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Mito ou verdade: COVID-19 pode causar disfunção erétil?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 09 de Dezembro de 2020 às 14h40

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Jakob Owens/ Unsplash
Jakob Owens/ Unsplash

O novo coronavírus (SARS-CoV-2) segue um mistério, em muitos aspectos, para cientistas e pesquisadores, mesmo um ano após sua descoberta. Estudos recentes sobre o vírus da COVID-19 já demonstraram que, além de contaminar os pulmões, a infecção pode desencadear alterações neurológicas. Além disso, pacientes podem continuar com sintomas meses depois do controle da doença, em um quadro conhecido como pós-COVID. Agora, relatos médicos também apontam para a eventual relação com a disfunção erétil e problemas na saúde sexual masculina.

Neste cenário de pandemia, médicos investigam sintomas e possíveis sequelas de pacientes que já se recuperaram da COVID-19. Por exemplo, a médica norte-americana Dena Grayson, que é especializada em doenças infecciosas, viralizou em uma entrevista onde alertava para a possibilidade de homens enfrentarem quadros de disfunção erétil após se recuperarem da infecção por coronavírus.

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Para entender como a COVID-19 pode afetar o sistema reprodutor masculino, o Canaltech conversou com o urologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Thiago Seiji. Adiantamos que sim, mas, segundo ele, "os efeitos da doença em longo prazo ainda são, em grande parte, desconhecidos, e estudos científicos bem desenhados são necessários para estabelecer a dimensão desses efeitos em nosso organismo", explica o médico.

COVID-19 pode causar disfunção erétil?

"Há uma preocupação real aqui de que os homens possam ter problemas de disfunção erétil em longo prazo com este vírus [da COVID-19], porque sabemos que ele causa problemas vasculares", explicou a médica Grayson, durante entrevista à rede de televisão NBC. Nesse caso, a disfunção erétil está relacionada, diretamente, com os problemas vasculares relatados por alguns pacientes.

"Isso é algo realmente preocupante. Não é apenas que esse vírus pode te levar à morte, mas também pode, de fato, causar complicações de longo prazo, ao longo da vida", completou a médica norte-americana. No entanto, ainda não há estudos detalhados ou com um grande número de voluntários que apontem para esta relação.

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"Sabe-se que a COVID-19 pode causar um estado de hipercoagulação associado a uma resposta inflamatória intensa no organismo, de maneira que os vasos sanguíneos podem ser afetados e causar problemas de ereção no homem", afirma o urologista Thiago Seiji.

"O mecanismo da ereção masculina é complexo e depende da interação entre fatores hormonais, psicogênicos e neurovasculares. A ereção ocorre pelo enchimento de sangue dos corpos cavernosos, que são estruturas existentes no pênis. Doenças que comprometem a irrigação sanguínea dessas estruturas podem causar disfunção erétil", detalha o urologista sobre a relação entre os vasos sanguíneos, a ereção e, eventualmente, o coronavírus.

COVID-19 e doenças vasculares

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Vale lembrar que uma doença vascular é aquela que altera e afeta a integridade dos vasos sanguíneos. De forma simplificada, uma doença vascular faz com que a circulação sanguínea do corpo seja afetada, sobretudo nos braços, pernas, pés e cabeça, mas pode afetar outras partes do corpo. De acordo com alguns estudos, a COVID-19 pode ser considerada, também, vascular.

"Muitas doenças que causam comprometimento nos vasos sanguíneos, como por exemplo, hipertensão arterial, diabetes e obesidade, são condições que podem causar alterações nas artérias responsáveis pela irrigação de diversas estruturas do nosso organismo. Podem comprometer a irrigação de um membro ou do músculo cardíaco, causando amputações e infarto do miocárdio", comenta o urologista da BP.

"O processo inflamatório e o estado de hipercoagulação causado pela COVID-19, como mencionado anteriormente, podem comprometer esses vasos. Nesse sentido, a doença pode ser chamada de 'doença vascular'. O comprometimento de estruturas vasculares responsáveis pela ereção podem teoricamente comprometer a função sexual masculina", completa Seiji. Dessa forma, a fala da médica norte-americana deve, sim, ser considerada.

