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Gene recém-descoberto pode proteger contra covid

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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National Institute of Allergy and Infectious Diseases/NIAID
National Institute of Allergy and Infectious Diseases/NIAID

Desde os primeiros meses da pandemia da covid-19, os médicos e os cientistas perceberem que algumas (poucas) pessoas reagiam de forma muito mais branda e até assintomática ao vírus que causava milhares de mortes todos os dias. A proteção natural contra o patógeno está aparentemente conectada com a superexpressão do gene IFIT3, como revela estudo da Universidade de São Paulo (USP).

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores do Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL), sediado na USP, analisaram amostras de sangue de casais sorodiscordantes em relação à doença. Em outras palavras, apenas um dos indivíduos apresentava sinais da covid-19, mesmo que compartilhassem a mesma cama e o mesmo banheiro.

Os resultados envolvendo o gene protetor contra a covid-19 foram publicados na revista Frontiers in Cellular and Infection Microbiology. O fato curioso é que a superexpressão do IFIT3 só foi identificada nas mulheres, e ainda não se sabe o porquê do mecanismo parecer inexistente em homens.

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Proteção natural contra coronavírus

O estudo que buscou entender o que causa respostas diferentes ao vírus da covid-19 em casais que vivem juntos começou em 2020, logo nos primeiros meses da pandemia no Brasil. Assim, foi possível localizar 86 casais que respondiam de forma diferente: um desenvolvia a doença com sintomas e o outro não se infectava ou era assintomático.

Com o passar dos meses e das reinfecções, apenas seis casais continuaram a apresentar essa diferença em relação ao coronavírus SARS-CoV-2. Como já adiantamos, apenas as mulheres eram realmente resistentes ao vírus.

Ao analisar o material genético e o exoma (parte do genoma onde ficam os genes codificadores de proteína), a equipe notou diferenças significativas entre os parceiros resistentes e infectados. 

Em testes de laboratório, o grupo entendeu que as mulheres resistentes ao vírus tinham expressão aumentada do gene IFIT3 em relação aos companheiros. Esta é a chave para a proteção anormal a essa infecção. Fora essas seis mulheres, as outras tinham a expressão baixa do gene, ou seja, não tinham o “superpoder”.

Gene que combate a covid

O gene IFIT3 é conhecido por atuar durante a resposta antiviral. Anteriormente, foi relacionado à proteção contra outras doenças virais, como dengue, hepatite B e adenovírus. Entretanto, a nova pesquisa da USP confirmou, pela primeira vez, o efeito protetor na prática. Afinal, considerando o modo de vida dos voluntários, era impossível que as mulheres não tivessem entrado em contato com o vírus da covid-19 ao se relacionarem com os maridos.

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A proteção do gene está associada à codificação de uma proteína que se liga ao RNA do vírus. Assim, ela impede a replicação viral, fazendo com que a doença não progrida. Por isso, não há sintomas. 

“A proteína IFIT3 se ‘gruda’ no RNA viral, impossibilitando sua replicação. Ou seja, não é que essas mulheres não tenham sido infectadas, elas foram. Mas o vírus mal se multiplicou dentro de suas células e, por isso, elas não tiveram a doença”, detalha Mateus Vidigal, primeiro autor do artigo, para a Agência Fapesp.

A partir do achado, é possível pensar em novas terapias contra a covid-19, como medicamentos que estimulem a atividade do gene em questão, impedindo a evolução do quadro. Eventualmente, a técnica pode ser replicada contra outras doenças que compartilham do mesmo mecanismo.

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Fonte: Agência Fapesp