que a gente conversa. Um próximo passo é conseguir fazer coletas de dados mais apuradas”.

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Projetos do LARA se concentram na saúde

Dentre os 25 projetos que ganharam a bolsa (você pode conferir a lista com todos os vencedores no blog oficial do Google Brasil), 15 são brasileiros, cinco são colombianos, dois são da argentinos, dois são do chilenos e um é peruano. 12 deles são concentrados na área da saúde. É o caso, por exemplo, da pesquisa das brasileiras Maria José Finatto e Liana Paraguassu, intitulada “MedSimples: uma ferramenta de simplificação automática para maior acessibilidade na comunicação da saúde”, que é tipo um Google Tradutor para termos muito difíceis envolvendo a saúde, simplificando assim os textos. O reconhecimento, no entanto, não é automatizado: “Digamos que você tem que escrever uma matéria sobre Sarampo, e a sua matéria vai ser voltada para um público que não tem mais de nove anos de escolaridade. Você vai pegar um texto que considera adequado, na temática do sarampo e seleciona o tipo de leitor. Tem nível um, nível dois e nível três”, explica Maria José. “É um auxiliar para um jornalista escrever um texto para uma pessoa de baixa escolaridade, para um médico produzir material informativo”, acrescenta.

Outra pesquisa brasileira que ganhou bolsa foi “detecção de eventos adversos em registros eletrônicos de saúde: incidentes de queda e erros de medicação”, por Renata Vieira e Henrique Santos. A ideia é desenvolver tecnologia baseada em inteligência artificial para auxiliar os profissionais de saúde na identificação de efeitos adversos. Por sua vez, a pesquisa “Classificação automática e interpretável do eletrocardiograma de 12 derivações”, de Wagner Meira Junior e Derick Oliveira, consiste em um método de classificação para todas as 74 classes de diagnósticos a partir de eletrocardiogramas de 12 sensores.

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O projeto de Sandra Avila, que participou do painel sobre tecnologia e saúde, chama “Melhorando a classificação do câncer de pele com redes adversárias generativas”. A brasileira aponta: “Uma coisa que a gente tem percebido é que o número de dermatologistas é muito pequeno e o câncer cresce cada vez mais”, e explica que a ideia é atingir a simplicidade, e colocar as informações em um aplicativo para que as pessoas possam perceber, logo de cara, se aquela mancha na pele tem muita probabilidade de ser um câncer ou não, por exemplo, e resolver “casos fáceis” sem a necessidade de ir ao hospital. Os brasileiros Felipe Meneguzzi e Laura Tomaz da Silva também desenvolveram uma pesquisa voltada à saúde, mais precisamente “explicações visuais para dados de neuroimagem”, sob o objetivo de avançar as técnicas de visualização de redes neurais e promover insights voltados ao diagnóstico de dislexia e outros transtornos de aprendizado.

“Melhorando a localização da patologia nas radiografias de tórax com supervisão limitada via aprendizado de múltiplas instâncias semi-supervisionado”, de Rodrigo Barros e Eduardo Pooch — que visa utilizar uma quantidade limitada de dados anotados em conjunto com grandes quantias de dados não anotado para melhorar os resultados de localização automatizada de patologias em radiografias do tórax — e “Abordagens de aprendizado de máquina para identificação de vírus em mosquitos Aedes usando pequenos RNAs”, de João Trindade Marques e João Paulo Almeida, também são projetos brasileiros voltados à área da saúde.

Enquanto isso, o colombiano Fabio Gonzalez, juntamente com Santiago Toledo-Cortês, ganhou a bolsa com a pesquisa “Modelo de aprendizado computacional para a análise do fundo ocular para apoio ao diagnóstico médico”, que trata do design e da implementação de um sistema para a aquisição e o processamento de imagem do fundo ocular e a detecção de patologias associadas ao diabetes, e Pablo Arbelaez e Laura Daza, também da Colômbia, estão com a pesquisa intitulada “Detecção de nódulos pulmonares e previsão de malignidade usando redes neurais multimodais”, que almeja criar uma ferramenta capaz de usar informações tridimensionais das tomografias computadorizadas para localizar os nódulos. Outra pesquisa colombiana voltada à área da saúde é a do professor Winston Percybrooks, com Pedro Narvaez. O trabalho deles chama “em direção a uma auscultação inteligente e assistida por computador em larga escala para instalações remotas de atenção primária”, cujo principal objetivo é desenvolver um sistema automático de diagnóstico de ausculta cardíaca baseado em nuvem.

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Já o Peru representa a health tech com a pesquisa de Mirko Zimic com Macarena Vittet. Trata-se da “abordagem econômica para o diagnóstico de autismo em crianças em ambientes com poucos recursos, combinando preferência de olhar, pupilometria e reconhecimento de gestos emocionais, realizada em um dispositivo de computação portátil usando aprendizado de máquina”.

O apoio à pesquisa latino-americana

Desde seu lançamento, em 2013, o LARA já destinou US$ 3 milhões (ou seja, cerca de R$ 12 milhões), a mais de 120 projetos de universidades latino-americanas. Em entrevista ao Canaltech, Berthier conta como surgiu a ideia de apoiar os pesquisadores da América Latina: "Eu venho observando o cenário acadêmico há mais de 20 anos, e a pergunta que eu fiz para a liderança de pesquisa do Google na época foi: 'Imagine dois projetos idênticos, e um projeto é de um professor do Massachusetts Institute of Technology e o outro de um professor da Universidade de Buenos Aires. Qual dos dois você vai suportar?' Se os projetos são idênticos, eu queria ter a chance de suportar o que foi feito na Argentina também".

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Tendo isso em mente, o diretor de engenharia desenvolveu um projeto piloto cerca de sete anos atrás, com cinco projetos sendo financiados, apenas, e o resultado foi além das expectativas: "O número de publicações em revistas e conferências especializadas foi muito maior do que o que a gente via nos estados unidos, na média. Ficou claro perante a direção da empresa que havia um aspecto positivo na pesquisa regional, e a gente vem aumentando os valores investidos no projeto", afirma.

Berthier conta que o processo de seleção é muito intenso: trata-se de um processo de três etapas e em cada etapa vai reduzindo os projetos. Na etapa final, os projetos ainda recebem duas avaliações e a equipe faz uma reunião dos avaliadores para tomar a decisão definitiva. "E uma coisa que a gente observou é que quase metade dos projetos eram uso de tecnologia na área de saúde para resolver problemas do dia-a-dia. Isso é o que a gente gosta de ver", Berthier conta. Sobre as expectativas em torno desses projetos, o diretor de engenharia destaca: "Se você está usando tecnologia na área da saúde, você precisa de parcerias de hospitais, instituições. Receber uma bolsa de pesquisa do Google ajuda a abrir portas, e a gente espera que à medida que esses pesquisadores demonstram conhecimento para resolver problemas que têm impacto na sociedade, essa solução desperte o interesse de agentes de mercado que possam então fazer um investimento para gerar produtos ou processos utilizados em toda a população de um país, por exemplo".

Berthier finaliza expondo as expectativas para as próximas edições do evento em questão: "Ano que vem, nós vamos manter o nível de investimento que nós temos para este ano, estamos investindo cerca de R$ 2 milhões para suportar pesquisadores da região, mas com o número de inscrições crescente, eu acho que o que vai acontecer para 2021 e 2022 é que nós vamos aumentar o investimento”, revela.