EUA quer que gripe aviária se espalhe entre aves; ação pode gerar nova pandemia
Por Nathan Vieira |

Na última quinta-feira (3), um grupo de especialistas em virologia, veterinária e segurança sanitária publicou um alerta na revista Science sobre uma proposta controversa do governo dos Estados Unidos: permitir que a gripe aviária H5N1 se espalhe livremente entre aves de criação no país. A ideia, defendida por Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde e Serviços Humanos, e Brooke Rollins, secretária de Agricultura, seria não eliminar os animais infectados para identificar aves naturalmente resistentes ao vírus.
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"Queremos identificar e preservar as aves que são imunes", afirmou Kennedy em entrevista à Fox News no último mês de março. No entanto, especialistas apontam que essa estratégia pode ter consequências catastróficas, incluindo o risco real de uma nova pandemia global.
Segundo a virologista Erin Sorrell, da Universidade Johns Hopkins, quanto mais tempo um vírus como o H5N1 circula entre diferentes espécies, maiores são as chances de ele sofrer mutações e se adaptar a novos hospedeiros, como os humanos. “O pior cenário é que o vírus se adapte e se torne transmissível entre pessoas. Aí teremos uma pandemia”, alertou a autora do estudo ao Live Science.
Gripe aviária nos EUA
Desde janeiro de 2022, o H5N1 já infectou mais de 174 milhões de aves nos Estados Unidos. O vírus, altamente patogênico, tem sido detectado em aves selvagens, rebanhos comerciais e criações domésticas. A doença levou a grandes perdas econômicas para o setor avícola e ao aumento expressivo nos preços dos ovos. O país registrou até mesmo morte humana por gripe aviária.
Além disso, o vírus já infectou mais de 48 espécies de mamíferos, incluindo raposas, guaxinins, focas e até ursos polares. Mais recentemente, surtos foram identificados em mais de mil rebanhos leiteiros em 17 estados norte-americanos.
Para os cientistas, a estratégia do governo em lidar dessa forma com a gripe aviária ignora o risco de adaptação viral e representa uma ameaça à saúde pública mundial. Eles defendem a continuidade das medidas de contenção, como o abate de aves infectadas, para evitar uma escalada na transmissão e proteger a população humana.
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Fonte: Fox News, Live Science