Este vírus pode transformar células saudáveis em cancerígenas, segundo estudo
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

Cientistas identificaram como o HTLV-1 — conhecido oficialmente como vírus linfotrópico de células T humanas do tipo 1 — pode transformar células saudáveis do sistema imunológico em cancerígenas. Isso porque, em alguns pacientes, esta infecção leva ao aparecimento de um tipo de leucemia rara.
Entender melhor esse processo do HTLV-1 no organismo pode contribuir para a descoberta de novos tratamentos contra as suas complicações, principalmente o câncer. No Brasil, cerca de 750 mil pessoas convivem com a infecção, segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Liderado por pesquisadores do Imperial College London e da Kumamoto University, o estudo foi publicado na revista científica Journal of Clinical Investigation.
Conheça as complicações do HTLV-1
Segundo os pesquisadores, a leucemia ou linfoma de células T do adulto se desenvolve em cerca de 5% das pessoas infectadas com o HTLV-1, só que se passam anos até a evolução.
O tempo entre a infecção inicial e o câncer não é possível de ser previsto, nem se a progressão será lenta ou agressiva. O que se sabia é que, nesse intervalo, o vírus infecta as células T do sistema imunológico e as transforma em células cancerígenas.
Além do câncer, o vírus pode causar mielopatia associada ao HTLV-1. Essa é uma doença neurológica semelhante à esclerose múltipla e de elevada morbidade.
De acordo com o Inca, o HTLV pode ser transmitido de maneira semelhante ao HIV. A seguir confira quais são as principais formas de contraí-lo:
- Transfusão de sangue;
- Aleitamento materno (transmissão vertical);
- Ato sexual;
- Compartilhamento de seringas e agulhas infectadas;
- Acidente com material contaminado perfuro-cortante.
Como o vírus transforma células em cancerígenas?
Na primeira etapa, o HTLV-1 invade as células T e permanece em um estado de latência. Isso significa que ele não libera nenhuma nova partícula viral ou causa quaisquer efeitos nocivos. Para muitos portadores, o agente infeccioso nunca sai dessa etapa, mas, em alguns pacientes, o vírus desperta e começa a causar complicações.
No total, os pesquisadores analisaram mais de 87 mil células T de doadores sem o vírus, de pessoas que convivem com a infecção "inativa" e de pacientes com o tipo raro de leucemia. A partir desse levantamento, a equipe sequenciou o RNA dessas células para entender como HTLV-1 estava no interior delas.
No grupo de pessoas com câncer, o HTLV-1 fez com que as células T infectadas se tornassem hiperreativas. Para os pesquisadores, essas mudanças deixaram as células do sistema imune mais vulneráveis a danos ao DNA, o que pode ocorrer através de agentes químicos ou pela radiação. Por sua vez, isso acelera a transição delas para um estado canceroso.
Agora, estudos mais aprofundados são necessários para compreender os processos envolvidos, segundo os pesquisadores. Uma das ideias é entender se a ativação crônica das células T pode ser interrompida de alguma forma.
Fonte: Journal of Clinical Investigation e Inca