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Casos relatados de anorgasmia

Em artigo publicado na revista científica Prehospital and Disaster Medicine, médicos detalharam o caso de dois pacientes que sofrem com anorgasmia, após a recuperação da COVID-19. A disfunção é conhecida por impedir ou gerar muita dificuldade para que o paciente chegue até o orgasmo durante a relação sexual. É importante ressaltar que não se trata de disfunção erétil, mas afeta da mesma forma o desempenho sexual de pessoas que se recuperaram da infecção por coronavírus.

"Este relato de caso apresenta a evolução clínica de dois pacientes do sexo masculino com COVID-19 que desenvolveram quadro de disfunção sexual, como anorgasmia, após recuperação da infecção", explicam os autores do relato. Além disso, "nenhuma evidência de replicação viral ou envolvimento inflamatório pôde ser identificada nos órgãos urogenitais desses casos", ou seja, a infecção não contaminou, até o momento, os órgãos reprodutores dos pacientes.

"No entanto, os efeitos de longo prazo da infecção com SARS-CoV-2 na disfunção sexual são desconhecidos", apontam os autores. Nesse sentido, eles também defendem uma necessidade de estudos mais detalhados sobre o tema. "Estudos futuros são necessários para investigar os fatores de risco conhecidos para disfunção sexual nesta população de pacientes", completam.

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Sêmen e o coronavírus

Além de casos de disfunção erétil e de anorgasmia, a infecção por coronavírus pode afetar a saúde sexual masculina outras formas e até ser um vetor de contágio, como se discute o sêmen. "Alguns artigos sugeriram a possibilidade de contaminação do sêmen pelo vírus e consequente transmissão sexual. Entretanto, existem estudos que não demonstraram a presença do RNA viral [mRNA] no sêmen de homens com COVID-19 em fase aguda ou em recuperação da doença", comenta o urologista Thiago Seiji.

Mesmo que não seja consenso a relação entre o sêmen e a transmissão do coronavírus, até o momento, há uma possibilidade de alguns casos da COVID-19 afetarem a produção de espermatozoides. "Existe a possibilidade teórica de comprometimento da irrigação sanguínea dos testículos, com comprometimento da produção de espermatozoides e do hormônio masculino", comenta Sejii. Entretanto, estudos complementares continuam sendo necessários.

Impactos psicológicos da COVID-19

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Para além de eventuais complicações causadas pelo coronavírus a partir das infecções, é inegável o aspecto social e psicológico da pandemia da COVID-19. Com medidas de isolamento, distanciamento social e o medo, quadros de depressão, ansiedade e até mesmo burnout se proliferaram, afetando toda a sociedade. Esses quadros também podem estar diretamente ligados a casos de problemas sexuais. Por exemplo, a disfunção erétil também pode ser desencadeada, a partir de causas psiquiátricas, como a depressão.

"Com certeza, os fatores emocionais têm impacto importante na saúde sexual masculina. Sabemos que fatores emocionais interferem na ereção e ejaculação. As mudanças radicais impostas pela quarentena e isolamento social, associadas ao medo e ansiedade causadas por uma doença nova e relativamente desconhecida afetam negativamente a saúde sexual masculina", aponta o urologista.

Em artigo publicado pela Revista Brasileira de Psiquiatria, uma série de pesquisadores e instituições brasileiras, como a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade de São Paulo (USP), alertaram para a importância do acompanhamento da saúde sexual durante a pandemia. "Embora o distanciamento social e a quarentena tenham sido necessários como estratégias de saúde pública, eles podem contribuir para problemas psicológicos e mentais. Há evidências de que a redução da comunicação interpessoal pode aumentar a incidência de depressão e ansiedade e exacerbar condições pré-existentes", afirmam.

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"Na verdade, solidão, negação, ansiedade, depressão, insônia e desespero foram relatados entre os casos suspeitos da COVID-19", apontam os pesquisadores. Dessa forma, além das eventuais sequelas da infecção, ainda é necessário lidar com os traumas causados pela pandemia. Nesse cenário, por exemplo, "aqueles [homens] com depressão tendem a relatar falta de libido", comentam os especialistas. Ou seja, questões sobre a saúde sexual podem acometer de diferentes formas homens, tanto aqueles contaminados pelo coronavírus quanto aqueles que não foram infectados.

"Embora nenhum estudo publicado tenha investigado diretamente as mudanças na função sexual e no comportamento durante a COVID-19, são esperados efeitos negativos na saúde sexual. Pandemias anteriores mostraram que o isolamento social associado ao medo de ser infectado reduz significativamente o contato sexual", completa o grupo de pesquisadores.

Fonte: Com informações NBC LX News