Já ouviu falar em transplante de cocô? Ele pode ajudar a combater COVID!
Por Natalie Rosa • Editado por Luciana Zaramela |
Você já ouviu falar no transplante de fezes? A prática, ainda incomum no mundo da medicina, é feita para aumentar a resposta imunológica do organismo com a inclusão de um agrupamento de micróbios saudáveis para o microbioma do intestino. Agora, o método pode ser uma opção para o tratamento da COVID-19.
- Pesquisadores encontram 54.118 novos vírus em fezes humanas
- Como está seu intestino? "Desafio do cocô azul" responde a essa questão
- Cocô de babuíno mostra como o estresse pode encurtar a vida; entenda!
Para que seja feito o transplante, é preciso que haja a doação de fezes, que são posteriormente analisadas, processadas e embaladas em uma pílula que será ingerida. O doador precisa ser uma pessoa que tenha um microbioma parecido com quem vai receber o excremento, contando com bactérias que sejam necessárias para cada habitat.
A ideia de tratar a COVID-19 com o transplante fecal, conhecido também como terapia bacteriana, surgiu com a experiência de dois pacientes que foram infectados pelo coronavírus e que também tiveram uma doença estomacal. Cada uma dessas pessoas recebeu o transplante de fezes e, pouco tempo depois, os sintomas desapareceram.
Os casos
O primeiro caso a ser tratado com o transplante fecal foi um homem de 80 anos que sofria com uma inflamação no intestino chamada clostridiose, causada por bactérias do gênero Clostridium, que aparecia de forma recorrente, e que depois teve sintomas de pneumonia que também indicavam a infecção pelo SARS-CoV-2. Além do transplante fecal, o paciente foi tratado com plasma convalescente e com remdesivir.
Os pesquisadores ficaram surpresos ao ver que os sintomas de COVID-19 do paciente desapareceram de forma rápida, enquanto os outros tratamentos não aparentavam ter eficácia na recuperação da doença.
Já o segundo caso foi de um jovem de 19 anos que sofre de uma doença chamada colite ulcerativa e que estava em tratamento com medicamentos imunossupressores, sofrendo também com episódios constantes de clostridiose. Ele recebeu o transplante fecal e, pouco depois, começou a ter sintomas da COVID-19, o que foi confirmado com um teste PCR. Esses sintomas, no entanto, desapareceram sem qualquer tratamento específico.
Em ambos os casos, os médicos tiveram a certeza de que o coronavírus não foi contraído devido ao transplante fecal, uma vez que o material foi testado para o vírus antes da ingestão. Os especialistas acreditam que a explicação para que nenhum paciente desenvolvesse sintomas graves da COVID-19 foi o transplante de fezes. "Mitigou os resultados mais adversos, potencialmente através do impacto das interações entre os microbiomas e a imunidade", diz o estudo.
Os cientistas deixam claro que o resultado do estudo não é uma resposta definitiva sobre o tratamento da COVID-19 através do transplante fecal, mas que se trata de uma questão que merece ser investigada com mais atenção. "Esses dados nos fazem especular que a manipulação do microbioma intestinal merece ser mais explorada como uma estratégia imunomoduladora na COVID-19", conclui a pesquisa.
O estudo completo está disponível na revista científica Gut.