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COVID-19 | Fazer atividades físicas usando máscara é prejudicial?

Por| 24 de Julho de 2020 às 20h30

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Orna W/Pixabay
Orna W/Pixabay

Desde que a pandemia de COVID-19 veio à tona, um costume que adquirimos no dia a dia foi a utilização de máscara. Isso porque, nesse contexto, as máscaras faciais, incluindo as de estilo cirúrgico, têm sido a "melhor opção" para pessoas se protegerem de novas transmissões do novo coronavírus (SARS-CoV-2). E mesmo em meio ao distanciamento social, uma das preocupações tem sido manter os hábitos saudáveis em dia, como as atividades físicas. Com isso em mente, levantamos uma questão: fazer exercícios físicos usando máscara é prejudicial à saúde?

Para entender melhor o funcionamento das máscaras e as reações do nosso corpo ao usar máscara e fazer atividades ao mesmo tempo, conversamos com especialistas da área. De acordo com José Rodrigues Pereira, pneumologista da BP (A Beneficência Portuguesa de São Paulo), já existe evidência científica suficiente na literatura médica confirmando a eficácia das máscaras em relação à proteção contra o coronavírus. Acontece que a principal forma de contágio é por via aerógina. Então gotículas contaminadas pelo coronavírus poderiam ser inaladas por pessoas que não estivessem usando a máscara, tanto em ambientes fechados quanto ambientes externos.

A utilização das máscaras, tanto as profissionais quanto as artesanais (feitas de tecido), serve não apenas para evitar que a gente se contamine, mas também como um método de barreira para evitar que pessoas contaminadas eliminem uma quantidade grande de gotículas que possam levar ao contágio de outras pessoas.

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Segundo o especialista, quando a gente conversa num tom normal, gotículas são eliminadas dos pulmões e atingem uma distância de dois metros facilmente. Por isso que o distanciamento mínimo entre uma pessoa e outra tem sido recomendado que se respeite dois metros. Mas essas gotículas podem atingir um distanciamento maior e por isso é recomendado a utilização de máscara para tentar filtrar o maior número de gotículas possível, pelo menos as gotículas mais 'pesadas'.

Dito isso, o pneumologista alerta: "Nenhuma máscara é 100% eficaz, mas é um mecanismo a mais que a gente tem para evitar que gotículas sejam eliminadas e que a gente respire gotículas potencialmente contaminadas. Então é importante que todas as pessoas utilizem as máscaras e mantenham esse distanciamento social de pelo menos 2 metros".

Devemos usar máscara durante exercícios físicos?

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De acordo com José Rodrigues Pereira, quando a gente pratica qualquer tipo de atividade, existe uma hiperventilação, então aumenta o número de incursões respiratórias, e o ar sai com mais força e maior velocidade dos pulmões. "As gotículas que são eliminadas poderiam ter um alcance maior do que os dois metros de uma conversa normal. Existe um desconforto durante a prática física com a máscara, sem dúvida, mas dada a circunstância, a necessidade e o risco que a gente tem por conta da pandemia, a utilização das máscaras se faz necessária", recomenda o pneumologista.

O médico descreve que, durante a atividade física utilizando máscara, há um aquecimento da região onde a máscara está protegendo, a região oronasal, além de uma umidificação dessa área também. A máscara em si também acaba ficando úmida. Com isso em mente, a recomendação é levar uma ou duas máscaras junto para trocar no decorrer da atividade, uma vez que a máscara fica úmida com rapidez e perde a eficácia em relação à barreira de gotículas.

As máscaras precisam ser trocadas quando estiverem úmidas, então durante atividades do cotidiano, o médico recomenda que sejam trocadas a cada duas horas e que elas sejam higienizadas diariamente. As máscaras caseiras, de tecido, todo dia precisam ser lavadas. "Com as gotículas que a gente elimina, ela pode ficar úmida e há chance de ter algum tipo de bactéria e a gente inalar isso e causar outros tipos de problemas para o pulmão", recomenda.

O profissional ainda alerta o seguinte: "Uma grande questão é o risco para a saúde da utilização das máscaras além do pequeno desconforto, que ela pode causar. Durante a atividade física extrema, extenuante, jamais foi testada a segurança das máscaras em relação à troca gasosa dos pulmões nesse tipo de situação. Então para que a máscara não traga problemas para que a gente faça uma atividade física segura, é importante que a intensidade da atividade seja diminuída".

