Dengue e zika deixam seu cheiro mais atraente aos mosquitos, segundo estudo
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Os vírus da dengue e da zika alteram o odor de ratos e humanos que infectam, segundo estudo publicado na revista Cell na última quinta-feira (30). A modificação no cheiro, segundo os cientistas, atrai mais mosquitos ao animal hospedeiro, o que melhora a transmissão do patógeno ao ajudar no espalhamento de sangue infectado.
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A dengue é espalhada por mosquitos em áreas tropicais do planeta, e, às vezes, em áreas subtropicais. O vírus normalmente causa febre, erupções cutâneas e dores, mas pode chegar a causar hemorragias e até morte. Mais de 50 milhões de casos de dengue são reportados todos os anos, resultando em 20.000 mortes, a maior parte de crianças.
A zika, também propagada pela picada de mosquitos, é da mesma família da dengue, e, apesar de não costumar causar problemas sérios em adultos, pode resultar em microcefalia caso infecte grávidas, como vimos nos últimos anos no Brasil. A febre amarela, a encefalite japonesa e o vírus do Nilo Ocidental também compartilham parentesco com esses vírus.
Em regiões com invernos rigorosos, surtos de tais doenças costumam ser interrompidos com o cair das temperaturas, já que, sem hospedeiros ou mosquitos para servir de vetor, os vírus não conseguem se espalhar. Em climas tropicais como o brasileiro, no entanto, sempre há mosquitos: e agora os cientistas parecem ter descoberto mais uma maneira pela qual os patógenos aumentam sua dispersão.
Mosquitos, cheiros e vírus
Equipes de universidades e organizações japonesas observaram que tanto a malária quanto inflamações generalizadas mudam o odor dos pacientes, e suspeitaram que a dengue e a zika pudessem fazer o mesmo. Testando para ver se os mosquitos preferiam camundongos infectados ou saudáveis, eles descobriram que os roedores com dengue atraíam mais insetos.
Analisando, então, as moléculas de odor na pele dos camundongos, os cientistas notaram algumas mais comuns nos animais infectados, testando-as individualmente. Aplicando-as em ratos saudáveis e nas mãos de voluntários humanos, os pesquisadores descobriram que a acetofenona, uma molécula odorífera, atraía bastante os mosquitos. O odor da pele de humanos infectados, quando analisado, também mostrava uma produção maior de tais moléculas.
A acetofenona é fabricada por bacilos que crescem na pele de humanos e camundongos, mas normalmente são suprimidos por peptídeos antimicrobianos produzidos pelo corpo. Quando ocorre a infecção por dengue e zika, no entanto, o organismo não produz tantos peptídeos, e o vírus consegue se proliferar mais rápido. Isso, dizem os cientistas, pode ser o segredo da persistência dos vírus de mosquito por períodos tão longos.
Além da descoberta, os pesquisadores também testaram uma droga preventiva: os camundongos foram injetados com um derivado da vitamina A, a isotretinoína, que aumenta a produção de peptídeos pela pele. Com ele, os roedores produziram menos acetofenona, e reduziram sua atratividade aos mosquitos. O próximo passo é analisar os mesmos efeitos em humanos, e verificar se as descobertas se aplicam no mundo real, fora de ambientes controlados.
Fonte: Cell