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Estudo: historiadores subestimaram os efeitos da Praga de Justiniano

Por| Editado por Luciana Zaramela | 24 de Novembro de 2021 às 15h10

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Romankosolapov/Envato Elements
Romankosolapov/Envato Elements

Entre os anos de 542 e 545 dC, a Praga Justiniana se espalhou pela Eurásia Ocidental, durante o reinado do imperador Justiniano I, conhecido por tentar restaurar o Império Romano do Ocidente. A Praga foi o primeiro caso conhecido da peste bubônica — causada pela bactéria Yersinia pestis e, normalmente, transmitida através das pulgas de roedores aos seres humanos — nesta parte do mundo. Agora, um novo estudo aponta que seus impactos foram muito mais severos do que se imaginava.

Publicado na revista científica Past & Present, o novo estudo do historiador Peter Sarris, da Universidade de Cambridge, investigou tanto textos antigos da época quanto análises de dados genéticos. Segundo o autor, é fundamental que arqueólogos e pesquisadores trabalhem ao lado de cientistas e geneticistas para revelarem o passado de forma multidisciplinar e, consequentemente, mais verdadeira.

“Alguns historiadores permanecem altamente hostis a considerar fatores externos, como certas doenças, como tendo um grande impacto no desenvolvimento da sociedade humana, e o 'ceticismo da praga' tem tido muita atenção em anos recentes”, defende Sarris.

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Para o historiador, nos últimos anos, o interesse pelos impactos da Praga de Justiniano cresceu. Por outro lado, isso "coincidiu com um esforço concentrado de alguns historiadores para minimizar sua importância histórica", explica. Inclusive, compreender esta relação pode apontar para as origens do negacionismo até os nossos tempos, onde a sociedade enfrenta a covid-19.

Por que a Praga de Justiniano teria sido tão devastadora?

Para o historiador Sarris, um dos fatos que apontam para a gravidade da Praga de Justiniano é o número de leis aprovadas, entre os anos de 542 e 545 dC, quando a população diminuía significativamente. Nesse sentido, algumas leis pretendiam evitar a exploração de trabalhadores. Isso porque o momento parecia ser uma grave escassez de mão-de-obra.

Em 542, uma lei aprovada era destinada a apoiar o setor bancário da economia imperial. A sua aprovação era justificada pela presença intensa e pelos impactos da "morte" na sociedade. Além disso, uma nova série de moedas de ouro mais leves foi emitida, enquanto o peso das moedas de cobre caiu. A situação apontava para a desregulação da economia incipiente e para a extensão dos prejuízos da praga dentro da sociedade.

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"Testemunhar a praga em primeira mão obrigou o historiador contemporâneo Procópio a romper com sua vasta narrativa militar para escrever um relato angustiante sobre a chegada da Praga à Constantinopla, que deixaria uma impressão profunda nas gerações subsequentes de leitores bizantinos", escreveu Sarris.

Amostras de DNA da peste bubônica

Além da questão legal e econômica, o historiador destaca evidências das Ciências Naturais sobre o impacto da Praga Justiniana naquela região do globo. Isso porque novas evidências de DNA mostram que a peste bubônica conseguiu avançar até a Inglaterra, segundo uma análise genética, de 2018, feita em um cemitério britânico. Até então, era difícil pensar que a doença pudesse chegar tão longe.

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Para o historiador, análises de DNA são um método muito mais confiável de descobrir para onde a praga se espalhou do que apenas consultar textos antigos. “Temos muito a aprender como nossos antepassados ​​responderam às doenças epidêmicas e como as pandemias afetaram as estruturas sociais, a distribuição da riqueza e os modos de pensar”, completa Sarris.

Vale lembrar que, antes mesmo das novas descobertas, a Praga de Justiniano já era considerada uma das 10 piores pandemias da história. Nesse sentido, as novas evidências corroboram com este entendimento e a colocam ao lado da Peste Negra e da Terceira Pandemia de Cólera.

Fonte: Past & Present