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No caso especificamente de exercícios aeróbicos, José conta que há hiperventilação, necessidade maior de captação de oxigênio e uma eliminação maior de gás carbônico. Ele aponta um aumento no nosso metabolismo para que haja maior liberação de energia e com isso um consumo maior de oxigênio, e é por isso que durante a atividade a pessoa fica ofegante, para que entre mais ar no pulmão, o pulmão capte mais o oxigênio, e como um subproduto dessa reação metabólica, haja uma liberação maior de gás carbônico.

José menciona que estudos anteriores com pacientes que tiveram SARS em 2003, viram que a utilização das máscaras N95 (aquelas que ficam mais vedadas no rosto) gerou um pequeno aumento na concentração de gás carbônico no sangue, mas ainda dentro do que a gente se considera uma faixa de normalidade. "Tenho visto pessoas correndo, andando de bicicleta e utilizando essas máscaras N95. Esse estudo deixou uma observação que apesar desse aumento de gás carbônico ter acontecido em níveis normais, a gente não sabe em que grau isso aconteceria caso fosse utilizado durante um exercício aeróbico. Então a máscara utilizada durante a atividade física tem que ser cirúrgica ou de preferência a de tecido, que são higienizadas em casa".

O médico também faz um alerta para a situação das pessoas que têm doença pulmonar crônica, como bronquite ou enfisema, e vão fazer uma atividade. Segundo ele, essas pessoas têm um risco maior de ter um dano funcional pulmonar, inclusive na membrana onde a troca gasosa é feita. "Então a utilização da máscara durante uma atividade física extenuante para alguém que tem já problema pulmonar, poderia trazer algum tipo de risco e de retenção de gás carbônico ou uma dificuldade maior na captação do oxigênio. Mas estou falando de uma situação realmente extrema", conclui o especialista.

Para Pedro Rodrigues Genta, também pneumologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, devido ao volume de ar respirado durante o exercício, o risco de se contaminar ou contaminar outras pessoas caso não utilize máscara teoricamente é maior. "A máscara cria uma barreira para a respiração que aumenta o esforço para respirar e pode promover mais sensação de cansaço. A resistência que a máscara promove pode reduzir a capacidade de exercício aeróbico. A diferença é no volume de ar que respiramos. Durante o exercício, o volume de ar é maior. Os pulmões recebem mais ar e sangue para manter as trocas gasosas em níveis adequados. Pode haver mais sensação de cansaço e menor capacidade de exercício. Não há risco sério".

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Faz mal para o coração?

Já para entender melhor se há consequência para o coração, conversamos com o cardiologista André Gasparoto, que explica que, quando praticamos atividade física, ocorre toda uma adaptação do sistema cardiovascular de acordo com a intensidade do esforço. De uma forma geral, aumenta a frequência cardíaca para chegar mais sangue especialmente aos músculos, e ocorre uma maior dilatação das artérias que levam oxigênio especialmente aos grupos musculares envolvidos com a atividade física, além de um aumento da pressão arterial, também proporcional ao grau da atividade.

"Não há dados para sermos categóricos em afirmar que praticar atividade física usando máscara faz mal ao coração. Ao atleta de alta performance, a nível competitivo, potencialmente pode reduzir sua capacidade física. Mas, para a imensa maioria da população que busca saúde através da atividade física, a máscara provavelmente não gera nenhum malefício ao coração", declara o profissional. André ressalta que a máscara deve estar sempre seca, e que se deve evitar levar as mãos à máscara. 

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Quanto à relação direta entre o coronavírus e o coração, o cardiologista aponta a possibilidade de lesão direta pelo vírus no sistema elétrico do coração e, com isso, frequências cardíacas mais baixas, bloqueios no sistema de condução e em alguns casos necessidade de implante de marcapasso." Ainda, por ação direta do vírus no músculo cardíaco (miocárdio), cerca de 10% dos pacientes podem cursar com inflamação do miocárdio, o que chamamos de miocardite", explica o médico.

André conta que na maioria dos casos, a evolução é satisfatória e sem grandes problemas. "Em alguns casos isso pode gerar arritmias fatais é uma deterioração grave do funcionamento do coração.
Indiretamente, em razão do efeito trombogênico da doença, existe uma maior probabilidade de infarto, especialmente nos casos mais graves da doença. Nestes casos, somados ao quadro grave da infecção pelo novo coronavírus, a possibilidade de desfecho fatal é bem alta", conclui.